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Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros
A Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros apresenta biografias e entrevistas concedidas por personalidades científicas de relevante e notório conhecimento e que deixaram grandes contribuições para o país. A ideia é levar ao conhecimento dos brasileiros a vida e a obra desses cientistas, pouco conhecidos pela população, além de mostrar um pouco da história do Brasil.
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Marie Curie
Em um cenário de recessão social e numa sociedade impregnada de preconceito, machismo e estereótipos, nasceu numa família empobrecida pelo envolvimento nacionalista e insurgente, em 7 de novembro de 1867, em Varsóvia (Polônia) Marya Salomee Sklodowska, caçula dentre os cinco filhos de Wladyslaw Sklodowski (1832-1902) e Bronisława Bogusława Skłodowska (1835-1878). Empreendedora e corajosa, professora, pianista e cantora, para ajudar na renda familiar, a mãe de Maria transformou a residência num pensionato feminino, onde Manya (apelido familiar) costumava dormir e estudar até tarde. Local este, transformado, posteriormente, em laboratório que leva o nome da cientista. O Reino da Polônia à época vivia sob repressão do governo czarista russo, condenando Manya, suas irmãs e seu irmão a viverem em situação precária (CAMPOS, s. d.; WIERZEWSKI, 2008). Seu pai era professor, grande apreciador das ciências e cultura nacional. Fluente em diversas línguas, Wladyslaw acreditava que podia transmitir e perpetuar a cultura polonesa, mesmo no contexto da repressão russa, através do educação. Manya trilhou sua trajetória escolar no cenário onde os saberes e a cultura de raízes polonesas sofriam forte repressão do regime russo. Mudou de escola algumas vezes por iniciativa de seu pai, que nunca deixou de incentivá-la a frequentar a instituição. Pai e filha mantiveram uma relação próxima, estimulando e consolidando o interesse de Manya pela natureza e seus fenômenos (GOLDSMITH, 2005). As perdas, primeiro da irmã mais velha Zofia em 1874, acometida de tifo, e da mãe (1878), com tuberculose, impactaram a vida e convicções de Manya, mesmo frequentando a igreja Católica, teve suas crenças abaladas. Seguiu a adolescência, dedicando-se dia e noite aos estudos, concluindo o ginasial como a primeira da classe (CAMPOS, s. d.; DIAS, s. d.; FRAZÃO, 2021; GOLDSMITH, 2005). Devido ao agravamento de sintomas depressivos, a família decidiu que Manya deveria permanecer um período no interior da Polônia, na casa de parentes distantes e abastados, onde trabalhava como governanta, ajudando a pagar a formação de sua irmã, em medicina, em Paris. Vivenciou o primeiro amor alegre, doloroso e humilhante, pelo seu primo e tutorado, atraído pela inteligência e charme de Manya. Os pais dele perceberam a aproximação de ambos e desaprovaram qualquer plano de casamento com uma garota sem dinheiro e de classe social inferior. Manya retornou para Varsóvia e o namoro continuou à distância (WIERZEWSKI, 2008). Manya com 16 anos, estimulada pelo pai e para não parar de estudar, fazia algumas disciplinas na Universidade Volante de Varsóvia, organização clandestina que aceitava mulheres e cujas aulas ocorriam secretamente nas casas de professores/as e em outras instituições da capital polonesa. Continuava dando aulas particulares remuneradas, para ajudar a família e continuar ajudando os estudos médicos de Bronya, sua irmã mais velha (GOLDSMITH, 2005). Ainda, em 1891, Manya e Kazimierz decidiram pelo fim do namoro, sendo a separação trágica e marcante aos dois. Kazimierz concluiu o doutorado, seguindo carreira científica como matemático, tornando-se professor e reitor da Universidade Jaguelônica e presidente da Sociedade Científica de Varsóvia, rompido o namoro, ela retomou a ideia de estudar em Paris. Neste ano foi para Paris encontrar sua irmã, que já graduada em medicina e casada com o polonês, Casimir Dluski, que conheceu na faculdade. Manya adotou a forma francesa de seu nome, Marie, concorreu e foi aceita dentre as 23 mulheres matriculadas no curso de Ciências, na Sorbonne Université, que era gratuito à época e tinha cerca de 2.000 estudantes. Nesse período, vivenciou e superou situações que atrapalhavam seus estudos, como machismo, privação de alimentação, vizinhança agitada e barulhenta. Graduou-se em 1893 em Ciências como a primeira de sua turma e na sequência foi contemplada com uma bolsa de estudos para estudantes poloneses que se destacavam. Os 600 rublos da bolsa ajudaram Marie a se manter em Paris e a realizar o desejo de cursar Matemática na mesma Universidade, formando-se em 1894 como a segunda da turma (GOLDSMITH, 2005). Foi auxiliar do físico Prof. Gabriel Lippmann, que pesquisava eletricidade, termodinâmica, óptica e fotoquímica, destacando o processo de reprodução de fotografias coloridas, pelo qual recebeu o Nobel de Física em 1908. Ele conseguiu uma bolsa de 600 francos da Sociedade de Incentivo à Indústria Nacional para Marie desenvolver pesquisas das propriedades magnéticas de diversos tipos de aço, matéria-prima imprescindível à indústria (GOLDSMITH, 2005). A precariedade do ambiente de trabalho de Marie prejudicou o progresso de suas investigações. Um amigo de sua irmã, Bronya, que soube dos percalços pelos quais a jovem estava passando com as pesquisas sobre o aço, recomendou que procurasse um físico chamado Pierre Curie, expert em propriedades magnéticas. No primeiro encontro, eles discorreram sobre temas científicos e sociais, convergindo em muitos deles. Sobre magnetismo, o físico apresentou à cientista um eletrômetro que havia sido aperfeiçoado por ele e por seu irmão, Jacques Curie (1855-1941). Pierre não dispunha de laboratório próprio, impossibilitando a cessão de espaço para que Marie pudesse desenvolver suas pesquisas (GOLDSMITH, 2005). Pierre e Marie se aproximaram e se apaixonaram, percebendo que suas histórias possuíam semelhanças, ambos oriundos de famílias em situação econômica modesta, mas que valorizavam a educação e a ciência, e havia em sua infância/juventude vivenciado conflitos armados. Pierre a pediu em casamento, Marie relutou, pois pretendia voltar à Polônia. Pierre se dispôs a acompanhá-la, mesmo que fosse para se tornar professor de francês. Em visita de férias de verão a Varsóvia em 1894, Marie pleiteou uma vaga na Universidade Jaguelônica, sendo negada por ser mulher. Nesse ínterim, Pierre a convidou a retornar a Paris, a fim de realizar o doutorado (WIERZEWSKI, 2008). Casaram-se em 1895, sem cerimônia religiosa, passando a assinar Marie Sklodowska-Curie. O vestido azul escuro que ela usou no casamento, serviu também, por muito tempo, como uniforme de trabalho. O casal gostava muito de andar de bicicleta e de viajar, passatempos esses que ficaram rarefeitos ao longo do tempo, pois o trabalho os consumia bastante. Ao final deste ano, Pierre retornou ao seu trabalho como professor da Escola Superior de Física e Química Industriais de Paris (ESFQIP), possibilitando a Marie continuar as investigações sobre o aço. Ambos analisaram os resultados obtidos por Marie, ele ajudando-a na calibração de alguns dos instrumentos que ela utilizava. Uma piada à época, citando Kaczorowska, que comentou "que a maior descoberta de Piotr (Pierre em polonês) foi a descoberta de Marya, e a descoberta da radioatividade foi sua invenção". Marie e Pierre tiveram duas filhas, Irèna (nascida em setembro de 1897) e Ewa (nascida em 1904, falecendo em 2007, com 103 anos; tornou-se biógrafa da própria mãe). Mesmo com a cidadania francesa, Marie manteve as filhas em contato com as origens polonesas, levando-as à sua terra natal e ensinando-lhes o idioma polonês (WIERZEWSKI, 2008; MARIE, s. d.). Em 1897, Marie começou seu doutorado, pesquisando os raios emitidos por diferentes elementos químicos, investigados pelo cientista Antoine-Henri Becquerel (1852-1908). A pesquisadora passou bastante tempo aprendendo a operar o eletrômetro antes de iniciar seus experimentos. Durante dois meses, Marie escolheu diferentes minerais de forma aleatória e aferiu sua atividade elétrica, contudo não encontrou emissão de raios, estes sendo detectado posteriormente em amostras de urânio puro, usado noutras pesquisas como parâmetro comparativo. Encontrou raios no elemento Tório e pesquisou outros minerais, encontrando alguns com concentrações superiores ao urânio puro (GOLDSMITH, 2005). Em 1898, escreveu artigo descrevendo a metodologia para medição da radioatividade em elementos minerais, possibilitando novas descrições. O casal Curie registrou o peso atômico do elemento Polônio (homenagem à Polônia). Neste