Rosalind Elsie Franklin

Item

Nome Completo

Rosalind Elsie Franklin

Sobrenome

FRANKLIN

Nome

Rosalind Franklin

Profissão

Ciências Naturais (Físico-química orgânica)

Áreas do Conhecimento

Ciências Exatas e da Terra

Publicações e Obras

Referências

BIÓLOGO. <strong>Rosalind Franklin</strong>. Disponível em: https://biologo.com.br/bio/rosalind-franklin/. Acesso em: 09 maio 2023.
GLYNN, J. <strong>My Sister Rosalind Franklin</strong>. OUP Oxford, 2012. 172 p.
HARRIS, P. J. F. Rosalind Franklin's work on coal, carbon, and grafite. <strong>Interdisciplinary Science Reviews</strong>, v. 26, n.3, p. 204-210, 2001.
MADDOX, B. <strong>Rosalind Franklin:</strong> The Dark Lady of DNA. Harper Perennial. 2003. 416 p.
POLCOVAR, J. <strong>Rosalind Franklin and the Structure of Life</strong>. Morgan Reynolds Publishing. 2006. 144 p.
SAYRE, A. <strong>Rosalind Franklin and DNA</strong>. New York: W.W. Norton & Company, 2000. 222 p.

Palavras-chaves

Português estrutura do DNA
Português DNA
Português difração por raios x

Foto Principal

Local de Nascimento

Nascimento

July 25, 1920

Falecimento

April 16, 1958

Frase

A ciência, para mim, explica parte da vida. Até aonde chega, se baseia em acontecimentos, experiências e experimentos.
Na minha opinião, tudo o que é necessário para a fé é a crença de que, ao fazer o nosso melhor teremos sucesso em nossos objetivos: a melhoria da humanidade.
Ciência e vida cotidiana não podem e não devem ser separadas.
Às vezes, em sua vida cotidiana, você deve dizer a coisa certa. Mas a coisa errada é mais engraçada.

Breve Resumo

Química britânica, cientista que usou da difração de raios X para capturar a imagem da dupla hélice do DNA, além da descrição da estruturação molecular do DNA, RNA, vírus, carvão mineral e grafite, teve a notoriedade ampliada na Biologia, somente após a sua morte.

