Sigismund Schlomo Freud

Item

Nome Completo

Sigismund Schlomo Freud

Sobrenome

FREUD

Nome

Sigismund

Profissão

Médico Neurologista (Psicanalista)

Áreas do Conhecimento

Ciências da Saúde

Publicações e Obras

Referências

MEDNICOFF, Elizabeth. <strong>Dossiê Freud</strong>. São Paulo: Universo dos Livros, 2008. 160 p.

Mais Informações

Palavras-chaves

Português neurologia
Português psicanálise
Português psiquiatria

Foto Principal

Local de Nascimento

Nascimento

May 6, 1856

Falecimento

September 23, 1939

Frase

Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada! (Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 27 de junho de 1882. <i>In:</i> Cartas de Sigmund Freud 1873-1939, p.10-12).
Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro (citado em VILLAMARÍN, Alberto J. G., Citações da Cultura Universal‎, AGE, 2002, p. 249).
Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra. (Freud, 2005, p. 42).

Breve Resumo

Médico de ascendência judia, desenvolveu uma extensa obra conceitual, apresentando um modelo teórico de abordagem e investigação terapêutica, conhecido como Psicanálise, propondo um entendimento das motivações do sujeito humano, descrevendo casos clínicos e método de tratamento. Recebeu, em 1930, o Prêmio Literário Goethe (Goethepreis der Stadt Frankfurt), pelos seus escritos e contribuições no campo da Psicologia.

Biografia

Não se busca julgar, defender ou criticar a psicanálise freudiana, em sendo contributiva dentre as diferentes abordagens terapêuticas psicológicas. No texto foram alinhavados alguns relatos sobre a vida e obra de Sigmund Freud, doravante citado como Sigi, pois assim era chamado por sua mãe, além do que Freud era o sobrenome familiar.
Dentre os autores citados, destaca-se Mednicoff (2008), que fez um dossiê sobre Sigi, considerando suas fases, nos âmbitos pessoal e profissional, bem como, sua a percepção sobre as vivências no Império Austro-húngaro e na Europa, e as mudanças culturais, sociais, filosóficas, políticas e econômicas. Comentou sobre a infância tumultuada, dificuldades financeiras e migração, que motivaram Sigi a cursar medicina buscando a mudança social e econômica; abordou a discriminação por alguns, por sua atividade profissional; descreveu o tabagismo e o comprometimento da saúde, como a intensa perseguição pela ascendência judia e pela indignação de Sigi ao antissemitismo.
<strong>Alinhavando condicionantes familiares e socioeconômicas</strong>

