Entrevista concedida a Ana Lúcia Tabet Oller Nascimento e Hernán Chaimovich (Instituto de Química, USP), Carmen Lúcia Weingril e Vera Rita da Costa (Ciência Hoje).

Midia

Part of Entrevista Giuseppe Cilento

Publicada em agosto de 1990.

Dois traços marcantes ressaltam a trajetória de Giuseppe Cilento: a dedicação absoluta ao trabalho de pesquisa e a persistência em vencer desafios. Filho de imigrantes italianos, ele se iniciou no estado da química nos anos 40, no Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Teve a sorte de contar com grandes mestres, como Heinrich Hauptmann, de quem foi assistente, e sobretudo Heinrich Rheinboldt, orientador de sua tese de doutorado. Para Cilento, passar horas a fio num laboratório é o resultado natural de sua formação universitária.

A este prazer no trabalho, Cilento juntou uma verdadeira obsessão por vencer os desafios que a pesquisa muitas vezes lhe impõe. Foi o único de sua turma a trabalhar de forma interdisciplinar, primeiro por seu interesse por físico-química e mineralogia, em seguida pela bioquímica. Tornou-se conhecido internacionalmente pesquisando espécies químicas excitadas em sistemas biológicos. E atualmente, incansável,  dedica-se a demonstrar que as células podem realizar processos fotoquímicos mesmo na ausência de luz. É o que Cilento chama de "fotobiologia sem luz".

Agraciado com dois importantes prêmios de pesquisa científica no país, o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia e o Moinho Santista, Cilento costuma imprimir ao seu trabalho um altíssimo padrão de qualidade. Além disto, há cerca de 40 anos, ele vem sendo um dos grandes responsáveis, no Brasil, pela formação de novas gerações de pesquisadores. O nome de Cilento já se tornou sinônimo de uma combinação preciosa: a do pesquisador apaixonado por seu ofício com o mestre capaz de transmitir esta paixão a seus alunos e colaboradores.

Conte um pouco sobre sua infância. Seus pais eram italianos. Quando imigraram para o Brasil?

Meu pai era médico e imigrou para o Brasil antes da Primeira Guerra Mundial. Ele cuidava do serviço de tuberculose da Santa Casa de Misericórdia em São Paulo. Minha mãe era nascida em Rio Claro (SP), neta de italianos e suíços. Logo após a deflagração da Primeira Guerra Mundial, o sentimento de solidariedade para com os meus avós e a pátria levou meu pai a regressar à Itália e servir como médico nofront.

Minha mãe e minhas irmãs também se mudaram para a Itália. Nasci em Sorrento, em 1923.

E quando retornaram ao Brasil?

Retornamos em 1933, atendendo a pedidos da família de minha mãe. Viemos, entretanto, em caráter provisório, razão pela qual, além de seguir o programa do ginásio brasileiro, cursei também as matérias do currículo italiano. No quarto ano, quando éramos obrigados a optar, escolhi cursar o liceu italiano. Após dois anos, por diversas razões, entre as quais estava a deflagração da Segunda Guerra, decidi completar o ginásio brasileiro. Em 1940, quando terminei o curso ginasial, já estava decidido a estudar química.

A que o senhor atribui a opção pela química?

Meu pai teve uma vida muito sacrificada como médico. Ele sempre nos aconselhava a estudar tudo que quiséssemos, menos medicina. No ginásio, eu estudava diária e sistematicamente química, física e matemática. Tornei-me um bom aluno nessas matérias e péssimo nas outras. Tanto assim que, quando prestei o vestibular em 1941, meu preparo em física, química e matemática era excelente, mas fui reprovado em ciências naturais. Meu desempenho nessa área foi tão ruim que um dos professores, indignado, me pôs para fora da sala, recomendando que eu freqüentasse feiras livres e cozinhas para aprender mais sobre o assunto. Mas, a sorte me acompanhou: pela primeira vez, foi permitida a segunda época no vestibular. Eu me preparei de maneira intensiva com o professor Erasmo Garcia Mendes, da Universidade de São Paulo, de quem me tornaria grande amigo. Hoje, se me perguntassem o que gostaria de estudar, eu continuaria a responder química, sem dúvida alguma. E começaria outra vez a carreira de pesquisador. Percorreria exatamente o mesmo caminho que percorri. A única diferença é que, tendo constatado minha maior vocação para a bioquímica, estudaria um pouco mais de biologia.

Não há nessa resposta uma idealização da carreira de pesquisador?