Biografia

<strong>Laços familiares e formação básica</strong>
Berger (2014), principia a percepção dele sobre a vida de Rosalind comentando que “É duvidoso que qualquer outra mulher cientista tenha sido causa de tanto debate e controvérsia”. Rosalind nasceu em família judaica britânica, que se estabeleceu na Inglaterra em meados do século XVIII, considerada economicamente abastada e socialmente influente. O pai dela, Ellis Arthur Franklin, entre 1894-1964 foi sócio do Keyser's Bank e da editora Routledge & Kegan. Considerado politicamente liberal, ensinava no período noturno eletricidade, magnetismo e a história da 1ª Guerra Mundial no Working Men's College, onde se tornou vice-diretor. Sua mãe, Muriel Frances Waley (1894-1976) concebeu cinco filhos, David, nascido em 1919 era o primogênito, Rosalind foi a segunda, depois vieram Colin nascido em 1923, Roland nascido em 1926 e, por último, a caçula Jenifer nascida em 1929.
Os pais de Rosalind participaram do acolhimento aos refugiados judeus europeus do nazismo, especialmente aqueles do <i>Kindertransport</i>¹ (resgate de crianças; tradução livre). Acolheram em casa duas crianças, uma delas um austríaco de nove anos que ocupou o quarto de Jenifer, irmã caçula de Rosalind, merece registro especial Evi Eisenstädter, cujo pai Hans Mathias Eisenstädter, havia sido preso em Buchenwald. Quando libertado, a família adotou o sobrenome Ellis, em homenagem ao pai de Rosalind. A família Franklin tinha hábito de caminhadas, adotadas ao longo da vida por Rosalind, além das viagens ao exterior (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; MADDOX, 2003; POLCOVAR, 2006; SAYRE, 2000).
O tio-avô de Rosalind, Herbert Samuel (Visconde de Samuel), tornou-se Ministro do Interior do Reino Unido em 1916, sendo pioneiro, como judeu praticante, a servir no gabinete britânico da esposa de Norman de Mattos Bentwich, Procurador-geral no mandato britânico da Palestina. A tia materna de Rosalind, Helen Caroline Franklin (apelidada como Mamie), atuou na organização sindical e no movimento de sufrágio feminino, tornando-se membro do Conselho do Condado de Londres. O tio, Hugh Franklin, por sua vez, tornou-se militante do movimento de sufrágio, mesmo em desagravo à família. O segundo nome de Rosalind, Elsie, foi homenagem à primeira esposa desse tio, que havia falecido na pandemia da gripe, em 1918. (MADDOX, 2003; SAYRE, 2000).
Esse contexto socioeconômico familiar possibilitou à Rosalind estudar em escolas privadas de referência à época. Iniciou os estudos aos seis anos, na Norland Place School, situada a oeste de Londres, a mesma escola que o irmão Roland frequentava. Rosalind se destacava nas habilidades escolares. A mãe comentou sobre ela "Durante toda a sua vida, Rosalind sabia exatamente para onde estava indo e, aos dezesseis anos, escolheu a ciência como matéria”. Sua tia Mamie descreveu-a ao marido: “Rosalind é alarmantemente inteligente – ela passa todo o tempo fazendo aritmética por prazer e, invariavelmente, obtém suas somas corretas. Devido a problemas de saúde, foi transferida aos nove anos para Lindores School for Young Ladies, internato feminino localizado em Sussex, no litoral, cujo clima era mais saudável (BIOGRAPHICAL, s. d; BIÓLOGO, s. d; SPEROHOPE, 2023).
Aos 11 anos, matricula-se na St. Paul’s Girls School, uma das poucas escolas para meninas em Londres, que ensinava física e química, sobressaindo-se em ciências e latim. Além disso, estudava alemão, era fluente em francês e destacava-se em prática esportiva. Apresentava deficiência escolar em música, por isso o compositor Gustav Holst (diretor de música da escola), contatou a mãe de Rosalind, para saber se ela havia percebido na filha algum problema de audição ou amidalite.
Quando completou 15 anos, Rosalind foi aprovada no exame de seleção no Newnham College (Cambridge University; uma das poucas escolas que possibilitavam graduação às meninas), contrariando a vontade do pai, que cancelou a matrícula, pois ele acreditava que as mulheres não deveriam cursar a universidade, desejava que a filha atuasse como assistente social, embora ela almejasse ser cientista. Assim, as mulheres da família, especialmente a tia Mamie, assumiram as despesas escolares de Rosalind. Com seis “excelentes”, concluiu em 1938 o ensino médio, ganhando, pelo período de três anos, uma bolsa de estudos para a Universidade School Leaving Exhibition, no valor de £30 por ano, além de uma mesada de £5 de seu avô.
Pouco tempo depois, Rosalind atendendo ao desejo do pai, cedeu a bolsa para que beneficiasse algum estudante refugiado que precisasse e, assim, seu pai retomou o custeio da graduação dela. Nesse ínterim, conheceu o espectroscopista Bill Price, o qual se tornou, posteriormente, um de seus colegas seniores no King's College em Londres e com quem trabalhou no laboratório. Conviveu, também, com Adrienne Weill, refugiada francesa e ex-aluna de Marie Curie, a qual exerceu sobre ela influência, tanto na vida pessoal quanto na carreira profissional, pois lhe permitiu melhorar a conversação em francês. Rosalind concluiu o bacharelado com ênfase em Físico-Química, com honras de segunda classe, em seus exames finais em Ciências Naturais, em 1941 (BERGER, 2014; GLYNN, 2012; MADDOX, 2003; SPEROHOPE, 2023).
<strong>Atividade profissional intensa e encurtada durante 16 anos</strong>