Pai de Sigi e filho do rabino Scholomo, o judeu polonês Jacob Freud, originariamente Freide, foi criado no idioma alemão, praticando as tradições judaicas, estudando o Talmude – composto pelos conhecimentos da Tradição Oral do Judaísmo. Tornou-se humilde comerciante de lã, viajava bastante, por isso mantinha contatos com muitas pessoas de diferentes culturas. Aos 16 anos, casou-se com Sally Kaner, tiveram dois filhos, Emanuel (1832) e Felipe (1836), e permaneceram casados por 20 anos, até o falecimento da esposa, em 1852 (Mednicoff, 2008).
A referida autora ainda reportou que aos 40 anos, em 1855, Jacob casou-se pela 3ª vez com Amalia Nathanson, então com 20 anos, que assim como Jacob pertencia à província de Freiberg, na Morávia (República Checa). Muito bonita, só falava iídiche - dialeto oriundo do alemão medieval, restrito aos judeus que falavam entre si nos guetos, conforme Oráculo (2016). O casal teve oito filhos, o primogênito nascido em 1856, obedecendo aos costumes da época, foi circuncidado e batizado Sigismund Schlomo Freud, em homenagem ao avô paterno, falecido dois meses antes. Os outros sete foram: Julius, em 1857, Anna em 1858, Rosa em 1860, Marie em 1861, Adolfine em 1862, Pauline em 1864 e o caçula Alexander em 1866.
Sigi, tratado por sua mãe como “meu Sigi de ouro”, não foi educado na tradição judaica, apesar de praticar alguns ritos pela influência espontânea de seu pai, considerado imponente, respeitado, mas que apesar do aspecto de sério era bem-humorado e carismático contador de histórias, o que impressionava Sigi (Mednicoff, 2008).
Ainda, reportou que Jacob faleceu aos 82 anos, em outubro de 1897, e Sigi, por ter desmaiado na entrada do cemitério, não conseguiu acompanhar o enterro, episódio que o levaria, posteriormente, a analisar de forma diferente os sonhos e lembranças de infância, ao perceber o conflito pessoal interno, decorrente da relação de amor e ódio entre ambos.
Mednicoff (2008) comentou que há poucos registros da infância de Sigi, pois ele destruiu os escritos pessoais em dois momentos: em 1885, aos 30 anos, e em 1907, aos 51 anos, respectivamente, porque não queria ser analisado. Considerado um menino forte, saudável, inteligente e muito apegado à mãe, gostava de dormir no colo dela. Tinha muito ciúme, sentindo-se mal-amado, e chorava muito para chamar a atenção da mãe grávida do 2º irmão, Julius, que faleceu de difteria quando Sigi tinha apenas 19 meses.
A industrialização agravou a condição financeira da família, obrigando-os a migrar, em 1859, de Freiberg para Leipzig (Alemanha), buscando melhorias para o comércio de lãs, o que não aconteceu. Por isso, mudaram-se novamente, no ano seguinte para o bairro judeu Leopoldstadt, em Viena (Áustria).
Sigi destacava-se na escola, sendo o 1º da classe, e em casa era privilegiado com um quarto individual, cheio de livros, onde lia avidamente sob a luz de uma lâmpada a azeite, privilégio este não dispensado aos irmãos, que estudavam à luz de velas. Era considerado o preferido pela mãe, que o estimulava a ser ambicioso.
Os irmãos de Sigi também não estudavam música, para não o desconcentrar dos estudos. Assim, Sigi reinava na família numerosa, sendo devotado pelas irmãs e seus meios-irmãos mais velhos, que o tratavam como filho, enquanto ele se portava como protetor do irmão caçula Alexander (Mednicoff, 2008).
Na infância estranhava seu meio irmão Phillip, o qual tinha a mesma idade de sua mãe Amalia, confundindo-o com seu verdadeiro pai, fantasiando aventuras e traições de sua mãe, imaginando não ser filho de Jacob. Outra situação infantil narrada pelo pai enquanto caminhava na calçada com um gorro na cabeça, um homem arrancou e jogou-o na sarjeta, gritando “judeu” e obrigando-o a deixar a calçada. Sigi questionou Jacob, que respondeu que saiu da calçada, pegou seu gorro da lama e foi embora, causando a ele uma incerteza quanto ao poder paterno. Sigi sonhava em ser ministro ou general, seu ídolo era o guerreiro cartaginês Aníbal, inimigo de Roma, conforme Perfil (2018).
Mednicoff (2008) destacou que Sigi era apaixonado pela cultura e escrituras hebraicas e estudava o Talmude, e apesar de não ser religioso, tornou-se evidente o judaísmo em sua obra. Gostava de ler Shakespeare, Schiller e Homero, na adolescência se impressionou com uma conferência do ensaio de Goethe sobre a natureza e fez citações de Goethe nos seus escritos. Vivenciava sua época comentando com o irmão caçula “Olha, Alexander, nossa família é como um livro. Tu és o caçula da família e eu o primogênito, assim nós somos as sólidas capas que devem sustentar e proteger as frágeis irmãs nascidas depois de mim e antes de ti.”
Aos nove anos, em 1865, antecipando um ano, ingressa na escola secundária Leopoldstadter Gymnasium. Teve acesso e leu o Manual de Psicologia Empírica, de Gustav Adolf Lindner, discípulo vienense de Joahann Friedrich Herbart, filósofo alemão. Nesse mesmo ano, além do trágico assassinato de Abraham Lincoln, presidente norte-americano, ocorrido em 01 de abril em Washington, Gregor Mendel, um monge austríaco, descobriu as Leis da Hereditariedade que revolucionaram a Biologia e dariam base à genética. Sigi se destacara na formação secundária, entendia latim, grego, iídiche, alemão, francês, inglês e noções de italiano e espanhol. Em cartas trocadas com o amigo de escola Eduard Silberstein, quando jovem, registrava seus interesses, ídolos e pensamentos.
<strong>Passos em Medicina, caminhada conjugal e maratona à Psicanalise</strong>