mesmo ano, também divulgaram a descoberta do elemento Rádio, originando o termo “radioatividade”, referente ao fenômeno de emissão de energia radioativa. A cientista considerou a hipótese de que a radiação não era o resultado da interação de moléculas diferentes, mas sim proveniente do próprio átomo e, portanto, consistia numa propriedade atômica, contrariando a suposição vigente, na qual os átomos eram partículas indivisíveis. Contudo, ela e Pierre não foram autorizados a apresentar seus escritos na Academia de Ciências de Paris, sendo apresentados por Gabriel Lippmann, ex-professor e mentor do casal (GOLDSMITH, 2005). Marie e Pierre publicaram 32 artigos (WIERZEWSKI, 2008), destacando-se aquele que abordava a função e importância do Rádio para o tratamento e destruição das células formadoras de tumores, originando-se o termo radioterapia. Em junho de 1903, supervisionada por Gabriel Lippmann, Marie defendeu o doutorado na tradicional Université de Paris, uma das mais antigas e tradicionais da Europa. Naquele mês, o casal foi convidado para fazer uma palestra sobre radioatividade na Royal Institution, em Londres, pois a descoberta da radioatividade deu início a uma nova indústria. Contudo, Marie foi proibida de falar, em decorrência do preconceito vigente à época, que restringia a participação de mulheres em atividades consideradas masculinas. Pierre apresentou o trabalho sozinho, ressaltando o papel crucial de Marie na pesquisa. Na audiência constavam representantes da elite social inglesa e cientistas como Lord Kelvin, que para mostrar respeito, sentou-se ao lado de Marie durante a palestra de Pierre, e ainda ofereceu um almoço ao casal no dia seguinte (MARIE, s. d.). Em reconhecimento ao trabalho de ambos, Pierre foi agraciado com a medalha Davy concedida pela Royal Society. Nesse mesmo ano, Henri Becquerel e Pierre Curie foram indicados e agraciados com o Prêmio Nobel de Física pela descoberta dos elementos rádio e polônio. Marie não foi mencionada na carta com suas contribuições aos vencedores. Dentre os quatro cientistas que assinaram o documento estava Gabriel Lipmann, que apesar de ciente das contribuições de Marie, aparentemente desconsiderou-a na escolha dos laureados (GOLDSMITH, 2005). Apesar das dificuldades de Marie em se estabelecer no universo científico masculino à época, o matemático Magnus Gösta Mittag-Leffler - membro do comitê do Nobel – ao saber da ausência do nome dela na carta que indicava os premiados, escreveu para Pierre, que respondeu que não aceitaria o prêmio se Marie não fosse incluída. Assim, Mittag-Leffler encaminhou esse posicionamento ao comitê, que incluiu a cientista na carta de nomeação (GOLDSMITH, 2005). Campos (s. d.) reportou que Marie foi indicada à Academia Francesa de Ciências e perdeu por um voto a eleição, resultado de uma campanha machista da época. Essa Academia aceitou mulheres somente após 1979. Em 1911, Marie foi a única mulher a participar do Congresso Solvay, estando presentes os físicos Albert Einstein, Max Planck e Ernest Rutherford. Em 1904, gestante da caçula Ewe, Marie foi nomeada assistente de Pierre na Faculdade de Ciências na Sorbonne Université, onde ela trabalhava sem salário (FRAZÃO, 2021). Em abril de 1906, Pierre morreu de forma trágica, atropelado por uma charrete em Paris. A morte de Pierre abalou Marie de forma profunda, colocando-a novamente numa fase de introspecção. Manteve-se nos afazeres domésticos e manteve-se concentrada nas suas pesquisas. Declinou da oferta de pensão oferecida pelo Ministério da Educação em vista da morte de seu companheiro, pois acreditava que devia se manter pelos seus próprios meios. Assim, aceitou a oferta para assumir a Cadeira de Física, que Pierre lecionava, tornando-se a primeira mulher a ocupar essa posição na Sorbonne Université. Continuou a pesquisar a radioatividade em suas aplicações terapêuticas, incluindo sobre o radiógrafo, desenvolvido para realização de radiografias. Ela ajudou a criar e manter a Sociedade Radiológica em Varsóvia, mas permaneceu na França. Durante a Primeira Guerra Mundial, lançou e montou na linha de frente uma instalação móvel de Raio-X e como motorista de caminhão e técnica de laboratório diagnosticava soldados com ferimentos por estilhaços (WIERZEWSKI, 2008). Marie evidenciou suas preocupações com a coletividade quando decidiu não patentear o método para determinação do peso do rádio, não recebendo os royalties devidos, permitindo assim, que qualquer membro da comunidade científica realizasse pesquisas nesse sentido (GILLISPIE, 2007; CAMPOS, s. d.). Em 1911, foi laureada com o Prêmio Nobel de Química, pelo isolamento de amostras puras dos elementos rádio e polônio (para estabelecer massa atômica), e por sua “façanha” em desenvolver um processo capaz de produzir o rádio em sua forma pura, extraída de outros minerais. Marie recebeu a notícia enquanto estava em uma conferência na Bélgica com outros eminentes cientistas, como Albert Einstein e Max Planck. Mas não foi capaz de dividir a novidade com seus pares, pois nesse mesmo momento recebeu um telegrama que dizia que as cartas que trocava com o físico Paul Langevin (1872-1946), com o qual mantinha uma relação amorosa, haviam sido divulgadas para a imprensa (GOLDSMITH, 2005). Paul, ex-aluno de Pierre, era amigo da família Curie e colaborador nas pesquisas. Após a morte de Pierre, Marie e Paul estabeleceram uma relação íntima, embora fosse casado com Jeanne, que divulgou as correspondências que mantinham em segredo. Chegando a Paris, teve as janelas da sua casa apedrejadas por pessoas que a insultavam como “destruidora de lares”, “mulher dissoluta”, “sedutora polonesa” e “judia”. Mesmo sendo a única pessoa no mundo a ser laureada com dois prêmios Nobel em áreas distintas, Química e Física, não se livrou da xenofobia, antissemitismo e misoginia vigentes na sociedade francesa e na imprensa, fatos que impactaram o cotidiano de Marie e sua família (GOLDSMITH, 2005), mas que não repercutiram da mesma forma na vida de Paul, que apesar da exposição de sua vida íntima, continuou trabalhando. Em 1920, publicou o livro La radiologie et La Guerre (“Radiologia e guerra”), no qual narra os registros de sua experiência, como auxiliar da Cruz-Vermelha durante a Primeira Guerra Mundial. Marie foi nomeada pelo braço francês da instituição como Diretora dos Serviços Radiológicos e reconhecida pelo Patronage National des Blessés (“Patronato Nacional dos Feridos”) (MARIE, s. d.). Em 1926, quando de sua passagem pelo Brasil, Marie Curie visitou as cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Na capital mineira ministrou uma conferência sobre a aplicação da radioatividade na medicina. A imprensa local divulgou intensamente o evento e dizia-se encantada com sua simplicidade e simpatia (NASCIMENTO; BRAGA, 2011). Em São Paulo, fez uma breve passagem por Águas de Lindóia para testar os efeitos das fontes radioativas lá existentes, uma das quais recebeu o nome em sua homenagem. Marie Curie foi submetida a quatro cirurgias de catarata e teve lesões nos dedos em consequência da exposição à radiação em suas pesquisas. Faleceu em 04 de julho de 1934, aos 66 anos, no sanatório de Sancellemoz (Passy, França). Foi sepultada junto a Pierre e seus restos mortais foram colocados, em 1995, no Pantheon, em Paris. Marie Curie foi a 1ª mulher a receber essa honraria (GILLISPIE, 2007). Na 2ª Guerra Mundial, Irène, filha de Marie, atuou na resistência francesa contra os nazistas, escondendo o princípio dos reatores nucleares e protegendo cientistas. A cientista integrou também a Comissão de Energia Atômica, o Comitê Nacional da União de Mulheres Francesas e o Conselho Mundial da Paz. Casada com o físico Jean-Frédéric, foram parceiros na pesquisa sobre radioatividade artificial, sendo agraciados com o Nobel de Química em 1935. Em 1946, o casal entrou para a Comissão de Energia Nuclear da França, na qual permaneceu até 1950, saindo por motivos ideológicos e políticos (CAMPOS, s. d.). Em 1922, a Liga das Nações em Genebra a incluiu na lista das 12 personalidades mais destacadas do mundo, junto com Bergson e Einstein, confiando-lhe um mandato na Comissão Internacional para Cooperação Intelectual. Uma garota modesta de Mazovia não poderia imaginar a projeção de uma carreira científica, nem em seus sonhos mais loucos. Ela visitou a Polônia novamente, no mês da sua morte (WIERZEWSKI, 2008). Há diversas obras sobre a vida da cientista, a exemplo de “Marie Curie: Life” (1987; Françoise Giroud) e “Madame Curie” (1938), de autoria de sua filha, Ewe Curie. Barbara Goldsmith escreveu “Obsessive Genius: The Inner World of Marie Curie” (2005). Em 2011, Lauren Redniss publicou “Radioactive: Marie e Pierre Curie, um Conto de Amor e precipitação”. Alguns filmes biográficos foram produzidos, como: “Madame Curie” (indicado ao Oscar em 1943); ”Les Palmes de M. Schutz” (1997); “Marie Curie: The Courage of Knowledge (2016) e “Radioactive” (2019). -
