Carolina Martuscelli Bori

Item

Nome Completo

Carolina Martuscelli Bori

Sobrenome

BORI

Nome

Carolina

Profissão

Pedagoga e psicóloga

Áreas do Conhecimento

Ciências Humanas

Instituição

Publicações e Obras

Referências

Link Lattes

Mais Informações

Palavras-chaves

Português psicologia
Português psicologia experimental
Português educação

Foto Principal

Local de Nascimento

Nascimento

January 4, 1924

Falecimento

December 4, 2004

Frase

“A psicologia, como toda ciência, é experimental”

Breve Resumo

Uma das primeiras psicólogas do Brasil; participou da profissionalização e da criação de cursos universitários em psicologia no país; foi presidente de honra da SBPC e instituiu diversos programas de divulgação científica em revistas, jornais, programas de rádio, dentre outros.

Biografia

<strong>Configuração familiar</strong>
Carolina Martuscelli nasceu no dia 4 de janeiro de 1924, na cidade de São Paulo. O pai dela, Aurélio Martuscelli, veio da Itália para o Brasil em 1890 e trabalhava como engenheiro fazendo terraplanagem e construindo estradas na cidade paulistana. A mãe de Carolina, Maria Teresa, era brasileira e trabalhava em uma loja de tecidos. Juntos eles tiveram 6 filhos: Carolina, Wanda, Francesco, Florinda, Adele e Nicola. O pai de Carolina faleceu ainda novo e, para conseguir cuidar dos filhos, Maria Teresa contou com a ajuda de sua mãe Fiorinda Filomena. A mãe de Carolina valorizava muito os estudos. Por isso, ela incentivou todos os seus filhos a terem uma formação universitária (Cândido, 2014).
Carolina se casou com o italiano Giovanni Bori no início da década de 1950, do qual herdou seu sobrenome, e teve com ele um filho. Contudo, poucos anos depois do nascimento de seu filho eles se divorciaram, mas Carolina manteve o sobrenome de casada (Cândido, 2014; Matos e Costa, 1998).
O valor e estímulo familiar pelos estudos fizeram com que Carolina, desde os seis anos de idade, começasse a estudar na escola alemã. Em entrevista cedida a Maria Amélia Matos e Vera Rita da Costa, Carolina contou que sempre esteve decidida a ser professora. Ela disse que essa opção pela educação foi também em decorrência da orientação que obteve ao estudar na escola da “Praça” - Escola Normal Caetano de Campos, a qual formava os alunos para serem professores (Matos e Costa, 1998). Carolina seguiu esta área de atuação também na faculdade, cursando pedagogia na Universidade de São Paulo (USP). De acordo com Cândido (2014), Carolina concluiu o curso de pedagogia no ano de 1947 e, logo em seguida, concluiu um curso de especialização na área de psicologia educacional, também pela USP.
<strong>Formação</strong>
Diferente do mundo atual, no qual encontramos muitas informações a um clique de distância, porém, naquela época, era necessário se deslocar para buscar algum conhecimento. Relembrando o período em que cursava a graduação universitária, Carolina conta na entrevista cedida à Maria e Vera que havia alguns professores muito exigentes e sistemáticos, levando-a a frequentar a Biblioteca Municipal desde o primeiro ano de estudo. Segundo ela <i> “lá era ótimo, pois encontrávamos a maioria dos livros e podíamos estudar” </i> (Matos e Costa, 1998).
Carolina Bori ampliou sua bagagem pedagógica ao se aprofundar nos estudos sobre a psicologia, tornando-se especialista neste novo ramo do conhecimento. Ela conta que foram seus próprios estudos na pedagogia que a levaram à psicologia, pois neste campo de conhecimento ela se sentiu mais segura e mais ligada ao conhecimento científico (Matos e Costa, 1998). Foi com a entrada da professora Annita Cabral na USP que, segundo Carolina, a psicologia passou a ser ensinada como uma ciência. Ela relata que a professora Annita trouxe de sua formação de doutorado, nos Estados Unidos, a base da Gestalt , que é um dos métodos de atuação em psicologia, no qual havia discussões e estudos experimentais (Matos e Costa, 1998).