A bacharela Rosalind recebeu entre 1941 e 1942, uma bolsa de pós-graduação como integrante da equipe de pesquisa do laboratório de fotoquímica, liderado pelo Prof. Ronald Norrish, desprezado por Rosalind, pois não recebia dele o devido mérito e reconhecimento e por considerá-lo “teimoso e quase perverso em suas discussões, arrogante e sensível às críticas”.
Por isso, desistiu da referida bolsa e, em 1942, foi nomeada assistente de pesquisa na British Coal Utilization Research Association (BCURA² ; Cambridge). Norrish também foi assessor dos militares, como os consultores e professores Marcello Pirani e Victor Goldschmidt, ambos refugiados dos nazistas, todos atuaram no BCURA, durante a permanência de Rosalind, que perdurou por cinco anos.
Inicialmente, ela morou na pensão de Adrienne Weill, até que recebeu o convite da prima Irene Franklin para morarem na casa desocupada pelo tio, em Putney (Distrito no bairro de Wandsworth, Londres). Ambas foram voluntárias na Air Raid Warden (Diretoria de Ataque Aéreo), realizando patrulhamentos preventivos e de apoio ao bem-estar da população, após ataques aéreos realizados pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial (THE DNA, s. d; MADDOX, 2003; FRANCIS, 2022; POLCOVAR, 2006; ROGERS, 2023; ROSALIND, s. d).
Assim, estando no BCURA, Rosalind usou o gás hélio para testar a porosidade do carbono e do grafite, caracterizando a relação entre as finas compressões nos poros das brasas e a permeabilidade do espaço poroso. Ao associar as trocas gasosas aos tamanhos moleculares e à elevação da temperatura, contribuiu para a classificação dos carvões combustíveis nas máscaras de gases usadas durante a 2ª Grande Guerra, experimento que serviu de base à tese The physical chemistry of solid organic colloids with special reference to coal (A físico-química de colóides orgânicos sólidos com referência especial ao carvão), requisito indispensável ao Ph.D, defendido em 1945, Cambridge University, bem como, de outras pesquisas que ela realizou.
Adrienne Weill, que havia retornado à França, ajudou-a a conseguir um emprego no Laboratoire Centrale des Services Chimiques de l'Etat (Laboratório Central de Serviços Químicos da França; Paris), onde trabalhou com o pesquisador Jacques Méring, com o qual aprendeu técnicas de difração³ de raios-X, pesquisa relevante para o desenvolvimento de fibras de carbono, por abranger mudanças estruturais na composição de grafite em carbonos aquecidos, contribuindo para a indústria de coque⁴ (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; THE DNA, s. d; HARRIS, 2001; ROGERS, 2023; ROSALIND, s. d).
Segundo Neves (2018), em 1950, Rosalind foi convidada pelo Prof. John Randall - físico britânico; diretor do Departamento de Biofísica King's College, em Londres – para desenvolver um laboratório de difração de raios X, a fim de pesquisar a estrutura do DNA⁵, reforçando que a Dra. Rosalind seria responsável pelo “esforço experimental de raios-X”. Para isso, recebeu uma bolsa Turner and Newall (empresa produtora de amianto), por três anos na London University.
Como Diretor, o Prof. Randall não contou sobre a chegada de Rosalind ao Prof. Maurice Wilkins - chefe da equipe de Biologia Molecular do Departamento de Física do King's College, que estava pesquisando DNA – que para registro, estava ausente no momento da nomeação da colega Rosalind. Infere-se que a referida “não comunicação” foi marcante e comprometeu o relacionamento profissional entre Rosalind e Wilkins, que a tratava como uma mera assistente técnica. O Prof. Wilkins indicou para assessorá-la o doutorando Raymond Gosling e ambos priorizaram o aprimoramento de um dispositivo para ampliar a nitidez das imagens de DNA, detectando que a diferença de produção de imagens entre duas formas (úmida e seca), produziam resultados muito diferentes. Os primeiros testes foram bem-sucedidos. Não era permitido às mulheres permanecer na sala comum dos alunos, por isso lhes era reservada uma sala separada para refeições. A Dra. Rosalind era dedicada ao trabalho, porém com uma postura irritadiça para com os colegas, mantendo, assim, um grupo separado de pesquisa. O físico e Professor Francis Crook cooperava nas pesquisas do Prof. Wilkins (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; THE DNA, s. d; HARRIS, 2001; ROGERS, 2023; ROSALIND, s. d).
Entre 1951 e 1953, Rosalind avançou em sua pesquisa, ao mostrar a estrutura do DNA numa de suas fotografias cristalográficas (raio X número 51), quando o Prof. J. D. Bernal do Birkbeck College, teceu o seguinte comentário a respeito: “As mais belas fotografias de raios-X de qualquer substância já tiradas” (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; SPEROHOPE, 2023).
O bioquímico norte-americano James D. Watson chegou em 1952 à Inglaterra para estudar cristalografia e vírus de plantas. O Prof. Wilkins (especula-se que informado por Raymond Gosling), sem o conhecimento e autorização da Dra. Rosalind, passou para Watson e Francis Crick a fotografia 51, detalhando, durante um jantar, a progressão da pesquisa dela. Watson, na foto percebeu, a solução que pesquisava. Os resultados foram publicizados pela revista Nature, em abril de 1953, embora tenham aparecido apenas como um artigo de apoio e como outro artigo na edição de julho do mesmo ano. Porém, se admitiu a publicação de dados e fotografias sem a permissão e o conhecimento da Doutora Rosalind, fato este que abalou o mérito do Nobel.