A carreira de pesquisador — não menos do que qualquer outra — é cheia de frustrações e satisfações. É uma carreira que exige dedicação. Ao sucesso que se pode obter como pesquisador corresponde sempre um grande esforço pessoal, às vezes obsessivo. Por isso, costumo recomendá-la apenas aos que colocam a criatividade acima do conforto. Como pesquisador, fiz sempre o máximo que era possível fazer. Se negasse tal fato, eu seria injusto com meus familiares, freqüentemente sacrificados em razão dessa minha dedicação à pesquisa. É, porém, interessante que, mesmo estando ciente dessa exigência de dedicação, o cientista raramente espera recompensas. Mesmo porque, se esperasse, poderia não recebê-las. A quantidade de pessoas qualificadas a receber recompensas é sempre muito maior do que o número destas.

Como era o ambiente na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras na época de seu ingresso?

O curso de química era excelente. Foi um grande privilégio ter convivido com professores como: Heinrich Rheinboldt, Heinrich Hauptmann, Giórgio Renato Levi, Ruy Ribeiro Franco, Abraão de Moraes, Paschoal Senise e outros. Lembro-me sempre da importância que esses mestres davam às aulas, da dedicação com que as preparavam. Aprendi com eles que ministrar aula é algo muito sério e que o raciocínio é mais importante do que o conhecimento: Este, de certa forma, sempre se encontra à disposição nas bibliotecas. O Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo  deixou ótimas lembranças e não preciso ressaltar a importância dessa escola para o desenvolvimento da química no Brasil. Já existem, em grande número, bisnetos científicos de Rheinboldt e de Hauptmann que atestam isso.

Quem eram seus companheiros de turma? Ligou-se a alguém em especial?

Mantenho uma boa lembrança do meu tempo de estudante de graduação e, portanto, dos meus colegas. Ao todo, éramos onze. A turma era excelente, bem acima da média. Havia uma certa competição entre os colegas e atribuo a isso o alto nível mantido. O trabalho experimental era intenso, sendo interrompido apenas pelas aulas. Trabalhava-se o dia inteiro e, com a carga de laboratório que nós tínhamos, era praticamente impossível ter outras atividades fora. Na química analítica quantitativa — em que era necessária habilidade manual — comecei a me atrasar. Com a afobação, o atraso começou a se dilatar. Decidi trabalhar com toda a calma, chegando ao laboratório ainda mais cedo e saindo ainda mais tarde. Deu certo e eu me recuperei no trabalho. Foi uma lição muito boa que aprendi sozinho: no laboratório a afobação é totalmente inadmissível.

Também freqüentava nossas aulas o Alberto Carvalho da Silva. Ele era do corpo docente da Faculdade de Medicina da USP e decidiu acompanhar o curso como ouvinte. Hoje, é diretor presidente da FAPESP. Também foi meu colega de turma o Ernesto Giesbrecht, professor de química aqui do Instituto de Química. Com ele a convivência perdura até hoje.

Rheinboldt foi a principal influência na sua carreira? Como era trabalhar com ele?

Diria que sim, embora outros professores, principalmente o Hauptmann, também tenham me influenciado. Fiz o doutoramento sob orientação do professor Rheinboldt. Trabalhava-se todos os dias da semana — sábados e domingos também -inclusive à noite. Não existiam bolsas de estudo para o doutoramento, o que explica a pressa em terminar o curso, para não continuar sendo sustentado pela família. Na realidade, com os recursos "franciscanos" disponíveis, o que se produzia era excelente. A educação química que adquiri com o professor Rheinboldt foi fundamental para a minha carreira. Aprendi que acima de tudo deveriam estar a seriedade de propósitos, a honestidade científica e o trabalho rigoroso. Percebi que as ideias pouco ou nada valeriam se não as abordassem experimentalmente e que tudo deveria ser consolidado com dados e provas convincentes. A formação científica que se adquire durante o doutoramento é, em geral, mais importante que os próprios resultados de pesquisa. Acredito que o amadurecimento científico justifica a obtenção do doutorado, mesmo se eventualmente os resultados de pesquisa forem modestos.

Os resultados científicos de seu doutoramento foram modestos?

O título da minha tese de doutoramento era Isosterismo, isologia e isomorfismo. De especial importância, era averiguar a possibilidade de substituição isomorfa, ou seja, de cristalização num mesmo retículo, quando, em certas classes de compostos, ocorre que um átomo de oxigênio seja substituído por um de enxofre ou selênio. O método de investigação, chamado degelofusão, foi desenvolvido por Rheinboldt, quando ele ainda estava na Alemanha. Era um método simples, adaptado às condições disponíveis naquela época. Alguns dos resultados que obtive foram editados em revistas internacionais, mas a maior parte veio a público no próprio Boletim da FFCL (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP).

senhor sempre teve a pesquisa como perspectiva profissional?

Sim. Quando entrei para a universidade já sabia que faria o doutorado. Não tive dúvida a respeito. Parecia-me que o curso de química englobava o doutoramento. Na época, começávamos a pós-graduação lavando frascos para os doutorandos mais velhos. Antes de abordar o seu próprio tema de pesquisa, a gente ficava encostado num doutorando, ajudando nos experimentos, limpando os frascos dele. Eu lavei muitos frascos.