Este contato com a professora Annita Cabral deu a oportunidade de Carolina se tornar professora assistente, em 1948, na USP. Sobre esta experiência, ela conta à Maria e Vera (1998): <i> “Quando eu estava no último ano de pedagogia fui convidada pela professora Annita para ser sua primeira assistente na cadeira de psicologia, que pertencia ao curso de filosofia. [...]. Eu fui a primeira e a única assistente da cadeira durante um bom tempo [...]”</i>.
No período de 1949 até 1951, Carolina cursou o mestrado em psicologia na New School for Social Research, nos Estados Unidos, sob orientação de Tamara Dembo (Cândido, 2014). Ela relembra este período contando para Maria e Vera que a New School for Social Research era <i> “uma escola que havia sido organizada por professores europeus, principalmente alemães e suíços, refugiados do nazismo. Eles eram os herdeiros da teoria da Gestalt.” </i> (Matos e Costa, 1998).
Esta etapa de seus estudos foi encaminhada pela professora Annita. Naquela época, por Carolina Bori ser sua assistente, a professora catedrática responsável pela disciplina (Annita) tinha a missão de orientar o seu assistente e escolher o lugar em que ele pudesse se aperfeiçoar para atender aos interesses da disciplina. Neste período, Carolina teve uma bolsa de estudos do <i>Institute of International Education</i>. Ela conta que durante este período pôde se aperfeiçoar em uma teoria que começou em decorrência da Gestalt, seguindo, posteriormente, seus estudos em outras linhas de pesquisa, como a Teoria de Campo. Seu interesse por esse tema era anterior ao período do mestrado, pois ela relata que ao acompanhar a literatura sobre o método Gestalt havia se deparado com os livros de Kurt Lewin, os quais abordam a Teoria de Campo (Matos e Costa, 1998). Carolina explica que, em relação a Gestalt, Lewin queria ampliar essa teoria transformando-a numa teoria do comportamento (behaviorismo).
Em 1951 Carolina defendeu seu trabalho de mestrado intitulado <i> “The Recall of Interrupted Tasks: A Review of the Literature” </i>. Neste estudo, Carolina se aprofundou nos experimentos apresentados por Kurt Lewin sobre motivação, confrontando a teoria, analisando a relação entre os dados experimentais e as propostas teóricas de Lewin (Cândido, 2014; Matos e Costa, 1998). Pouco tempo depois, em 1953, ela concluiu seu doutorado sob orientação da professora Annita Cabral, na USP, com a tese “Experimentos de interrupção de tarefas e a teoria de motivação de Kurt Lewin”. Este estudo foi uma sequência do seu mestrado, no qual ela aproveitou para expor a teoria da motivação utilizando-se de dados de pesquisas de campo que coletou durante seus estudos nos Estados Unidos (Cândido, 2014).
<strong>Atuação Profissional</strong>
Outro pioneirismo de Carolina Martuscelli Bori foi realizar trabalhos de campo. Era na área experimental que ela conseguia aplicar o rigor científico em psicologia. Uma das primeiras pesquisas de campo realizadas por ela foi publicada em 1950, e abordava o preconceito racial e social na sociedade paulistana. Além desse tema, o levantamento realizado por Gabriel Cândido e Marina Massimi (2012) destaca, dentre os estudos de Carolina Bori, contribuições sobre: o processo psicológico de criação e percepção da arte (1958); o campo da motivação (1953) e estudos sobre a personalidade (1955, 1956 e 1957).
Como pode ser observado, Carolina não se limitava a um tema único, nem mesmo a um método específico. Seu foco maior era a construção do conhecimento a partir do método científico. Dessa forma, as diversas experiências acadêmicas (teóricas e experimentais) foram cruciais para que ela se tornasse uma das pioneiras em psicologia experimental no Brasil, trazendo novas abordagens e métodos de pesquisa para o país. Contudo, por optar por uma abordagem diferente dentro da psicologia, mais preocupada em coletar dados e relacioná-los à teoria, ela teve que enfrentar a oposição de alguns colegas. Segundo a própria Carolina, naquele momento <i> “Eles nos chamavam de positivistas e isso para eles era um horror!” </i> (Matos e Costa, 1998).