Louis Pasteur
Pasteur nasceu em uma família de artesãos. Seus bisavô, avô e pai eram curtidores – trabalhavam transformando pele em couro, na cidade de Salins (França). No início do século XIX, Napoleão Bonaparte buscou expandir seus territórios, gerando conflitos armados na Europa. Jean-Joseph, pai de Pasteur, lutou no front espanhol e, ao retornar da guerra, aproximou-se de Jeanne-Étiennette Roqui, com quem se casou e mudou-se para a cidade de Dole, em 1816. O casal criou quatro crianças: Jeanne-Antoine, Louis, Joséphine e Émilie. Enquanto único filho homem, Louis tinha posição de autoridade sobre as irmãs – traço esse bastante marcante em sua personalidade (ROBBINS, 2001). Aos quatro anos, mudou-se com sua família para Arbois, cidade onde passou sua infância e parte da juventude, criado em meio a valores compartilhados por setores da classe média francesa do período: patriotismo, trabalho duro, devoção à família e à religião. Ao terminar os estudos em Arbois, matriculou-se em outra escola secundária, em Besançon, que possuía um currículo mais completo, a fim de melhorar sua formação. Pasteur dividia seu tempo entre os estudos e uma tutoria que lhe garantia alojamento, alimentação e um pequeno salário. Mas precisou fazer os exames de conclusão do curso duas vezes para ser aprovado (ROBBINS, 2001). Decidiu continuar seus estudos na Escola Normal Superior de Paris (École normale supérieure Paris), mas passou em 15º lugar de 22 nos exames para ingresso na instituição. Sua personalidade exigente e arrogante o levou a estudar por mais um ano para conseguir uma colocação melhor. No colégio preparatório, em Paris, assistia às aulas, estudava com seu grande amigo Charles Chappuis, que conheceu na escola em Besançon, e frequentava palestras na Universidade de Sorbonne. Prestou novamente os exames e ingressou na École em 1843, onde além das aulas regulares, desenvolvia atividades em um laboratório de química (ROBBINS, 2001). Foi nesse momento que descobriu seu interesse pela pesquisa, mas sabia que essa não era uma carreira fácil, pois, na França de seu tempo, a maior parte das pessoas que continuava os estudos em instituições de nível superior acabava trabalhando para o governo ou tornando-se professora. Mas diligência e ambição foram atributos que também marcaram a personalidade de Louis Pasteur. Ao final de seus estudos na École, recusou a oferta para dar aulas em uma escola secundária e passou a trabalhar como contratado no laboratório de um de seus ex-professores de química, Antoine Jérôme Balard (1802-1876), onde começou a estudar cristalografia. A cristalografia é um ramo da química que pesquisa cristais – corpos sólidos, de forma geométrica regular, formados tanto por compostos orgânicos, quanto por compostos inorgânicos, como flocos de neve (que são cristais feitos de água). As principais substâncias com as quais trabalhou foram os ácidos tartáricos, frequentemente encontrados em vinhos (ROBBINS, 2001). Dois tipos de ácido tartárico já haviam sido isolados, mas nenhum cientista conseguia explicar por que eles tinham propriedades diferentes se sua fórmula química era a mesma. Estudando com afinco, Pasteur percebeu que os cristais de ácido tartárico podiam ter duas formas (ou simetrias) diferentes. Era isso que justificava a discrepância entre suas propriedades ópticas, ou seja, seu comportamento perante à luz. Tal descoberta lhe rendeu a atenção de Jean-Baptiste Biot (1774-1862), cientista que contribuiu muito para os estudos das propriedades ópticas das substâncias (ROBBINS, 2001). Em 1848, em meio às revoltas populares que culminaram na abdicação do Rei Louis Philippe I e na instauração da Segunda República Francesa, Pasteur perdeu sua mãe. No ano seguinte, começou a trabalhar como professor substituto na Universidade de Estrasburgo, onde também passou a cortejar Marie Laurent, filha do diretor da instituição. Casaram-se em maio do mesmo ano e a moça logo percebeu como seria a rotina de esposa de um cientista obcecado com suas pesquisas. Privada de fazer planos, já que esses costumavam ser frustrados em vista da indisponibilidade do marido, Marie deu todo o apoio necessário a Pasteur, cuidando sozinha da casa e dos filhos – Jeanne, Jean-Baptiste e Cécile (ROBBINS, 2001). Em 1852, quando o regime republicano recém-instaurado foi derrubado por Napoleão III, Pasteur tornou-se professor do quadro permanente da universidade. Continuou seus estudos buscando produzir no laboratório compostos orgânicos opticamente ativos. Ou seja, moléculas que são capazes de desviar a luz quando expostas a ela. Assim como outros cientistas que haviam tentado fazer isso, Pasteur não teve sucesso. Exausto e frustrado, pediu um período de descanso e, logo que retornou, recebeu uma proposta para ser professor de química e reitor em uma universidade em Lille, cidade para qual se mudou com sua família (ROBBINS, 2001). Lá Pasteur começou a estudar a fermentação, processo a partir do qual alimentos como vinhos e queijos são produzidos. Ele sabia que certas moléculas resultantes deste fenômeno eram opticamente ativas e acreditava que apenas seres vivos poderiam produzir tal tipo de molécula. Fez experimentos com a fermentação do leite e identificou um microrganismo que chamou de “levedura lática”, formulando a hipótese de que a fermentação era um processo realizado por seres muito pequenos, impossíveis de se observar a olho nu. Para tentar validar essa ideia, purificou as “leveduras láticas” e as adicionou em uma solução com açúcar, observando o surgimento do mesmo composto produzido na fermentação do leite, o ácido lático (ROBBINS, 2001). Posteriormente, pesquisadores estabeleceram que o microrganismo responsável pela fermentação lática é uma bactéria (do tipo dos lactobacilos) e não uma levedura (que pertence ao grupo dos fungos). Pasteur apresentou sua hipótese na Academia de Ciências de Paris, em 1857, gerando controvérsias, porque parte dos estudiosos, à época, acreditavam que a decomposição dos alimentos era um processo químico e não biológico (realizado por seres vivos). Apesar disso, a teoria de Pasteur passou a ser aceita por muitos membros da comunidade científica e pelos setores leigos da sociedade, os quais tinham contato com suas ideias através de palestras que dava e de cartas públicas que escrevia (LATOUR, 1988; ROBBINS, 2001). Quando falamos em setores “leigos” nos referimos aos membros da sociedade que não são estudiosos do tema. Mas de onde vinham esses microrganismos? Muitos acreditavam que esses seres se originavam espontaneamente, da própria matéria em decomposição. Mas Pasteur defendia que, assim como plantas e animais, eles vinham de formas de vida semelhantes. Para defender seu ponto de vista, fez experimentos que, novamente, o envolveram em intermináveis controvérsias. Em um deles, colocou caldo de carne (fonte de matéria orgânica) em garrafas de vidro esterilizadas e, após lacrar as garrafas em um ambiente também estéril, observou que nenhum microrganismo havia crescido dentro delas. Em seguida, colocou um pedaço de tecido empoeirado dentro das garrafas e observou, depois de alguns dias, o surgimento dos mesmos. Para tentar provar que esses seres microscópicos estavam no ar, desenvolveu garrafas com pescoços em formato de “S”. Através deles o ar entrava no recipiente, mas as impurezas ficavam retidas. Quando o caldo de carne entrava em contato com o material preso no pescoço, os microrganismos apareciam. Mais uma vez, diferentes críticas surgiram e apenas por volta de 1880 a teoria da “geração espontânea” foi cientificamente refutada. Para isso contribuíram outros fatores, além dos esforços de Pasteur, a exemplo do desenvolvimento de microscópios mais potentes (ROBBINS, 2001). No mesmo ano em que falou sobre a fermentação na Academia de Ciências, candidatou-se à vaga de administrador e diretor de estudos científicos na École, mudando-se para Paris. Neste emprego, utilizava seu tempo livre para fazer experimentos e promoveu algumas mudanças na instituição, concedendo que estudantes interessados permanecessem nela como pesquisadores e fundando um periódico que publicava artigos de alunos regulares e egressos. O período que se seguiu foi afetivamente turbulento para Pasteur. Sua filha mais velha, Jeanne, faleceu em 1859 e, em 1862, ele foi eleito membro da Academia de Ciências de Paris, depois de duas candidaturas