O próprio Watson descreveu em seu livro The Double Helix (A Hélice Dupla), em 1968, o processo da deslealdade de Wilkins, ao passar as evidências da Dra. Rosalind, da forma tridimensional de DNA, denominada de estrutura “B”. Watson intitulou a Dra. Rosalind de “mulher bélica que escondia dados”, creditando sua contribuição ao processo de modelagem que a capacitou ao prêmio Nobel. Comentou, ainda, que ninguém no King's College percebeu que estava com a referida foto. A pesquisa da Dra. Rosalind, poderia ter permanecido apenas como nota de rodapé, se no referido livro de Watson, ele não a tivesse descrito como "Rosy", uma intelectual arrogante e mal-humorada que guardava ciosamente seus dados dos colegas, embora não fosse competente para interpretá-los (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; ROGERS, 2023; REDAÇÃO, 2020; PERCILIA, s. d; AIDAR, s. d).
Silva (2010), faz um contraponto ao não reconhecimento da pesquisa de Dra. Rosalind por Crick e Watson, o que a colocou à margem da história, pela análise focal ao conteúdo dos livros de Anne Sayre (1975) e Brenda Maddox (2002), os quais se dedicaram ao resgate científico da cientista, pela forma como foram usadas suas pesquisas sobre a estrutura do DNA.
Para o referido autor, a pesquisa de Dra. Rosalind se restringia à “possível estrutura molecular de ao menos uma forma do DNA”, enquanto para Watson e Crick, “dupla hélice” era algo próximo de “a possível estrutura molecular do DNA, estrutura que deveria ser o ponto de partida para uma explicação de fenômenos de transferência de informações genéticas”. Ou seja, para Dra. Rosalind seria a finalidade da sua investigação, um problema em si mesmo; para Crick e Watson, era um meio para obter mais pistas a respeito do funcionamento dos genes. A ênfase de Sayre e Maddox quanto ao marco em 1953, da Fotografia 51, fica enfraquecida, devido à diferença da estrutura do DNA proposta por Rosalind e a da função genética do DNA defendida por Crick e Watson. O autor não inseriu em seu texto a questão ética no contexto científico, conforme supramencionado por Watson, em seu livro.
Silva (2010) concluiu que Watson e Crick não foram generosos ao omitirem os resultados de Dra. Rosalind, ressaltando que a limitação da tradição de pesquisa historiográfica tenha sido estabelecida devido à falta de reconhecimento científico, quesito abordado por Maddox e Sayre, os quais tiveram o seu mérito ao resgatarem a memória da cientista. A Fotografia 51 seria a peça mais importante do quebra-cabeça, mas não o quebra-cabeça inteiro. Observou-se que o resgaste histórico facilita a compreensão da produção do conhecimento, valorizando a pertinência da recuperação da memória científica de Dra. Rosalind, embora em seu artigo, Silva (2010) discordou da estratégia de justaposição argumentativa adotada por Maddox e Sayre.
Concomitantemente, em março de 1953, a Dra. Rosalind demonstrou o seu contentamento com os colegas do Departamento de Física do King's College, ao se transferir para atuar no Laboratório de Cristalografia do Birkbeck College, dando continuidade às pesquisas sobre carvões e DNA, como nas estruturas dos vírus do mosaico do tabaco e da poliomielite, contribuindo assim nas bases da virologia estrutural.
Contribuiu também com estudos que comprovavam que o ácido ribonucléico (RNA) apresentava em sua estrutura hélice de fita simples, ao invés da dupla hélice encontrada no DNA de vírus bacterianos e organismos superiores. Descobriu, ainda, que o vírus do mosaico do tabaco estava embutido em sua proteína e não em sua cavidade central.
Essas pesquisas com vírus foram compartilhadas com outros pesquisadores, principalmente nos Estados Unidos, quando das duas visitas longas feitas pela Dra. Rosalind, de 1954 a 1956. Na ocasião, desenvolveu-se uma rede de pesquisa, incluindo Robley Williams (biofísico e virologista; da University of California, Berkeley), Barry Commoner (ambientalista e biólogo; um dos fundadores da ecologia moderna; da Washington University, St. Louis) e Wendell Stanley (bioquímico e virologista; da University of California, Berkeley; recebeu o prêmio Nobel de Química de 1946, por essa pesquisa que foi reconhecida pela Royal Institution em 1956, quando o diretor da instituição pediu autorização para construção, em grande escala, de modelos de vírus em forma de bastonete e esféricos para a Exposição de Ciências da Feira Mundial de Bruxelas de 1958.
A Dra. Rosalind, em 16 anos de atividade profissional, publicou 19 artigos sobre carvões e carbonos, cinco sobre DNA e 21 sobre vírus. Especula-se que suas pesquisas com vírus propiciariam prêmios e outros reconhecimentos profissionais, se viva estivesse. (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d; ROGERS, 2023).
<strong>Reconhecimentos póstumos</strong>