De acordo com Cândido e Massimi (2012), Carolina Bori orientou mais de cem teses de mestrado e doutorado ao longo da carreira acadêmica, em diversas áreas do conhecimento, dentre elas: psicologia, física, química e fisioterapia. Para este autor: <i>“o que aproximava essas pessoas de Carolina era o ensino sob a ótica da psicologia experimental. Sua preocupação era formar pessoas e, por opção, [Carolina] não entrava como coautora nos artigos de seus alunos”</i> (Mariuzzo, 2024).
Como orientadora, diversos pesquisadores relatam a habilidade de acolher e conduzir o aprendizado de seus orientados. Para a professora Marilena Ristum, da Universidade Federal da Bahia (UFBA): <i>“Carolina tinha a habilidade de acolher o interesse de seus orientandos, mesmo que esse interesse fosse em áreas em que ela não tinha tanto conhecimento. Ela tinha uma visão de que ciência se faz com diversidade, e essa diversidade é enriquecedora”</i> (Revadam, 2024). Para tal, a habilidade de ouvir e conduzir os questionamentos de seus alunos era um diferencial.
O professor Lino de Macedo, emérito pelo Instituto de Psicologia da USP, compartilhou a experiência dele como orientado de Carolina Bori. Ele relata sua admiração pelo olhar científico da professora. Para ele:<i> “A dona Carolina era uma mestra, no sentido pleno desse termo. E quando a gente chama alguém de mestre, a gente entende que esse alguém tem discípulos. Ser orientado por Carolina era ter alguém que não era necessariamente da minha área, mas que tinha exigências, tinha rigor, tinha visão de conjunto, sabia questionar e criticar as formas de fazer pesquisa, sabia questionar o que era ser um profissional da academia. E a dona Carolina era tudo isso”</i> (Revadam, 2024).
Para Carolina Bori: <i>“a psicologia, como toda ciência, é experimental” </i>(Matos e Costa, 1998). A dedicação ao ensino e à pesquisa em psicologia experimental e comportamental fez com que Carolina se tornasse reconhecida por estes valores científicos. Por ser uma pessoa meticulosa, profundamente comprometida com a ciência e com o rigor metodológico, estava aberta a incorporar novas perspectivas. Foi por vincular uma visão progressista e científica que Carolina passou a defender a expansão dos cursos de psicologia no país, além de melhorar a formação dos psicólogos.
Sua dedicação ao ensino e à pesquisa deu a ela experiências suficientes para ter um papel central na fundação de diversos cursos de psicologia. Neste âmbito, as contribuições de Carolina Bori foram imensas. Dentro da Universidade de São Paulo suas ideias foram essenciais para a estruturação do Instituto de Psicologia. Contudo, ela precisou superar desafios, conforme ela relata em entrevista: <i>“A ideia de formar um profissional em psicologia foi mal aceita pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e demandou uma luta muito grande. Lembro-me de que a congregação da faculdade foi absolutamente contra essa proposta, alegando que a atribuição da faculdade era formar professores e pesquisadores, e não profissionais. Não se admitia profissionalização na Faculdade de Filosofia. Apenas mais tarde e por insistência dos bacharéis em psicologia é que se abriu a discussão nacional para a criação da profissão de psicólogo, que ocorreu em 1962 e por decreto”</i> (Matos e Costa, 1998).
Como relatado, as discussões acerca dos cursos de psicologia impulsionaram a profissionalização do psicólogo no Brasil. A atuação de Carolina nesta busca pela regulamentação profissional, demonstrou tamanha atitude e perseverança que, em decorrência de sua luta, Carolina Bori recebeu o registro profissional número 01, tornando-se a primeira psicóloga brasileira, em 1962 (Mariuzzo, 2024).