recusadas. Um ano depois, nasceu Camille, que os deixou em 1865, em vista de um tumor no fígado e no mesmo ano em que o cientista perdeu seu pai (ROBBINS, 2001). Nesse período, ao estudar a fermentação do vinho, um importante produto para a França, Pasteur descobriu que se eles fossem aquecidos a uma temperatura específica por determinado tempo, durante seu processo de produção, isso reduzia em muito sua probabilidade de estragar. O aumento da temperatura prejudicava a atividade dos microrganismos decompositores da bebida. A técnica de aquecimento ficou conhecida como “pasteurização” e, mais tarde, foi aplicada à produção de outros alimentos, como queijos e leite (ROBBINS, 2001). Atualmente, os vinhos não são mais pasteurizados e sua preservação é, em geral, feita com a adição de compostos químicos, chamados sulfitos. Pasteur também atuou no combate à doença do bicho da seda, outro produto economicamente importante para a França. Montou uma equipe para investigar o adoecimento dos animais e descobriu que eles estavam sendo atacados por duas doenças causadas por microrganismos diferentes. Apesar de não terem encontrado formas de curá-las, desenvolveram algumas técnicas para sua prevenção. Mas essas foram desacreditadas pelos produtores de seda, por estudiosos do tema e por comerciantes que ganhavam dinheiro vendendo tecido importado e para quem não era interessante que as criações francesas se restabelecessem (ROBBINS, 2001). Em meio a esses estudos, a personalidade autoritária de Pasteur lhe rendeu problemas na École – alguns estudantes o acusavam de perseguição e isso culminou em sua demissão. Assumiu, assim, o posto de professor de química na Faculdade Sorbonne, mas nunca chegou a exercê-lo de modo efetivo. Em 1868, teve um acidente vascular cerebral e precisou diminuir seu ritmo de trabalho. Após a guerra Franco-Prussiana, Pasteur aposentou-se de seu cargo na Sorbonne e, alguns anos depois, retornou à École para dirigir um laboratório. Foi quando começou a se interessar pelo fenômeno da imunidade adquirida contra certas doenças. A varíola já era prevenível através de uma vacina, desenvolvida pelo médico inglês Edward Jenner, no final do século XVIII. Mas será que esse princípio funcionaria para outras enfermidades? O cientista começou, então, a estudar a possibilidade de produção de vacinas para duas patologias que acometiam animais de corte – a cólera das galinhas e o antraz (ROBBINS, 2001). Ao cultivar o microrganismo causador da cólera das galinhas no laboratório, Pasteur e sua equipe perceberam que quando galinhas saudáveis eram contaminadas com culturas mais recentes desses microrganismos, elas morriam. Já quando eram infectadas com as mais antigas, não adoeciam. A agressividade do microrganismo diminuía ao longo do tempo e galinhas saudáveis inoculadas com microrganismos menos agressivos produziam defesas contra ele, sem desenvolver sintomas graves da doença. Pasteur e sua equipe desenvolveram, assim, uma vacina contra a cólera das galinhas (ROBBINS, 2001). Tão logo tal vacina foi considerada eficiente pela comunidade científica, apesar das usuais críticas, Pasteur e sua equipe começaram a trabalhar em uma contra o antraz. Estudos de Robert Koch (1843-1910) e Casimir-Joseph Davaine (1812-1882) já haviam evidenciado que o microrganismo responsável pela doença era uma bactéria, mas a equipe de cientistas franceses observava que as culturas do antraz não se tornavam menos agressivas com o tempo. Foi quando dois pesquisadores da equipe de Pasteur, Pierre Paul Emile Roux (1853-1933) e Charles Chamberland (1851-1908), decidiram testar um novo método de atenuação de microrganismos, desenvolvido por um professor da Escola de Veterinária de Toulouse, e tiveram sucesso, criando uma vacina contra o antraz. Pela enésima vez, críticas jorraram contra os cientistas, e para tentar convencer a sociedade da eficácia da vacina, eles aceitaram fazer um experimento público. Em 5 de maio de 1881, ovelhas, vacas e uma cabra receberam a primeira dose da vacina e doze dias depois a segunda. Em 31 de maio, os animais vacinados e um grupo não vacinado foram inoculados com os microrganismos causadores do antraz. Dois dias depois, constatou-se, diante de uma multidão, que os animais vacinados estavam vivos e os não vacinados, com exceção de dois, haviam morrido. O experimento performado por Pasteur, Roux e Chamberland teve repercussão mundial e contribuiu muito para a popularização da teoria dos germes. Diversos cientistas conseguiram reproduzir os resultados, confirmando a eficácia da vacina desenvolvida pela equipe (ROBBINS, 2001). Em 1883, uma epidemia de cólera humana assolou o Egito, causando muitas mortes. Para tentarem identificar o microrganismo transmissor da doença, Pasteur enviou Émile Roux, o médico Isidore Straus (1845-1896), o professor de veterinária Edmond Nocard (1850-1903) e o assistente de laboratório Louis Thuillier (1856-1883). Mas logo depois de sua chegada, uma equipe alemã chefiada por Robert Koch também aportou no país. Os dois grupos fizeram experimentos com cobaias e autópsias em vítimas da doença, mas os resultados foram pouco animadores para os franceses. Para piorar a situação, Thuillier contaminou-se com a doença e faleceu cerca de um dia depois dos primeiros sintomas. A equipe alemã levou a melhor, anunciando que havia observado um micróbio em forma de vírgula nos corpos de vítimas da cólera. Koch partiu, assim, para a Índia, onde a doença também era bastante comum, a fim de confirmar sua hipótese. Pasteur, que nunca havia superado a derrubada da França na Guerra Franco-Prussiana, amargou três derrotas - a perda de seu assistente, o fracasso da equipe francesa e os louros levados por Robert Koch pela descrição da bactéria causadora da doença, o Vibrio cholerae. Um ano depois, a mesma enfermidade assolou a cidade de Toulon (França) e, novamente, Pasteur se viu assombrado pelos alemães. Enviou Roux e Straus para continuarem seus estudos, advertindo-os para não fazerem experimentos e observações junto com a equipe germânica, que também havia chegado a Toulon, mas Roux e Straus o desobedeceram. Em um artigo publicado posteriormente, Koch afirma que havia realizado uma autópsia junto com os cientistas franceses (ROBBINS, 2001). Pasteur e sua equipe haviam dado importantes contribuições para a produção do conhecimento sobre diferentes doenças, mas nenhuma delas acometia seres humanos diretamente. Os críticos do cientista francês, sobretudo, lhe cobravam resultados nesse sentido e, naturalmente, isso feria o ego inflado de Pasteur. Assim, começou a estudar a hidrofobia, doença popularmente conhecida como raiva, a qual afetava não somente animais, mas também pessoas. A raiva tinha um apelo social muito grande, porque, apesar de não ser frequente, provocava sintomas horríveis, como convulsões, delírios e agressividade, criando uma imagem popular grotesca de suas vítimas (ROBBINS, 2001). Mas as pesquisas com essa doença possuíam algumas dificuldades. Pasteur não conseguiu identificar seu micróbio transmissor. Aliás, isso só foi feito nos anos de 1930, com o desenvolvimento de microscópios mais potentes, capazes de detectar elementos bem menores, como os vírus que são, justamente, os agentes causadores da raiva. Mas além disso, Pasteur e sua equipe precisavam de um meio para acelerar o aparecimento dos sintomas nas cobaias. Roux foi quem encontrou a solução para esse problema. Ao infectar o cérebro de um cachorro com tecido retirado de um animal raivoso, conseguiu que os sinais da doença se manifestassem mais rapidamente. Assim, começaram a trabalhar em uma vacina contra a raiva utilizando inicialmente um método chamado “passagem em série”. A técnica, que, ironicamente havia sido desenvolvida por Robert Koch, consistia na infecção de uma cobaia saudável com material retirado de um animal infectado e assim sucessivamente. A equipe descobriu que em macacos, a doença se tornava menos agressiva a cada passagem e usou isso para criar uma vacina a partir deste princípio (ROBBINS, 2001). A vacina mostrou-se eficaz em animais, mas poderia não servir para humanos e a equipe não podia sair fazendo testes em pessoas como se fossem cobaias. Pasteur decidiu, então, aprimorá-la e depois testá-la em pessoas – afinal, segundo sua lógica, a raiva era fatal e a vacina só seria aplicada quando o indivíduo tivesse sido exposto à doença. Se funcionasse, a vítima seria salva. Se ela não fosse eficaz ou causasse complicações, o indivíduo já morreria, de todo modo. Mas, na prática, não era bem assim. Em primeiro lugar, poucas vezes se conseguia constatar se os animais que mordiam as pessoas tinham, de