Em 1873, aos 17 anos, Sigi ingressa em medicina na Universidade de Viena, buscando uma formação e atuação não tradicionais, mas com ênfase filosófico-científica, conforme perfil curioso e inquiridor da natureza humana e influenciado por intelectuais de sua época, o que fez com que atrasasse a conclusão da graduação. Manteve contato com o evolucionista Carl Klaus, diretor do Instituto de Anatomia Comparada, defensor da teoria “A origem das espécies” de Darwin, que Sigi incorporou como modelo científico em suas matrizes (Mednicoff, 2008).
Sigi se muda para o laboratório de fisiologia e histologia do Professor Ernst Brücke da escola fisicalista de Berlim, que buscava explicar fenômenos complexos de forma simplificada, como por exemplo, descrever os fenômenos psíquicos em termos fisiológicos e os fenômenos fisiológicos em termos bioquímicos. Apreendeu o evolucionismo com Carl Klauss e o empirismo com Ernst Brücke, os quais se tornaram basilares às teorias de Sigi. Nas aulas do Prof. Franz Brentano (Ramon, 2006), foram apresentadas as ideias sobre impulsos - a vontade não é racional e a consciência humana é muito superficial - teoria de Schopenhauer, filósofo alemão, a qual despertou em Sigi a ideia do inconsciente.
Sigi realizou pesquisas em neuroanatomia, na linha da psiquiatria alemã onde defendia que todos os sintomas de doenças eram associados à disfunção orgânica, buscando em causas lesionais os sintomas das doenças mentais. Produziu pesquisas, inclusive sobre a cocaína, publicando diversos artigos com destaque científico. Conforme Silva e Mednicoff (2008), entre 1877 e 1878, sem clara motivação, abreviou o primeiro nome de Sigismund para Sigmund e subtraiu Schlomo, adotando Sigmund Freud.
Decidiu que não se manteria como pesquisador e nem na área acadêmica, após graduar-se com brilhantismo em 1881, aos 25 anos (Mednicoff, 2008). Assim, logo após a graduação, iniciou atuação clínica em doenças nervosas em consultório próprio. Seu amigo Josef Breuer – médico e fisiologista austríaco a quem se tributa a idealização da psicanálise – descreveu que os sintomas neuróticos eram eliminados quando os processos inconscientes se tornavam conscientes, batizando-os de catarse, contudo não os publicou, preferiu transferi-los a Sigi, e juntos adotaram esse método com os pacientes de Sigi, discutindo os casos, as técnicas e os resultados alcançados nessa terapia. Publicaram três livros ao longo desse convívio clínico (Breuer, 2011; Mednicoff, 2008).
Em corte, para registro cronológico, Sigi então com 26 anos, em abril de 1882, conhece Martha Bernays, 21 anos, delicada e atraente, morava em Hamburgo, na Alemanha. Era neta do Rabi Isaac Bernays, o pioneiro em descrever a ortodoxia judaica moderna. Freud e Martha trocaram cartas amorosas, onde ele comentava o quanto ficava desesperado com a distância e as limitações financeiras de ambos para se casarem imediatamente. Apesar disso, secretamente ficaram noivos em 17 de junho, dois meses após terem se conhecido. Curiosidade é que mantiveram essa troca de cartas, com menor regularidade, mesmo casados, até um ano antes da morte de Sigi, que se desdobrou na busca do reconhecimento profissional para se tornar o esposo protetor e provedor, pois almejava uma vida doméstica tranquila e muitos filhos. Assim, mesmo com limitados recursos, presenteava a esposa com dinheiro para compra de vestidos ou outros bens de consumo. Agradecia por ser amado, declarava seu amor, comentava sobre desejos sexuais, carinho e vontade da troca de beijos (Mednicoff, 2008; Hernández, 2020; Melo, 2014).
Em 1885, Sigi recebeu uma bolsa para estudar e permaneceu em Paris, na França, por seis meses, com o renomado psiquiatra Prof. Jean-Martin Charcot. Essa se tornou uma experiência impactante na carreira de Sigi – o poder de sugestão mental –, vendo que Charcot criava e suprimia sintomas usando a hipnose, numa abordagem de doença emocional, a qual deveria ser tratada pela psicologia (Ramos, 2023; Mednicoff, 2008).
O Iluminismo na França contribuiu para o avanço das pesquisas sobre os transtornos mentais, como, por exemplo, a retirada das correntes dos pacientes e a liberdade dos movimentos como terapia, adotada por Philippe Pinel , tornando-se uma temática médico científica, com duas abordagens: i) inserção da “moral”, nas práticas psicopedagógicas e nas terapias afetivas; ii) tratamento físico, considerando a loucura um mal orgânico, fruto de uma lesão ou de um mau funcionamento encefálico (Mednicoff, 2008).
Assim, entusiasmado, retornou de Paris para Viena, continuando as pesquisas em histeria com Breuer, associando a hipnoterapia à catarse: através da sugestão hipnótica ao paciente, um acontecimento traumático que estivesse desencadeando a dor psíquica ou as emoções sentidas na referida ocorrência, que teria originado o mal-estar, era reativado; a forte descarga emocional (catarse) de reviver este acontecimento traumático permitiria a sua superação (Redação Psicanálise Clínica, 2019).
Em 1885, foi nomeado professor assistente de neurologia na Universidade de Viena. Em abril de 1886, instalou-se como médico particular na rua Rathaus nº 7. Na sequência, assumiu o departamento de neurologia da Steindlgasse, primeiro instituto público para crianças doentes dirigido pelo pediatra Prof. Max Kassowitz. Em 1887, Sigi foi eleito membro da Sociedade Médica de Viena.