Já na criação do curso de psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Carolina Bori pôde inovar e colocar em prática novas metodologias de ensino que, ao longo dos anos, vinham sendo aprimoradas por ela, devido a estar sempre preocupada com a questão sobre “como ensinar?”. Este trabalho deu-lhe a oportunidade de estruturar uma metodologia de ensino personalizada, que levasse em consideração as necessidades do estudante, conhecido como Curso Programado de Aprendizado. Em um estudo intenso de um mês, nos Estados Unidos, Carolina Bori e Rodolpho Azzi se aprofundaram no método de ensino estadunidense, visitando escolas em diferentes estados daquele país. Junto com os pesquisadores Gilmour Sherman e o professor norte-americano Fred Keller, levantaram algumas questões para serem discutidas, dentre elas: - as análises de comportamento (a partir da parte empírica e experimental da filosofia <i>behaviorista</i>); - quais seriam os métodos de ensino; -as técnicas de laboratório e -os temas importantes de serem estudados. Desta forma, criaram um método de ensino personalizado e individualizado (Matos e Costa, 1998).
Tal método inovador tinha por objetivo, proporcionar aos alunos todas as condições necessárias para que conseguissem lograr êxito nos estudos. A principal condição, deveria levar em consideração o binômio tempo x velocidade de aprendizagem, ou seja, levar-se-ia em conta o ritmo de aprendizagem, respeitando-se a particularidade de cada um, tendo em vista que cada um aprende de modo e de forma diferente do outro (Matos e Costa, 1998).
Ressalta-se também, a importância de recursos materiais e humanos, necessários e suficientes, para uma aprendizagem eficaz, tais como: laboratórios equipados e funcionando, monitores para auxiliar os alunos, dentre outros. Carolina, ressalta ainda, em relação à atuação do professor, que este deve elaborar um rigoroso planejamento dos passos (pequenos passos) ou etapas a serem trilhadas, quais materiais ou recursos serão usados para determinada tarefa, dosando-os em quantidades suficientes para suprir a necessidade dos alunos (Matos e Costa, 1998).
Assim, de forma personalizada, e levando-se em conta o desenvolvimento do aluno e na medida em que ele se sente capaz, se habilita para ser testado, ou seja, para realizar uma prova. Embora este método tenha sido amplamente divulgado e utilizado nos primeiros 5 anos de sua existência, não perdurou por muito tempo, enfraqueceu. Em entrevista a Matos e Costa (1998), a própria Carolina Bori relata que o esmaecimento desse modelo de ensino ocorreu em virtude da sobrecarga de trabalho dos professores, bem como das exigências que lhes eram impostas (Matos e Costa, 1998). Ademais, em outro documento, os autores do referido método relatam que a ditadura militar também atrapalhou este projeto (Keller, Bori e Azzi, 1974).
Os desafios enfrentados por Carolina Bori perpassam a psicologia. Durante o período da ditadura militar ela estava à frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), onde ajudou a configurar a SBPC, tornando-a referência de resistência acadêmica e intelectual no país, assumindo diferentes funções, entre elas: a de primeira secretária (1973-1977), vice-presidente (1977-1981/1981-1985), presidente (1985-1989) e presidente de honra (1989). (Tomanari, 2005).
Outra pauta relevante para Carolina Bori foi a preocupação com o quantitativo e as diferentes publicações de pesquisas, incluindo-se, nesse rol, a divulgação científica, no país. O professor Júlio César de Rose, da UFSCar, orientando de Carolina Bori entre 1973 e 1981, relatou que em uma conversa particular com Carolina, indagou-lhe sobre o porquê da baixa quantidade de publicações, naquela época. Ele contou que, para a professora, <i>“não se publica porque não se tem revistas científicas aqui”. Na perspectiva dele, “esta constatação incomodava a pesquisadora e, para minimizar essa ausência, ela começou a dedicar esforços para promover os estudantes e criou várias ações para a divulgação científica”</i> (Revadam, 2024).