No verão de 1956, em visita aos Estados Unidos, a Dra. Rosalind apresentou problemas de saúde e foi diagnosticada com câncer de ovário. Por isso, teve que se submeter em um mês a duas cirurgias abdominais, após as quais retornou ao laboratório de trabalho e redobrou suas pesquisas. Apesar da melhora imediata, teve recidiva da doença. Dois anos depois, em 16 de abril de 1958, veio a óbito no Royal Marsden Hospital de Londres. Cogita-se que o câncer contraído se deu devido à exposição intensa aos Raios-X. Mesmo diagnosticada e com a vida comprometida, a Dra. Rosalind obteve financiamento para manutenção da equipe de pesquisa do vírus da poliomielite por mais três anos. Dois pesquisadores dessa equipe, John Finch e Aaron Klug, publicaram artigo dedicado à memória dela, na revista Nature. Aaron Klug, continuando a pesquisa da Dra. Rosalind, foi laureado com o Prêmio Nobel de Química, em 1982 (BIOLOGO, s. d).
Em 1962, Watson, Crick e Wilkins receberam o Prêmio Nobel pelo trabalho sobre a estrutura do DNA, contudo sem mencionar e nem dar os créditos à contribuição de Rosalind. A St. Paul's School homenageou a pesquisadora com o "Rosalind Franklin Technology Center" e há muitos laboratórios e salas com o nome dela.
Em março de 2000, o King's College, em Londres, inaugurou o Edifício Franklin-Wilkins. Durante esta cerimônia, Watson admitiu que a contribuição de Rosalind foi basilar à descoberta que havia sido feita. Sua vida foi, como seu obituário registrado no The Times "um exemplo de devoção obstinada à pesquisa científica". Em 1975, Anne Sayre, publicou uma biografia sobre a amiga Rosalind, descreditando a caricatura raivosa e misógina descrita no livro de Watson (1968) (BERGER, 2014; BIOGRAPHICAL, s. d).
Alguns biógrafos comentaram que a Dra. Rosalind faleceu sem saber da relevância de sua pesquisa e que suas fotos foram a materialidade da dupla hélice do DNA, na obra apresentada por Watson e Crick.
Os reconhecimentos póstumos à Rosalind iniciaram-se na década de 1980 e se materializaram a partir de1992, quando a English Heritage a homenageou ao colocar uma placa, na casa onde ela morou em Londres, com o seguinte letreiro: "Rosalind Franklin, 1920 a 1958, pioneira no estudo de estruturas moleculares, incluindo DNA, viveu aqui entre 1951 e 1958.".
Em 2001, o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos criou o Prêmio Rosalind Franklin, para homenagear pesquisadores com trabalhos acerca do câncer.
Em 2003, a Royal Society of London batizou com o nome dela outro prêmio destinado a pesquisadores em qualquer campo científico ou tecnológico. A Dra. Rosalind recebeu (post mortem) em 2008, juntamente com Franz-Ulrich Hartl e Arthur Horwich, o Louisa Gross Horwitz Prize for Biology or Biochemistry⁶ (SPEROHOPE, 2023).
Em 2015, o registro da dupla hélice do DNA foi dramatizado na peça teatral Photograph 51 (Fotografia 51), sendo roteirizada por Anna Ziegler e protagonizada por Nicole Kidman, que foi premiada pela atuação. “A nova peça de Anna Ziegler reafirma a contribuição de Rosalind Franklin para a química nos idos de 1950, com a descoberta do DNA e levanta o seguinte questionamento: a ciência ainda é sexista?”, reportou Michael Billington na crítica publicada no The Guardian⁷ (REDAÇÃO, 2020).
Além do legado científico, A Dra. Rosalind se tornou uma referência na luta pela inclusão das mulheres nas ciências e em outras áreas (AIDAR, s. d).