Em 14 de Setembro de 1886, após quatro anos de noivado, Sigi e Martha casam-se no ritual religioso judaico, com a ajuda de amigos abastados, como Josef Breuer, apesar da discordância dos pais dela, pois Sigi era de família simples e sem posses. Sigi era amoroso e companheiro, quando em viagem sozinho comprava mimos demonstrando carinho e atenção pela esposa. Vivenciava o machismo vigente, sendo muito inseguro e ciumento, ressaltando que a vida dela seria focada no lar, mantendo a casa limpa e organizada, administrando e supervisionando todos os detalhes quanto aos filhos e proporcionando uma vida tranquila para que ele pudesse trabalhar e produzir, mantendo-se silente e deixando Martha na sua sombra. Tiveram seis filhos, praticamente um a cada dois anos: Mathilde em 1887, Jean-Martin em 1889, Oliver em 1891, Ernst em 1892, Sophie em 1893, e Anna em 1895. Permaneceram casados até a morte de Sigi (Mednicoff, 2008; Hernández, 2020; Melo, 2014).
A parceria com Breuer foi interrompida ao divergirem quanto às recordações infantis de sedução e uso da hipnose, pois Sigi defendia que as pacientes seriam seduzidas e abusadas quando crianças, desencadeando os sintomas da histeria. Posteriormente, Sigi comentou que Breuer estava certo ao afirmar que essas memórias eram apenas fantasias infantis. Sigi ampliou e aperfeiçoou seu conhecimento sobre hipnose, aditivando as diferenças conceituais entre Bernheim e Charcot, acrescentando essa terapia aos recursos médicos habituais, tais como: banhos mornos; massagens; clinoterapia - repouso no leito; pequenos estímulos elétricos; sedativos e calmantes, usando-os para o tratamento dos transtornos neuropsicológicos (Mednicoff, 2008).
Mednicoff (2008) registra que posteriormente ao uso da hipnoterapia, lendo o livro “Como se tornar um Escritor Original em Três Dias”, ensaio publicado em 1823 por Ludwig Borner, Sigi desenvolveu o método da Associação Livre, e adotou-o no consultório, propiciando a “livre associação de ideias”, permitindo possível acesso às repressões inconscientes das suas pacientes histéricas. Assim, deixa a atividade como médico para atuar como psicanalista, adotando de forma pioneira o termo psicanálise.
Ainda, a referida autora, reportou que Sigi defendia que o ser humano é movido pelo inconsciente e desenvolveu as teorias e seus tratamentos, nos quais o laboratório e o divã serviram como instrumentos no intuito de compreender os pacientes e, concomitantemente, fazer uma autoanálise de seus sonhos e fantasias. Para tal, mantinha como suporte emocional a troca de correspondências com o amigo íntimo Wilhelm Fliess (1858-1828), médico otorrinolaringologista, hipnoterapeuta, que além da Medicina, se dedicava à Biologia, Antropologia, Matemática, Literatura e Artes.
Ressignificando seus conteúdos infantis reprimidos e entendendo o que se passava com os pacientes, Sigi foi estruturando a psicanálise num período longo, sofrido e solitário de 10 anos, onde trabalhava, publicava seus achados e escandalizava Viena. Apareceram poucos interessados a quem transmitir conhecimentos. Formou-se a Associação de Psicanálise de Viena, com novos integrantes, incluindo Carl Jung, que em momento de afrontamento se afastou deste ciclo psicanalítico, desenvolvendo teoria própria. Sigi continuou ajustando suas teorias, ao mesmo tempo em que enfrentava o abandono de alguns seguidores e melhor refino conceitual de outros, os quais adotaram a psicanálise nos seus consultórios e disseminaram essa prática em âmbito mundial (Mednicoff, 2008).
A autora ressaltou que Sigi valorizava sua identidade judia, preservando as tradições, calendário, comidas típicas, iídiche etc., como requisito ao caráter dele, forjando uma coragem pela segregação imposta pelo Nazismo. Participou por 30 anos da Bnei-Brith (instituição judaica secular voltada para a defesa dos direitos humanos) e foi grato pelo acolhimento recebido quando foi rejeitado pelas pesquisas sobre sexualidade infantil. Defendia que a religiosidade não era saudável, que tinha como função ajudar o ser humano a satisfazer na imaginação o que não podia ser feito na realidade; com isso, a religião dava à criança uma ilusão de estar protegida por um pai bondoso. Sigi considerava-se um judeu ateu, por isso, proclamava sua vergonha em admitir que não mantinha ligação de fé ao judaísmo, nem de orgulho e nem de cidadania. Ele dizia que eram forças emocionais desconhecidas, contudo entendia que negar sua ascendência não seria saudável, pela privação psicológica de conteúdo. Escreveu sobre religião e cultura em três livros: O Futuro de uma Ilusão (1927); Mal-estar na Civilização (1929); Moisés e o Monoteísmo (1939), sua última obra.
Para Mednicoff (2008), Sigi era inseguro, inibido, possessivo, ciumento, conservador em relação às mulheres apenas nos serviços domésticos, metódico com hábitos pessoais muito rígidos, era movido por desafios intelectuais, com temperamento dominador e autoritário, preferia discípulos ao seu redor e era criticado pelo desprezo às pessoas que o desinteressavam. Escritor talentoso e pensador revolucionário. Apesar de ser considerado pessimista, era bem-humorado como seu pai e citava amplo repertório de piadas judaicas nas palestras na Bnei-Brith. Em vida, se manteve ativo como terapeuta e pensador corajoso, determinado e desbravador. Nem o autoritarismo nazista o curvou em seu orgulho, conforme documento nazista onde relatou haver sido bem tratado e que foi obrigado a assinar para sair da Áustria: “Recomendo calorosamente a Gestapo para todos”.
<strong>Curiosidades sobre Sigi (Mednicoff, 2008)</strong>