Em publicações de revistas científicas sobre psicologia, Carolina atuou participando em comissões e grupos de trabalho voltados ao desenvolvimento, criação e edição de revistas, tais como: "Psicologia-revista trimestral", "Temas em Psicologia", "Cadernos de Psicologia”, dentre outros (Matos e Carvalho, 1998). Em outras áreas, Maria Amélia e Ana Maria recordam que Carolina Bori fez parte da <i>Associação Interciência</i> e da comissão da revista <i>"Interciência"</i>, que possibilitam a interação entre a ciência brasileira e a de países latino-americanos (Matos e Carvalho, 1998).
Como visto, além das publicações acadêmicas, Carolina foi uma defensora ativa da educação pública e da ciência, participando de inúmeras iniciativas para a popularização do conhecimento científico. Esta atuação de Bori é relembrada por Maria do Carmo Guedes: Carolina Bori teve <i> “participação ativa na criação de periódicos e de programas de rádio e na promoção de eventos que trataram do tema [e] contribuiu provavelmente para levar informação científica mais longe do que qualquer pesquisador acadêmico neste país” </i> (Guedes, 2005).
Detalhando a atuação de Carolina Bori na divulgação científica, Maria Amélia Matos e Ana Maria Almeida Carvalho (Matos e Carvalho, 1998), relatam que foi durante a gestão de Carolina à frente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC que foram criados programas de divulgação científica, como: as revistas <i>"Ciência Hoje" </i> e <i>"Ciência Hoje das Crianças" </i>, e o programa <i>"Ciência Hoje pelo Rádio" </i>. Ademais, coordenou o prêmio Jovem Cientista, desenvolvia kits de química, física, protótipos e equipamentos para ensinar ciência (Cândido, 2014).
Adicione-se à lista de atuações de Carolina Bori, participação no Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciência (IBECC), na Estação Ciência, no Núcleo de Políticas para o Ensino Superior da USP (NUPES) e em tantos outros projetos e instituições (Matos e Carvalho, 1998). Oscar Sala relata que quando ele era Presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Cultura e Ciência (IBECC), pôde contar com <i> “a incansável e competente colaboração de Carolina” </i>. Ele relembra que Carolina criou um grupo de apoio ao professor secundário, publicando regularmente notícias de interesse para que estes fossem informados dos progressos científicos recentes. Além disso, o grupo fornecia aos professores resumos ou títulos de artigos publicados no país e no exterior e, para aqueles que solicitassem, enviavam cópias dos artigos mencionados (Sala, 1998).
Aos 80 anos, Carolina Bori faleceu em decorrência de falência múltipla dos órgãos, no dia 4 de dezembro de 2004 (Cândido, 2014). Sua trajetória ressalta uma personalidade perseverante e com forte capacidade de articulação, características que foram cruciais em sua carreira acadêmica e na luta pela regularização da psicologia no Brasil. Nesta área do conhecimento, Carolina Bori foi essencial tanto para o aprimoramento como para a profissionalização e difusão do conhecimento. Mas, como podemos observar, o legado e a influência de Carolina ultrapassaram as fronteiras da psicologia, impactando também a política científica e educacional no Brasil, especialmente em termos de desenvolvimento curricular, educação e divulgação científica. Apesar de sua natureza exigente no campo acadêmico, Carolina Bori é também lembrada por sua gentileza e por incentivar o desenvolvimento de seus alunos e colegas. A combinação de firmeza na defesa de suas ideias e de apoio ao crescimento intelectual daqueles que com ela conviviam, tornou-a uma figura respeitada e admirada tanto nos meios acadêmicos, quanto fora deles. Os relatos a seguir, ilustram essa personalidade, seus valores e as admiráveis conquistas de Carolina Bori.