fato, raiva. Além disso, poucas pessoas mordidas por animais raivosos desenvolviam a doença. Por fim, a morte só era certa depois que os sintomas apareciam e, nesse estágio, havia grandes possibilidades de a vacina não surtir efeito (ROBBINS, 2001). Um dia, enquanto colocava um material na incubadora, uma máquina capaz de manter constante a temperatura de recipientes utilizados em experimentos, que Roux utilizava, Pasteur viu que o colega estava trabalhando em uma técnica que poderia ser a chave para atenuar com segurança o microrganismo transmissor da raiva. Decidiu estudar a mesma técnica e logo desenvolveu uma vacina que considerava mais confiável. Os primeiros pacientes a receberam a vacina foram um senhor e uma menina. Segundo os médicos que contataram Pasteur, ambos haviam sido mordidos por cães e estariam manifestando sintomas de raiva. O homem recebeu uma dose da vacina, mas o hospital no qual estava internado não permitiu que o tratamento continuasse. Apesar de ter tido alta da instituição, não se sabe sobre seu destino. A menina recebeu duas doses da vacina e morreu. Quase ninguém sabia sobre esses dois pacientes até que certos cadernos de laboratório de Pasteur, antes mantidos secretos, foram disponibilizados para o público, no final do século XX (GEISON, 1995; ROBBINS, 2001). A equipe continuou se empenhando em aprimorar a substância, desenvolvendo uma composição que fosse suficientemente agressiva para estimular o corpo a criar a defesa contra a doença, mas não tanto a ponto de causar danos a ele. Os pacientes seguintes foram Joseph Meister e Jean-Baptiste Jupille. Ambos receberam doses da vacina e permaneceram saudáveis. Mas a decisão de tratar Meister foi muito arriscada, pois, ao contrário de Jupille, que, sabia-se, havia sido mordido por um animal raivoso, ele não apresentava sintomas da doença e nem tinha certeza de que o animal que o atacara estivesse doente. E se ele não viesse a desenvolver a doença? A vacina, que ainda não havia sido suficientemente testada, poderia lhe causar mal ou até matá-lo. Ainda assim, muitos acreditavam que Pasteur havia encontrado a cura para a raiva. Mas essa conclusão era prematura, pois a quantidade de pacientes tratados com sucesso era muito pequena e houve outros resultados bastante ruins. Roux descobriu que um menino que havia recebido o tratamento tinha morrido de raiva e não de falência renal como indicava o relatório de sua autópsia. Para tentar evitar que as pessoas deixassem de procurar tratamento, Pasteur pediu que Roux mentisse sobre esse episódio (GEISON, 1995; ROBBINS, 2001). Pasteur ficou mundialmente conhecido e solidificou seu prestígio nacional e internacional frente a cientistas, à sociedade civil e ao governo francês. Defendia a necessidade da criação de um centro de tratamento para raiva e, assim, foi aprovada a fundação do Instituto Pasteur – uma instituição privada que seria mantida através de doações (que chegavam de todo o mundo naquele momento). O instituto seria também de ensino e desenvolveria pesquisas sobre outras doenças. Mas a saúde de Pasteur tornava-se cada dia mais frágil, impedindo que ele tivesse uma atuação mais presente na instituição. Em 1887, teve um outro AVC que prejudicou muito sua fala, afastando-o do trabalho (ROBBINS, 2001). Em 1894, ainda pôde assistir a Roux e Alexandre Yersin (1863-1943) desenvolverem um tratamento para a difteria no Instituto Pasteur, para o qual também contribuíram os trabalhos do cientista alemão Emil von Behring (1854-1917) e do japonês Shibasaburo Kitasato (1853-1931). Mas Pasteur não compareceu à cerimônia de honra justamente por conta de sua rusga com a Alemanha. Faleceu em setembro de 1895, por conta de um terceiro AVC. Foi enterrado como um grande herói nacional – seu enorme ego, certamente, não teria esperado menos. Assim como outros cientistas, Pasteur gostava de se promover e fazia isso articulando-se a pessoas e instituições com grande potencial para apoiar suas pesquisas e resultados do ponto de vista econômico, político e sociocultural. -
Isaac Newton
"Se vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes." Apesar de não ter sido um aluno brilhante, desde criança Newton gostava de inventar e construir objetos. Quando jovem, custeado pelo tio, entrou no Trinity College, em Cambridge, e graduou-se em 1665. Conhecido por seu comportamento introspectivo, entregou-se aos estudos nas mais diferentes áreas, como física, matemática, filosofia, astronomia, alquimia, teologia e astrologia. Foi nesse mesmo período que a Universidade Cambridge precisou fechar suas portas por causa da peste negra que se espalhava por toda a Europa. Na fazenda onde passou a morar, o brilhante jovem realizou inúmeras descobertas que ampliaram os horizontes da ciência, como o Teorema Binomial, o Cálculo, e a natureza das cores. Dizem que um fenômeno banal - uma maçã caindo de uma árvore - o levou a pensar que haveria uma força puxando a fruta para o chão e que essa mesma força poderia também estar puxando a Lua, impedindo-a de escapar da órbita da Terra. Muitos anos mais tarde, estudando as obras de Galileu e Kepler, além de suas próprias experiências e cálculos, Newton formulou a Lei da Gravidade Universal na qual demonstra que a velocidade com que um objeto cai, seja a maçã ou a Lua, quando é atraído pela Terra, é proporcional à força gravitacional. Essa velocidade diminui com o aumento da distância entre o objeto e Terra. O cientista inglês desenvolveu, ainda, o cálculo infinitesimal, descobriu a aceleração circular uniforme, construiu o primeiro telescópio de reflexão em 1668 e foi quem primeiro observou o espectro visível que se pode obter pela decomposição da luz solar ao incidir sobre uma das faces de um prisma triangular transparente. Decidiu, então, pela teoria corpuscular de propagação da luz, enunciando-a em 1675 e contrariando a teoria ondulatória de Huygens. Suas realizações foram inúmeras e suas obras contribuíram imensamente para a matemática e a física. As investigações experimentais de Newton tinham grande rigor matemático e, por isso, tornaram-se modelo de investigação para as ciências dos séculos posteriores. Seu livro, Principia, é considerado até hoje uma das obras científicas mais importantes do mundo. O gênio inglês foi presidente da Royal Society e sagrado cavaleiro, passando a ser chamado de Sir Isaac Newton. Morreu em 20 de março de 1726, aos 84 anos, devido a complicações decorrentes da idade considerada extremamente elevada para a época. -
Galileu Galilei
Os estudos de Galileu Galilei mudaram a ciência e influenciam a Física, a Matemática e Astronomia até os dias de hoje. Considerado um dos fundadores do método experimental e da ciência moderna, Galileu Galilei foi um dos principais representantes do Renascimento Científico dos séculos XVI e XVII. Nascido em 15 de fevereiro de 1564, na cidade de Pisa, na Itália, Galileu tornou-se físico, matemático e astrônomo brilhante. Apesar do esforço de seu pai para que ele fosse médico e de seu professor Orazio Morandi para que seguisse a carreira artística, o jovem Galileu, que amava admirar o céu e sempre procurava o sentido das coisas, interessou-se mais pela física, matemática e astronomia. Galgando seu próprio caminho, aos 24 anos Galileu tornou-se professor de matemática em Pisa. Foi quando desenvolveu a teoria de que dois objetos de pesos diferentes caíam com a mesma velocidade. Dizem que o jovem italiano teria demonstrado sua famosa teoria da Torre de Pisa, de onde jogou simultaneamente uma bola de metal e outra de madeira que atingiram o chão ao mesmo tempo. Nessa época, ele escreveu obras sobre Dante e Tasso e ainda enunciou o Princípio da Inércia. O matemático contribuiu para a ciência ao formular a lei do ’isocronismo do pêndulo’, da qual originou um modelo de relógio. Sabendo da construção do primeiro telescópio, na Holanda, ele criou a primeira luneta astronômica e, com ela, observou a composição estelar da Via Láctea, os satélites de Júpiter, as manchas do Sol e as fases de Vênus. Essas observações astronômicas foram relatadas ao mundo por meio do livro ‘Sidereus Nuntius - Mensageiro das Estrelas’, em 1610. Um dos importantes livros de Galileu foi “O ensaiador” (Il Saggiatore) publicado em 1623, que trazia assuntos de astronomia e física, e apresentava importantes opiniões e teorias sobre a realidade científica e sobre o novo método científico. Outras obras dele contribuíram para o desenvolvimento da nova física ou física moderna e levaram vários outros pensadores a se adentrarem pela física, astronomia e matemática para repensarem suas "ciências". Dois discípulos de Galileu, Vincenzo Viviani e Evangelista