• Manteve rotina profissional durante 50 anos, no andar inferior de sua casa na rua Bergasse n. 19, em Viena (consultório, sala de espera e escritório particular), onde atendia em sessões terapêuticas de 55’ das 8h00 às 13h00, seguindo-se o almoço em família no andar superior, onde vivia; caminhava após o almoço, quando comprava seus charutos favoritos; conforme Tancredi essa casa tornou-se Museu Público, onde se encontram fotos, objetos e móveis;
• Estima-se que tenha tratado mais de 500 pacientes;
• Praticava atividade físicas (nadava, patinava e caminhava muito e rápido); gostava de viajar e colecionava cerca de 2500 artefatos arqueológicos; mantinha algumas estatuetas gregas, romanas e egípcias no consultório, que o tranquilizavam e remetiam aos vestígios reveladores da natureza humana; comentava que conhecia mais arqueologia que psicologia; alegava que essas atividades exploravam as camadas do solo e da mente, respectivamente;
• Como lazer jogava xadrez e paciência; gostava de assistir às óperas de Mozart, destacando-se “Don Giovanni” e “Carmen de Bizet”;
• Fumava cerca de 20 charutos longos por dia e manteve o tabagismo por 50 anos; defendia que era uma forma de estabelecer relações pessoais; não abandonou o vício mesmo após a detecção do câncer e de diversas cirurgias; não tratava disso em sua autoanálise; associava sua capacidade de trabalho à possibilidade de fumar; numa das cartas para Martha, comentou que “Fumar é indispensável se não se tem nada para beijar”;
• Buscando efeitos medicinais, usou cocaína para relaxamento com relativa tranquilidade e segurança, fazia uso recorrente também noutras situações inibitórias para vencer a timidez, registrando tudo em carta para a esposa que não o repreendia;
• O livro “A Interpretação dos Sonhos” publicado em 1899, foi datado como impresso em 1900, para associá-lo ao século XX;
• Há indícios de que tinha dificuldade de olhar nos olhos das pessoas, assim adotou o divã, justificando que se adequava à sua personalidade e que a adoção por outros dependeria dos perfis do terapeuta e paciente;
• Entre 1915 e 1938, foi indicado 12 vezes ao Prêmio Nobel de Medicina e uma vez ao Nobel de Literatura, não conquistando nenhum; os críticos alegaram que a psicanálise não tinha cientificidade; Albert Einstein recusou apoiar a indicação, alegando não ter certeza sobre os achados (Marasciulo, 2020);
• Consta apenas um único registro de Sigi, gravado pela rádio BBC em sua casa, em dezembro de 1938, já com saúde debilitada, transcrita a seguir: “comecei minha atividade profissional como um neurologista tentando trazer alívio aos meus pacientes neuróticos. Sob influência de um amigo mais velho e por meus próprios esforços, descobri novos fatos importantes sobre o inconsciente na vida psíquica, o papel de necessidades instintivas, e assim por diante. Dessas descobertas, surgiu uma nova, a psicanálise, parte da psicologia, e um novo método de tratamento de neuroses. Tive que pagar muito caro por essa boa sorte. As pessoas não acreditaram em meus fatos e achavam que minhas teorias eram desagradáveis. A resistência era forte e incansável. No fim, eu fui bem-sucedido em conseguir pupilos e construir uma Associação Internacional de Psicanálise. Mas a luta ainda não terminou” (Marasciulo, 2020);
• A filha dele, Anna Freud (1895-1982) adotou as carreiras de psicanalista, psiquiatra e escritora, similares às do pai (Ramos, 2023).
<strong>Saindo de cena e legado</strong>

