"Entrevista concedida pelo Prof. Dr. Homero Silveira Santiago sobre Marilena Chaui. Entrevistado por Giulia Engel Accorsi."
Midia
Part of Entrevista Prof. Dr. Homero Silveira Santiago
"Entrevista concedida pelo Prof. Dr. Homero Silveira Santiago sobre Marilena Chaui. Entrevistado por Giulia Engel Accorsi."
Homero Silveira Santiago possui graduação, mestrado e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Sua dissertação ("A ordenação geométrica da parte I dos Princípios da filosofia cartesiana") e sua tese ("O uso e a regra. Ensaio sobre a gramática espinosana") foram orientadas pela Profª Drª Marilena Chaui. Atualmente, é Professor Associado da USP e desenvolve pesquisas na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia. É autor do texto "Percursos de Marilena Chaui: filosofia, política e educação", cujo conteúdo foi utilizado como referência para elaboração da nota biográfica sobre a pesquisadora.
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Canal Ciência (CC): Se você pudesse descrever a Professora Marilena Chaui em uma palavra, qual seria e por quê?
Eu escolheria a palavra democracia. Dá para dizer que em praticamente todos os seus textos, dos primeiros aos últimos, a questão da democracia colocou-se para Marilena como central; ainda mais que ela fez, na juventude, a experiência medonha da ditadura militar. Para ela é uma questão permanente: o que é democracia? Como uma formação social torna-se democrática? Como uma forma de vida democrática permite a vida livre?
CC: Pensando nas aulas da Professora Marilena no curso de graduação e/ou pós-graduação. Como você a descreveria enquanto professora?
Uma experiência impactante. Um amigo certa vez me disse que o primeiro contato com Marilena, em aula, se dá pela voz: uma voz vigorosa, sempre bem empostada e que convoca a nossa atenção. Depois, a erudição, a boa organização da aula; por fim, a generosidade, sempre que requisitada a ajudar os estudantes nos pontos mais difíceis.
CC: Além de aluno, você também foi orientando da Professora Marilena. De que maneira você acha que ela mais contribuiu para a sua formação?
Como professora, claro, mas – e aí penso sobretudo não no percurso de pós-graduação – como alguém que oferece um modelo intelectual: um modo de trabalhar na pesquisa em filosofia, um modo de se relacionar com a própria filosofia e com os outros. Marilena muitas vezes disse que, para ela, a filosofia é um modo de vida. É isso o modelo que ela nos oferece: a paixão filosófica permanente.
CC: Na sua opinião, o que a sociedade ganha quando um/a grande pesquisador/a é também um/a grande professor/a?
Ao exercitar-se como professor, o grande intelectual necessariamente tem de repensar as suas ideias, buscando os meios mais adequados de exprimi-las. Com isso, ganham as suas ideias, que se refinam e se aprimoram. De outro lado, a sociedade ganha justamente na medida em que as ideias intelectuais podem assumir um teor novo e circular, produzindo efeitos que não produziriam se ficassem restritas ao círculo do intelectual e seus pares.
CC: Se você tivesse que indicar um texto da Professora Marilena para juventude (adolescentes entre 14 e 18 anos) interessada em Filosofia, qual você indicaria e por quê?
Vou me permitir duas indicações. A primeira é o pequeno e notável O que é Ideologia (editora Brasiliense); é um livro consagrado pelos leitores, que já teve mais de cinquenta edições e que se dirige ao centro das preocupações político-filosóficas de Marilena. Ademais, me permito uma segunda indicação: o texto A filosofia como vocação para a liberdade. É um texto muito bonito, o discurso que Marilena fez quando recebeu o doutorado honoris causa pela Universidade de Paris VIII e em que ela refaz o seu percurso intelectual.
Este último texto está disponível em:
https://www.scielo.br/j/ea/a/HKVbHpdhzqwGdZgYhknsv5p/?lang=pt