Torricelli, fundaram, em 1657, a Accademia del Cimento (Academia de Experiências) dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento das ciências. Visão heliocêntrica Graças aos seus estudos astronômicos, Galileu encontrou embasamento na visão heliocêntrica de Copérnico, que colocava o Sol como centro do Universo e não a Terra, como acreditava Aristóteles. Devido a essa visão heliocêntrica, o astrônomo italiano precisou ir a Roma em 1611, acusado de herege. Condenado e obrigado a assinar um documento do Tribunal da Inquisição, Galileu precisou declarar que o sistema heliocêntrico era apenas uma hipótese. Contudo, em 1632, depois de ter juntado mais evidências a favor da teoria heliocêntrica, voltou a defender a visão copernicana e publicou o livro Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo (Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo). A obra, escrita em italiano, traz, por meio de diálogo de três personagens, a discussão entre os dois modelos astronômicos. Nesse livro, Salviati, personagem persuasivo, defende o heliocentrismo, enquanto Simplício defende o geocentrismo, e Sagredo, um personagem neutro, inicialmente concorda com Simplício, mas no final termina por concordar com Salviati. O fato de Galileu escrever em italiano e em linguagem simples causou um alvoroço na época, já que era costume os intelectuais escreverem apenas em latim, língua desconhecida das pessoas comuns. Apesar de ter contraído uma infecção na vista, que o cegou progressivamente, Galileu continuou divulgando seus trabalhos. A sua última obra, "Duas novas ciências", lançou os alicerces para as descobertas de Isaac Newton e foi publicada apenas na Holanda, país suficientemente afastado da influência da Igreja. Entretanto, não admitindo mais sua insistência em confirmar a teoria heliocêntrica e por escrever e divulgar obras consideradas, na época, “potencialmente perigosas” – justamente por conter evidências científicas precisas e bem embasadas, que contrariavam a palavra de Deus –, a Igreja Católica acabou condenando-o em 1642 por suas convicções científicas. Suas obras foram censuradas e proibidas. Por 340 anos seu processo permaneceu arquivado até que em 1983, o Papa João Paulo II reconheceu os erros da Igreja e absolveu o cientista. A história de Galileu mostra que além de ser um dos maiores cientistas da história, ao longo de sua vida ele buscou divulgar a ciência nos deixando um legado inestimável. -
Charles Darwin
Considerado o pai da “Teoria da Evolução”, Charles Darwin nasceu em 1809 na Inglaterra. Filho de médico e neto de filósofo e poeta, já na infância revelou-se inteligente e observador, procurando sempre absorver tudo que lhe ensinavam. Desde pequeno se interessava pela História Natural, tanto que colecionava pedras, conchas, plantas, flores silvestres e ovos de pássaros. Aos 16 anos, matriculou-se na Universidade de Edimburgo para estudar medicina, mas acabou dedicando seu tempo a discussões sobre Ciências Naturais. Por mais curioso que pareça, Darwin, quando moço, tinha pretensões de se torna um religioso, por isso foi para Christ's College Cambridge. Depois de três anos, obteve o bacharel em Artes, mas continuou seus estudos para pastor, em paralelo a suas pesquisas. Já formado em Artes, um professor sugeriu o nome de Darwin para acompanhar o comandante Robert FitzRoy em uma expedição no HMS Beagle pelo Hemisfério Sul. Ao longo de uma viagem de cinco anos, o cientista pode explorar as costas da América do Sul (Brasil, Patagônia, Terra do Fogo, Chile e Peru), e algumas ilhas dos mares do Sul. Suas minuciosas observações resultaram em um rico diário de zoologia, geologia e outras tantas notas sobre as experiências vividas pelo naturalista. O diário serviu depois para Darwin escrever um de seus famosos livros, conhecido hoje como A viagem do Beagle. Teoria da evolução das espécies: A partir de seus estudos e da coleta de diversos organismos ao longo da viagem pelo Hemisfério Sul, o cientista começou a se questionar sobre o surgimento das espécies e surgiram perguntas como “de onde vêm as novas espécies?”, “por que existiam tantas diferentes espécies no mundo?”, “por que alguns animais eram tão parecidos e outros tão diferentes?”, “por que as espécies se diferenciavam tanto apesar de viverem ambientes semelhantes?”. Tais questões inquietavam tanto a mente de Darwin que, quando voltou ao Reino Unido – já com uma sólida reputação de geólogo e naturalista, ele se debruçou nesses questionamentos acerca da origem das espécies e chegou à conclusão de que a vida era infinitamente variável. Em uma época em que se acreditava que os animais foram criados como eles eram vistos, Darwin falou em evolução. Depois de muitos anos de pesquisa, o naturalista publicou um dos livros mais importantes da humanidade Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida, que acabou abreviado para “A Origem das Espécies”. Cabe ressaltar que esse livro teve sua primeira edição esgotada em um dia e influenciou radicalmente as teorias das ciências biológicas da época, mudando totalmente a perspectiva que as pessoas tinham da história do mundo e do ambiente em que viviam. Depois de casar-se com sua prima Emma Darwin, em 1839, o naturalista inglês começou a trabalhar ativamente em suas pesquisas, deixando grande contribuição científica por suas obras: “A Variação de Animais e Plantas Domesticadas”, “A Descendência do Homem”, “A Formação do Húmus Vegetal pela Ação dos Vermes”, “O Poder do Movimento das Plantas”, entre outras. Darwin morreu em 1882, com aos 73 anos, não se tendo certeza da doença que o acometeu. Ele foi enterrado na abadia de Westminster, um privilégio para poucos. Apesar dos seus livros terem gerado debates e muitas controvérsias na época, hoje o evolucionismo darwinista é a base das ciências biológicas contemporâneas. -
Antoine Lavoisier
Considerado um dos maiores cientistas da história, Antoine Laurent de Lavoisier nasceu em Paris, em 1743. Conhecido por muitos como o pai da Química Moderna, Lavoisier recebeu desde cedo uma boa educação no colégio Mazarin. Aos 22 anos, ganhou medalha de ouro da Academia de Ciências por um projeto de iluminação para as ruas de Paris, e, aos 25, foi eleito membro da prestigiosa Academia Real de Ciências da França. Ainda aos 25 anos, o químico francês tomou uma decisão que lhe custaria a vida futuramente: associou-se à Ferme Générale – uma sociedade privada que tinha o direito de cobrar impostos em nome da coroa francesa. Aos 26 anos, conheceu Marie Anne Pierrette Paulze (1758-1836), que era filha de um dos sócios majoritários da Ferme Générale, e casou-se com ela em 1771. O casamento transformou-se em uma grande união para ambos, já que Marie Anne auxiliava Lavoisier em suas pesquisas e traduzia trabalhos científicos e filosóficos. Notório por seus pares por fazer observações detalhadas de suas pesquisas, Lavoisier planejava cuidadosamente seus experimentos, medindo a massa dos materiais antes e depois das transformações químicas. As principais descobertas de Lavoisier foi a do oxigênio e a da relação entre respiração e reação de combustão. Depois de incontáveis experiências, ele conseguiu demonstrar que o novo gás descoberto era necessário para que ocorresse a combustão, ou seja, sem o oxigênio não haveria a queima. O químico apontou ainda que esse gás era parte do ar atmosférico e era o que respiramos. Tais descobertas causaram uma verdadeira revolução na época, já que desbancaram a teoria do flogístico, que dizia que toda substância inflamável continha esse fluido misterioso, perdido no momento da combustão. Ao longo de sua vida, ele propôs a Lei de Conservação da Massa ou Lei de Lavoisier, a qual mostrava que, nas reações de combustão, as massas de todas as substâncias envolvidas permaneciam inalteradas. A massa que ele havia pesado no início, antes da reação, era a mesma do final desde que a reação fosse feita em um recipiente fechado. Com isso, ele chegou à sua famosa Lei que diz que, em uma reação química, a massa dos reagentes é igual à massa dos produtos. Hoje essa lei é mais conhecida pelo seguinte enunciado: "na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma." Em 1789, Lavoisier publicou a obra Tratado Elementar de Química, que fornecia uma nomenclatura moderna para 33 elementos. Isso foi importante porque antes a alquimia usava uma linguagem obscura para referir-se aos elementos. Lavoisier teve um fim trágico infelizmente, já que nesse mesmo ano de 1789 ocorreu a Revolução Francesa, que derrubou a ordem política existente. O povo rebelou-se contra os excessos da coroa, e os membros da Ferme Générale foram considerados inimigos. Preso em 1793, acabou sendo guilhotinado em 1794, aos 51 anos, em plena Place de la Révolution em Paris, atual Place de la Concorde. -