Silvio Paulo Botomé, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC):
<cite> “Para Carolina, a ciência não importava apenas como uma forma do conhecer, a sua atuação também está marcada na construção da sociedade” (Revadam, 2024). </cite>

Gerson Yukio Tomanari, professor da Universidade de São Paulo (USP):
<cite> “A sua firmeza mesclada a serenidade e doçura eram impressionantes [...]. A convivência com ela era marcada pela seriedade com que sempre ouvia e falava; nada parecia inconsequente ou trivial” (Tomanari, 2005). </cite>

Aziz Nacib Ab’Saber, Instituto de Estudos Avançados – USP:
<cite> “Seu segredo pessoal dependeu sempre de atributos humanos que não são dados a ser generalizados para qualquer pessoa, tais como: altruísmo, serenidade, conhecimento meditado, simplicidade e comedimento, razões pelas quais veio a ocupar um lugar muito especial na comunidade científica brasileira.” (Ab’Saber, 1998). </cite>

Ana Maria Almeida Carvalho, Maria Amelia Matos, Eda T. de Oliveira Tassara, Maria Ignez Rocha e Silva e Deisy das Graças de Souza:
<cite> “Uma imagem que pode representar a atuação de Carolina é a de um ponto de luz, uma estrela, cujo núcleo, constituído por sua consciência e coerência em relação ao papel da ciência e dos cientistas na sociedade, se irradia em inúmeras direções de atuação. [...] caracteriza-se antes por sobriedade, moderação, discrição, muito trabalho e pouco alarde.” (Carvalho, et. al, 1998). </cite>

Gilberto Velho (Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro):
<cite> “Carolina encarna admiravelmente o papel de intelectual humanista cuja atividade é inseparável de uma visão ética de mundo. Sua atuação no período do regime militar foi sempre uma referência de ponderação e firmeza. Nos anos que se seguiram, manteve uma postura de democrata independente, voltada para a atividade científica, mas jamais desligada da questão social” (Velho, 1998). </cite>

Carolina Martuscelli Bori completaria 100 anos de vida em 4 de janeiro de 2024. Para homenagear seu centenário, foi lançado pela SBPC, o <strong>Memorial Carolina Bori</strong>. Este material reúne sua biografia, fotografias e depoimentos de pessoas que a conheceram, bem como uma árvore genealógica acadêmica com uma linha do tempo de pesquisadores que foram formados por ela. Ademais, desde 2019 a SBPC criou a premiação com o nome “Prêmio Carolina Bori” para incentivar e homenagear pesquisadoras.

[1] Para a psicologia o termo Gestalt se refere a uma teoria (ou escola de pensamento) na qual ao estudar os seres humanos compreende que suas mentes e comportamentos devem ser consideradas como um todo. Desta forma, neste campo de análise busca-se desviar o foco de componentes pequenos e tentar compreender a relação maior e mais complexa entre as partes (Simões, 2023; Cambridge).

Prêmios e condecorações

• 1969 - Título de livre-docente pela USP;
• 1988 - Homenagem como Professora e pesquisadora - pelo Centro Regional de Pesquisa Educacional do INEP;
• 1987 - Recebeu Homenagem da SBPC;
• 1994 - Professora Emérita do Instituto de Psicologia pela Universidade de São Paulo;
• 1998 -1º Título de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe Grã-Cruz;
• 1999 - Prêmio "Fred Keller" dado pela American Psicologycal Association (Divisão 25 da APA);
• 2000 - Título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília;
• 2001 - Prêmio da Society for the Advancement of Behavior Analysis pela disseminação internacional da Análise do Comportamento;
• 2003 – Título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de São Carlos;
• 2005 – 2º Título de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe Grã-Cruz (post mortem).

Fotos

Créditos

Revisão de texto

Date Issued

December 2, 2024

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