Diagnosticado com câncer no maxilar, devido ao Tabagismo, Freud escondeu a doença dos amigos e familiares que o advertiam a parar de fumar. Submeteu-se a cerca de 30 cirurgias a partir de 1923, conforme Amigo (2021), o que ocasionou a retirada de parte do maxilar e do palato do lado direito. Colocaram uma prótese que dificultava a fala e causava-lhe dores marcantes, porém, apesar de tudo, ele se manteve produtivo e trabalhando (Mednicoff, 2008).
A autora ainda pontua que com a ascensão de Hitler a chanceler do Reich em 1933, Sigi foi perseguido nos seus derradeiros seis anos de vida e teve a sua biblioteca particular e os livros queimados em praça pública e teve os bens confiscados pelos nazistas. A Gestapo invadiu a casa onde morava há 42 anos, prendeu e interrogou a filha dele, Anna, durante um dia. Apesar dos conselhos dos amigos de várias partes do mundo, recusou-se a fugir. Conforme Frazão (2023), nessa época, Sigi trabalhava em colaboração com Anna, numa obra dedicada à análise da personalidade de Hitler.
No ano anterior à morte dele, ocorrida em 1938, ao retornar da radioterapia, que fazia duas vezes por semana, foi recebido em casa por oficiais da Gestapo, os quais proibiram-lhe de trabalhar e escrever. Com isso, Sigi tentou migrar com a família de Viena (Áustria) para Londres, na Inglaterra, tentativa que resultou infrutífera, pois além do confisco do passaporte, houve também, pelos nazistas, um pedido de resgate, cujo valor era exorbitante e do qual ele não dispunha no momento. Apesar de todo o esforço envidado pelo círculo de psicanalistas, o montante arrecado foi insuficiente. Recorreram, então, à princesa Maria Bonaparte, ex-paciente e esposa do rei Jorge da Grécia, que doou a quantia de 250 mil xelins. Contudo, ao perceber a quantidade de amigos e de admiradores poderosos que participaram da arrecadação, a Gestapo aumentou o valor do resgate.
Então, o presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Delano Roosevelt, interveio junto ao embaixador alemão e dessa feita, contornou a situação e evitou a chantagem. Após o pagamento do resgate, Sigi resolveu viver por um curto período na casa n. 20 em Maresfield Gardens - em Hampstead, a qual, em 1986, tornou-se o Museu de Freud em Londres (Tancredi). Nesta mesma casa veio a falecer aos 83 anos, em 23 de setembro de 1939. Foi cremado no Crematório de Golders Green, naquela cidade. A filha dele, Anna, também psicanalista, permaneceu morando e atendendo pacientes infantis nessa casa por 44 anos. Quatro das irmãs de Sigi não sobreviveram ao campo de concentração.
<strong>Vamos Refletir?</strong>