Albert Einstein
<strong>Vínculos familiares e formação</strong> Hermann Einstein e Pauline Koch, ambos judeus alemães, casaram-se em 1876. No terceiro ano do casamento nasceu o primogênito Albert Einstein em Ulm (Alemanha), e após seis semanas, a família mudou-se para Munique, onde Hermann e seu irmão mantinham uma oficina/fabriqueta de eletroquímica. Dois anos depois, Albert ganhou sua querida irmã Maja Einstein (FRAZÃO, 2022; OLIVEIRA, 2010; GILLISPIE, 2007). Aos três anos, Albert apresentava dificuldades na fala, por isso foi tratado por uma empregada como der Depperte (estúpido) e alguns familiares o consideravam “quase-retardado”. O aprendizado lento e a rebeldia no ambiente escolar, resultaram em sua expulsão por um professor e em comentários de que ele não seria grande coisa na vida, tornando-se referência como padroeiro mundial dos alunos desatentos (ISAACSON, 2007). Aos quatro anos, iniciou seu interesse pela ciência no ambiente familiar, com a bússola presenteada por seu pai. Entre os cinco e oito anos, iniciou a formação básica em escola católica, sendo transferido para o Luitpold Gymnasium (Munique; atualmente Albert Einstein Gymnasium), onde concluiu o ensino fundamental, enfrentando o autoritarismo da escola alemã, antissemitismo e distúrbios de fala, possivelmente consequências de dislexia (transtorno cognitivo, caracterizado pela limitação da leitura, escrita e soletração (ALBERT, s. d.¹; BEZERRA, s. d.; SANTOS, 2000a; citando FOLSING, 1997; GILLISPIE, 2007). Diferente das outras crianças, preferia construir, sozinho, complicadas estruturas com cubos de madeira e grandes castelos de cartas de baralho, sendo estimulado desde os seis anos, por sua mãe, a aprender música clássica e violino, hábito que manteve durante a vida. Admirava Mozart, possivelmente associando sua música à harmonia do universo. Aos sete anos, demonstrou o teorema de Pitágoras, para surpresa do seu tio Jakob, que poucos dias antes lhe ensinara os fundamentos da geometria (GILLISPIE, 2007). Por dificuldades financeiras, sua família se transferiu para Milão na Itália, enquanto Albert permaneceu em Munique. Sentindo-se sozinho e desagradado abandonou a escola aos 15 anos, indo ao encontro da família, para ficar à toa. No ano seguinte, seu pai informou que não podia sustentá-lo (SANTOS, 2000a; citando LEVY, 1980, p. 24; GILLISPIE, 2007), então, decidiu cursar física. Entretanto, como não tinha concluído o ensino médio, não podia entrar na universidade. A alternativa seria realizar o curso técnico, tendo optado pela mais renomada instituição da Europa Central, a Escola Politécnica Federal (ETH = Eidgenössische Technische Hochschule; Zurique - Suíça). Em 1895, aos 16 anos (dois anos antes da idade normal), submeteu-se à seleção, mas foi reprovado em botânica, zoologia e línguas modernas, destacando-se em matemática e física. Aconselhado pelo diretor a terminar o ensino médio que havia interrompido, foi à Escola Cantonal de Aarau (Suíça) (CRAWFORD, s. d.; SANTOS, 2000a). Recomendado pelo Diretor da ETH, hospedou-se na casa de um professor de história e grego, Jost Winteler e sua esposa Rosa, a quem Albert chamava de Mamerl (mamãe), e Marie (filha; 18 anos) que foi sua 1ª namorada (ISAACSON, 2007). Albert sentia-se feliz em ambiente escolar livre e motivador, onde estudava um problema irresolvível junto com seu professor, sobre o aspecto que teria uma onda luminosa para alguém que a observasse viajando com a mesma velocidade. A solução viria posteriormente com o postulado da teoria da relatividade (CRAWFORD, s. d.; SANTOS, 2000a). Com receio de ser convocado para servir o exército alemão, perspectiva que contemplava com pavor, Albert pediu ajuda ao pai para renunciar à cidadania alemã (ISAACSON, 2007). A dispensa militar foi oficializada em janeiro de 1896, e Einstein permaneceu apátrida por um período. Ao concluir o ensino médio em 1896, submeteu-se novamente à seleção na ETH e ingressou no curso de matemática e física, foi morar no alojamento estudantil, recebia uma mesada de cem francos suíços, que era dada pelos parentes da família de sua mãe. Pensando em ensinar, ficou decepcionado com a ETH, onde os professores apenas liam livros. Faltava as aulas compensando com a leitura das obras de Boltzmann, Helmholtz, Hertz, Kirchhoff, Maxwell, entre outros grandes físicos e matemáticos da época. Não era muito bem-visto pelos docentes, como se pode verificar pelo comentário do Prof. Minkowski sobre a teoria da relatividade: "para mim isso foi uma grande surpresa, porque na época dos seus estudos Einstein era um preguiçoso. Ele não demonstrava qualquer interesse por matemática" (SANTOS, 2000b; citando FEUER, 1978, p. 94). Contemporânea na graduação, conheceu e namorou a sérvia Milena Maric, colega de graduação e única mulher do curso (BEZERRA, s. d.), a qual viria a ser sua esposa e mãe de seus três filhos, uma filha não reconhecida e dois filhos reconhecidos. Além dos estudos, Einstein também participava de um grupo, denominado Academia Olímpia, não qual se abordavam temas de filosofia e ciência. Nesse cenário, um dos assuntos que se discutia era o socialismo em clima de liberdade, pois Zurique era berço de três grandes revoluções europeias na chegada do século XX, entre elas: o marxismo; a psicanálise; e a física moderna, nesse meio circulavam Lenin, Trotsky, Plekhanov, considerado por alguns o grande mentor da revolução soviética, Rosa Luxemburg, Théodor Herzl (fundador de Israel), Chaim Weizman -1º presidente de Israel. (SANTOS, 2000b). Em 1900, concluiu a graduação, mas ficou desempregado, por isso teve que trabalhar por dois anos, ora dando aulas particulares, ora substituindo professores. -
Rosalind Elsie Franklin
<strong>Laços familiares e formação básica</strong> Berger (2014), principia a percepção dele sobre a vida de Rosalind comentando que “É duvidoso que qualquer outra mulher cientista tenha sido causa de tanto debate e controvérsia”. Rosalind nasceu em família judaica britânica, que se estabeleceu na Inglaterra em meados do século XVIII, considerada economicamente abastada e socialmente influente. O pai dela, Ellis Arthur Franklin, entre 1894-1964 foi sócio do Keyser's Bank e da editora Routledge & Kegan. Considerado politicamente liberal, ensinava no período noturno eletricidade, magnetismo e a história da 1ª Guerra Mundial no Working Men's College, onde se tornou vice-diretor. Sua mãe, Muriel Frances Waley (1894-1976) concebeu cinco filhos, David, nascido em 1919 era o primogênito, Rosalind foi a segunda, depois vieram Colin nascido em 1923, Roland nascido em 1926 e, por último, a caçula Jenifer nascida em 1929. -
Sigismund Schlomo Freud
Não se busca julgar, defender ou criticar a psicanálise freudiana, em sendo contributiva dentre as diferentes abordagens terapêuticas psicológicas. No texto foram alinhavados alguns relatos sobre a vida e obra de Sigmund Freud, doravante citado como Sigi, pois assim era chamado por sua mãe, além do que Freud era o sobrenome familiar. Dentre os autores citados, destaca-se Mednicoff (2008), que fez um dossiê sobre Sigi, considerando suas fases, nos âmbitos pessoal e profissional, bem como, sua a percepção sobre as vivências no Império Austro-húngaro e na Europa, e as mudanças culturais, sociais, filosóficas, políticas e econômicas. Comentou sobre a infância tumultuada, dificuldades financeiras e migração, que motivaram Sigi a cursar medicina buscando a mudança social e econômica; abordou a discriminação por alguns, por sua atividade profissional; descreveu o tabagismo e o comprometimento da saúde, como a intensa perseguição pela ascendência judia e pela indignação de Sigi ao antissemitismo. -
Nikola Tesla