<cite>Ciência e vida cotidiana não podem e não devem ser separadas. A ciência, para mim, dá uma explicação parcial da vida. Na medida em que vai, é baseada em fato, experiência e experimento. Concordo que a fé é essencial para o sucesso na vida, mas não aceito sua definição de fé, ou seja, crença na vida após a morte. Na minha opinião, tudo o que é necessário para a fé é a crença de que, fazendo o nosso melhor, chegaremos mais perto do sucesso e que vale a pena alcançar o sucesso em nossos objetivos (a melhoria da sorte da humanidade, presente e futura) (Texto da carta de Rosalind Franklin ao seu pai Ellis Franklin, no verão de 1940)</cite>
<strong>Vamos refletir?</strong>

Como temos visto nas biografias da Calçada da Fama, há questões sérias que permeiam a ciência e o desenvolvimento científico, como gênero e ética. Isso acontece porque a ciência é uma atividade realizada por seres humanos, que, por mais inteligentes que sejam, são imperfeitos e estão sujeitos a inseguranças, erros de julgamento e até mesmo falhas de caráter. Muitos deles, apesar de imbuídos de boas intenções, não medem esforços para alcançar bons resultados e o reconhecimento por seu trabalho.
Observamos que a vida de Rosalind Franklin foi marcada por homens que a relegaram ao segundo plano, recusando-se a admitir a importância do trabalho dela, e que falharam em reconhecer a legitimidade de seus anseios profissionais. Desde seu pai, que foi contra seus estudos por achar que mulheres não deveriam cursar uma universidade, até seus supervisores e pares, que se utilizaram de seus resultados para beneficiar suas próprias pesquisas.
Você acha que o alcance de resultados positivos em uma pesquisa, ainda que apresente potencial para beneficiar uma grande parcela da população, justifica que se empregue quaisquer meios para consegui-los? Pense nisso!
<b>Notas de rodapé</b>

¹ O termo alemão Kindertransport foi usado ao final do século XX, caracterizando o serviço de resgaste realizado entre novembro/1938 até 1940, autorizado pelo governo britânico, composto por pessoas ligadas a diversos grupos (religiosos ou laicos) em vários países e que realocou no Reino Unido cerca de 10.000 crianças (oriundas da Alemanha nazista, Áustria, Tchecoslováquia, Polônia e da cidade livre de Danzig); em sua maioria judias e menores de 17 anos. Disponível em: https://www.britannica.com/event/Kindertransport. Acesso em: 05 jul. 2023.