A psicanálise integra as muitas vertentes do arcabouço terapêutico psicológico, com suas contribuições e críticas, a depender dos profissionais, da diversidade de demandas e casos, bem como das respectivas respostas dos pacientes. Alguns processos empíricos defendidos por Sigi são descritos por pesquisadores contemporâneos, como aqueles relacionados ao funcionamento do cérebro e da mente humana associados aos aspectos neurológicos e neuroquímicos, impulsos conscientes e inconscientes, influências das experiências infantis e das vivências, que compõem a personalidade e saúde mental.
Percebe-se a contribuição de Sigi no âmbito da Psicanálise discutida como corajosa e polêmica, pela associação dos fatores mentais e emocionais.
Sigi foi um desbravador, mas enfrentou as consequências de suas teorias ousadas e, por vezes, perturbadoras. Ainda hoje, a Psicanálise é fruto de polêmica e há correntes que não aceitam seus achados como científicos, inclusive pela abrangência de profissionais das mais diversas áreas poderem se habilitar como terapeutas psicanalíticos, mesmo não tendo formação em Psicologia.

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Date Issued

2023

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Capa A história por trás de Sigmund Freud SIGMUND FREUD I "A Invenção da Psicanálise" I Documentário Freud: além da alma (1962 - Dublado) Assinatura de Freud Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung, Abraham Arden Brill, Ernest Jones e Sándor Ferenczi Família de Freud, da esquerda para a direita: Paula, Anna, uma garota não identificada de vestido branco, Sigmund, Emmanuel, Rosa, Marie, e seu primo Simon Nathanson; sentado da esquerda para a direita: Adolfine, Amalia, uma pessoa não identificada sentada no chão, Alexander em uma pequena cadeira, e Jacob Freud Sigmund e Anna, sua filha Sigmund e Stephan Gabriel Freud, seu neto (filho de Ernst Freud) Retrato de Sigmund Freud