<strong>Base familiar e educacional</strong> Nikola Tesla, filho de Milutin Tesla, erudito e filósofo natural, poeta e escritor, e de Duka Mandic (descendente de linhagem de inventores), hábil artesã, que mesmo sem educação formal, elaborava ferramentas e dispositivos artesanais, incluindo o mobiliário da casa. Recebeu educação militar de seu pai, que serviu ao exército de Napoleão, contudo, tornou-se padre ortodoxo sérvio. Sua mãe era reconhecida por ter uma memória privilegiada, que usava para memorizar poemas épicos sérvios, de quem Nikola afirmava ter herdado a memória fotográfica (Silva; Helerbrock, s. d; Zivic, 2023). Nikola tinha três irmãs: Angelina, Milka e Marica e um irmão mais velho, Dane, falecido quando Nikola tinha apenas cinco anos, vítima de acidente com cavalo árabe. Segundo Nikola, seu irmão era muito inteligente, um “raro fenômeno de mentalidade”. A morte prematura dele, muito abalou seus pais e, por ter presenciado a cena, até a idade de oito anos, Nikola sentia-se inseguro, fraco e vacilante (Cipoli, 2013, p. 13 e 14). Essa experiência o marcou profundamente e, fortemente influenciado por superstições, vivia em constante temor de espíritos do mal, de fantasmas, ogros e outros monstros profanos do escuro (Cipoli, 2013, p. 24). Tinha paixão pelos livros, desde pequeno. Em casa havia uma biblioteca que ele visitava sempre que podia, apesar dos protestos do pai: “Ele não permitia e ficava com raiva quando me pegava em flagrante. Ele escondeu as velas quando descobriu que eu lia escondido. Não queria que eu estragasse meus olhos. Mas com o sebo que consegui obter, fiz pavios e moldei pequenos bastões. Toda noite eu tapava o buraco da fechadura e as frestas e lia, muitas vezes até de madrugada, quando todos os outros dormiam e minha mãe começava a sua árdua tarefa diária” (Cipoli, 2013, p. 24). Nikola frequentou a escola fundamental por um ano, na cidade de Smiljan – onde estudou alemão, aritmética e religião - e posteriormente, em 1862, em Gospić (Silva; Helerbrock, s. d). A baixa autoestima durante a infância poderia estar associada a uma condição peculiar de saúde mental que o levava a ter visões, algumas associadas a flashes luminosos, trazendo coisas e cenas vistas e vivenciadas, as quais deformavam a realidade e interferiam em seus pensamentos e ações. Muitas vezes, Nikola tinha dificuldades em distinguir o que era real, causando desconforto e ansiedade. Ninguém nunca conseguiu explicar, nem para ele e nem para o irmão que tinha problema similar, de forma convincente estes fenômenos (Cipoli, 2013). Assim, o próprio Nikola concluiu que as imagens que via eram provocadas por situações de excitação ou estresse, e que não eram alucinações decorrentes de doenças ou angústias, já que se considerava normal e sereno. Logo, a situação passou a causar-lhe alívio e conforto e Nikola começou a forçar a visão para viajar sozinho em sua mente, todas as noites e algumas vezes durante o dia; viajava por novos lugares, cidades e países; vivenciando, conhecendo pessoas e fazendo amizades e conhecidos, os quais se tornaram tão queridos como aqueles da vida real: “Eu fiz isso constantemente até quando eu estava com cerca de dezessete anos, quando meus pensamentos se voltaram seriamente à invenção” (Cipoli, 2013, p. 19). Desde pequeno, aos 6 anos de idade já era inclinado às invenções. Em certa ocasião, não pode brincar porque havia brigado com o colega, dono do gancho de pesca, usado para pegar sapos e rãs. Diante da situação, construiu algo similar, que fez mais sucesso que o original, causando certa inveja aos colegas. A rixa entre eles durou até o Natal, quando Tesla resolveu compartilhar o invento. Devido à timidez excessiva, na infância em Gospić, Nikola permanecia em casa, observando as pessoas estranhas que transitavam pela rua e por isso, manifestava grande dificuldade em circular por ali, aos domingos, quando ia à igreja. Porém, houve um caso específico em que a curiosidade venceu a timidez: certo dia, um comerciante empreendedor comprou um carro de bombeiros, cujo motor foi pintado de vermelho e preto. Naquela tarde espetacular, a máquina foi levada ao rio para demonstração do bombeamento de água, porém o mecanismo não funcionou, mesmo contando com a intervenção dos professores e especialistas. Nikola, apesar de não conhecer o mecanismo e tampouco saber quase nada de pressão de ar, instintivamente apalpou a mangueira de sucção e tirou a pressão que ali havia. Fez a água jorrar com força e por pouco as roupas de domingo não foram estragadas. A façanha fez com que o carregasse nos ombros e o festejasse como herói do dia (Cipoli, 2013). No afã de menino e explorador, entre os 10 e 13 anos, cursou a Escola Normal preparatória aos Ensinos Fundamental e Médio, antes da faculdade. Na escola, havia alguns modelos mecânicos, dentre eles, destacam-se as turbinas hidráulicas, as quais Nikola construiu e operou. No departamento de física, havia modelos clássicos de aparelhos científicos, elétricos e mecânicos, e as demonstrações o fascinavam incentivando sua criatividade. Gostava de matemática e possuía habilidade em realizar cálculos, devido à facilidade de visualizar os dados e executar mentalmente as operações (Cipoli, 2013). Iniciou, aos 14 anos, as aulas no Ginásio Real Superior, na cidade croata de Karlovac entre 1870 e 1873, as quais eram ministradas em alemão, devido à vigência do período militar Austro-Húngaro. A vida dele, naquele período, foi bastante atribulada: desenganado pelos médicos, à época, contraiu cólera, fato que o deixou acamado por nove meses, Durante o confinamento, aproveitava seu tempo para ler e, segundo relatos próprios, foi esse passatempo que o ajudou em sua recuperação (Silva; Helerbrock, s. d; Cipoli, 2013). Em 1874, por estímulo paterno, Tesla fugiu de Smiljan para a região montanhosa, a fim de evitar o recrutamento do Exército Austro-Húngaro. Nesse período de nove meses, aproveitou o tempo para idealizar vários experimentos mentais. O incentivo para isso, veio da época do ensino médio, quando um dos professores dele, que realizava pesquisas com eletricidade, o encorajava; a influência daquele professor despertou no jovem Tesla a vontade de "conhecer mais essa força maravilhosa" (Silva; Helerbrock, s. d; Cipoli, 2013), o que culminou com a escolha do curso de Engenharia Elétrica para a graduação. Apesar de desejar que Nikola optasse pelo caminho do sacerdócio, o pai dele consentiu-lhe que cursasse engenharia. Em 1875, aos 19 anos, graças a uma bolsa de estudos, iniciou o curso no Instituto Politécnico em Graz (Áustria), decidido a ter sucesso, seja pela formação prévia acumulada, pelos ensinamentos do pai, seja pelas escolas em que estudou e/ou devido ao conhecimento de vários idiomas, que lhe permitia acessar as informações de livros de diversas bibliotecas. Preparou-se mentalmente para causar impacto positivo nos pais. Fundou um clube cultural sérvio e destacou-se no 1º ano em frequência integral, com notas altas, obteve aprovação em nove exames (quase o dobro do necessário), conseguiu assim, apreço e amizade de vários professores. Recebeu, ainda, uma carta de recomendação do reitor da faculdade técnica, endereçada ao pai dele, que dizia: "Seu filho é uma estrela de primeira linha, que se dedica diariamente das 3h00 às 23h00, incluindo domingos ou feriados”. Com essas conquistas, retornou para casa durante as férias, esperando ser valorizado pelo seu pai, porém, o encontro não ocorreu como esperado. Nikola comentou “...fiquei mortificado quando meu pai fez pouco destas honras duramente conquistadas... Isso quase matou a minha ambição...” (Silva; Helerbrock, s. d; Cipoli, 2013). Depois da decepção, no retorno à escola, acabou ficando viciado em jogos de azar, situação que o fez perder sua bolsa de estudos no 2º ano. O cenário se agravou no 3º ano, quando perdeu sua mesada em apostas e não se preparou para as provas. Em 1878, ficou sem notas naquele semestre abandonou a graduação, evitando a família para esconder essa situação, domiciliou-se em Maribor e passou a se sustentar como desenhista, por 60 florins por mês, e ocupava o tempo jogando cartas nas ruas. O pai de Tesla sempre levou uma vida exemplar, preocupava-se e não desculpava o desperdício de tempo e dinheiro empregados naquelas atividades. Em março de 1879, foi visitá-lo para pedir que retornasse para casa, mas ele não aceitou. Menos de um mês depois, seu pai faleceu, aos 60 anos. Obrigado a voltar para a cidade de Gospić, após um colapso nervoso, Nikola passou a dar aulas em sua antiga escola. Dois de seus tios juntaram dinheiro para que ele voltasse a estudar, na Universidade Carolina, em Praga (capital da República Tcheca). Apesar de desconhecer os idiomas grego e tcheco (disciplinas obrigatórias), assistiu como ouvinte às aulas de filosofia (Silva; Helerbrock, s. d). Durante esse período, Tesla não conseguiu superar sua condição frágil de saúde, tendo sofrido novo colapso nervoso. Foi diagnosticado por um famoso médico como tendo uma doença única e incurável, que o fazia consumir doses grandes de medicação (Cipoli, 2013). Em meio a todas as dificuldades, os livros seguiam sendo seu consolo. Em uma tarde memorável no passeio com um amigo, sentiu renovadas suas esperanças de recuperação, ao recitar uma passagem de “Fausto”, de Goethe. Naquele momento teve um lampejo de criatividade e desenhou na areia um diagrama, que seria a ideia do motor de indução por corrente alternada, apresentado seis anos após no American Institute of Electrical Engineers.