² BCURA (bcura.org): associação sem fins lucrativos de empresas industriais, registrada como entidade beneficente, fundada em 1938, sendo o 1º presidente John G. Bennett. Tem como objetivo “promover a pesquisa e outras atividades relacionadas com a produção, distribuição e uso de carvão e seus derivados”. As empresas britânicas associadas – desde fornecimento de energia, produtores e/ou usuários industriais de carvão e fabricantes de equipamentos - asseguram o fomento para que a BCURA subsidie instituições acadêmicas em projetos de pesquisa. Mantém uma coleção de 36 carvões do Reino Unido, variando de linhito a antracito, que são usados como padrões de referência em pesquisas. Banco de Carvão BUCURA. Disponível em: https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/British_Coal_Utilisation_Research_Association.html. Acesso em: 05 jul. 2023.

³ Difração: caracterizada como a capacidade das ondas em contornar sólidos, provocando uma deformação e abertura compatíveis ao comprimento da onda, que transpassa pelo espaço aberto no contorno alcançando a região posterior ao obstáculo. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-e-difracao.htm. Acesso em: 05 jul. 2023.

⁴ Coque: substância dura, acinzentada, obtida quando o carvão betuminoso é aquecido em forno de coque sem entrada de ar. Contém de 87 a 89% de carbono, com estrutura dura e porosa. O coque produz calor intenso e sem fumaça quando queima e se decompõe. Disponível em: https://www.dicio.com.br/coque/. Acesso em: 05 jul. 2023.

⁵ DNA (ADN em português ácido desoxirribonucleico): composto orgânico de moléculas com instruções genéticas (individual e exclusivo, com duas formas de cada gene, uma que recebe da mãe outra que recebe do pai) que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e de alguns vírus, armazenando informações necessárias à construção das proteínas e RNA. Os segmentos de DNA com informação genética são os genes. Disponível em: https://www.significados.com.br/dna/. Acesso em: 05 jul. 2023.

⁶ Prêmio anual instituído em 1967, com o legado de S. Gross Horwitz, da Columbia University (New York – EUA) para pesquisador(a) ou grupo de pesquisadores nas áreas de biologia e bioquímica. Dentre os 74 laureados, 39 (53%) receberam posteriormente os Prêmios Nobel de Medicina (29) e Química (10). Disponível em: https://www.cuimc.columbia.edu/research/louisa-gross-horwitz-prize/horwitz-prize-awardees. Acesso em: 05 jul. 2023.

⁷ Photograph 51 review – Nicole Kidman captures the ecstasy of scientific Discovery. Review. The Gardian. Photograph 51 review – Nicole Kidman captures the ecstasy of scientific discovery | Theatre | The Guardian. Disponível em: https://www.theguardian.com/stage/2015/sep/14/nicole-kidman-photograph-51-noel-coward-theatre-rosalind-franklin-review. Acesso em: 05 jul. 2023.

Prêmios e condecorações

Não teve reconhecimento pela descrição da estrutura molecular dos ácidos nucleicos, porém essa descoberta serviu como base para compreender o RNA, o carvão, o grafite e os vírus. James Watson e Francis Crick receberam de Maurice Wilkins a fotografia do DNA, sem conhecimento e permissão de Rosalind, concluíram a pesquisa e foram laureados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1962, mas não mencionaram Rosalind na cerimônia de recebimento. Watson e Crick convidaram Wilkins para assinar o artigo como coautor, contudo ele não aceitou, porque não concordava com a ausência do artigo sobre modelo da estrutura do DNA. Posteriormente, Rosalind não pode recebê-lo, pois não é permitido postumamente ser laureado(a) com o Prêmio Nobel.

Fotos

Créditos

Revisão de texto

Date Issued

July 10, 2023

Coleções

Rosalind Franklin Cartaz da peça 'Photography 51', estrelada por Nicole Kidman Marcha pela Ciência em São Francisco, em 2017, mostra cartaz com foto de Rosalind Franklin Rosalind trabalhando em seu laboratório em Paris Rosalind Franklin no trabalho Diagrama da configuração experimental de Franklin visando raios-X através da amostra de DNA com a 'Fotografia 51', observando-se a estrutura de dupla hélice