Para quem?

Agora não me lembro, mas foi para mais de uma pessoa. Não me arrependo de tê-lo feito. Acho que o sistema até estava correto. Agora, vocês podem imaginar o choque que levei quando, depois de doutorado, fui trabalhar na Faculdade de Medicina da USP. Lá, o sistema era diferente. O Jaime Cavalcanti colocava o laboratório todo à disposição do Isaías Raw, que era, então, estudante de segundo ano. Claro que o Isaías sempre foi um estudante brilhante, mas essa postura contrastava violentamente com aquela na qual eu me educara.

Como o senhor definiu os seus primeiros temas de interesse? Em que consistiam?

Acabei o doutorado em 1946. No ano seguinte, fui convidado por Piero Manginelli a trabalhar na Fundação Andréa e Virgínia Matarazzo, instalada na Faculdade de Medicina da USP e voltada para o estudo do câncer. Na Fundação, viria a interessar-me por carcinogênese química. Achava fascinante o fato de pequenas mudanças na estrutura de certas moléculas poderem conferir atividade cancerígena. Hoje, decorridos mais de 40 anos, vejo o quanto minhas abordagens eram simplórias. Mesmo assim, minha passagem pela medicina resultou em várias publicações no exterior e, não menos importante, despertou meu interesse pela bioquímica. Tornei-me muito amigo de Piero Manginelli. Saí da fundação quando fui convidado pelo professor Hauptmann para ser seu assistente na cátedra de química orgânica e biológica do Departamento de Química da USP, em 1951. Lá, acompanhando a tradição do departamento, interessei-me pelo estudo dos compostos de enxofre.

Embora Rheinboldt e Hauptmann sejam reconhecidos como grandes químicos, considera-se que a química que ensinavam era do século passado. Como era a pesquisa em química praticada naquela época?

Fui aluno de ambos. Doutorei-me com Rheinboldt e fui assistente de Hauptmann. Conheci ambos muito bem e posso afirmar que essa crítica é improcedente. Os professores Rheinboldt e Hauptmann estavam há relativamente pouco tempo no Brasil. Provinham da Alemanha, país que antes da Segunda Guerra Mundial já ocupava posição de grande destaque em química. Eles eram jovens e já tinham ocupado cargos importantes. Como poderiam dar aulas desatualizadas? O que pode ter gerado essa crítica é o fato de ambos darem muita importância aos aspectos históricos. Vou dar um exemplo: durante todo o primeiro mês do curso de bioquímica, com duração de três horas por semana, Hauptmann - e eu posteriormente — ensinava química de carboidratos, principalmente estereoquímica. Ele seguia em grande parte o desenvolvimento histórico, um belíssimo exercício de raciocínio. Isso, a meu ver, tem um valor didático enorme. Da mesma forma, eles se esforçavam para que os estudantes adquirissem uma mentalidade analítica. No caso da química analítica, isso chega a ser mais importante do que familiarizar-se com os métodos mais atuais.

Nos anos 50, já convivendo com Hauptmann, lembro-me de seu entusiasmo pelo mecanismo das reações orgânicas, campo que naquela década alcançava pleno desenvolvimento. Lembro-me que Hauptmann já fazia uso extensivo daqueles conceitos. Em suma, acho improvável que esses pesquisadores de alto nível ministrassem aulas antiquadas, porque, apesar das grandes dificuldades que encontravam no Brasil, continuaram a produzir e publicar nas principais revistas internacionais. Rheinboldt e Hauptmann deixaram uma mensagem bem clara: pode-se fazer bons trabalhos, apesar dos recursos serem escassos.

A criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), em 1951, modificou em alguma coisa a trajetória da química no país?

Não tenho credenciais para avaliar o impacto da criação do CNPq na ciência, particularmente na química, porque naquela época eu estava iniciando minha carreira. O que posso garantir é que a criação do conselho veio ao encontro das aspirações da comunidade científica.

Que trabalhos o senhor desenvolveu na USP, nesse período?

Estudei a expansão da camada de elétrons do enxofre. Normalmente, nos compostos sulfurados, o enxofre tem seus elétrons acomodados nos orbitais 's' e 'p', mas suspeitava-se que, em certos casos, o enxofre também poderia usar o orbital 'd'. Publiquei dois artigos sobre o assunto. "The expansion of the sulfur outer shell", publicado no Chemical Reviews, em 1960, despertou considerável interesse e rendeu-,me o Prêmio Hans Feigl, destinado a pesquisas em ciências básicas. O prêmio havia sido instituído por Fritz Feigl e senhora, em homenagem ao filho que havia falecido.

A que o senhor atribui a repercussão desse trabalho? Era realmente um trabalho inovador?

Não fui eu, absolutamente, o primeiro a dizer que o enxofre poderia expandir sua camada de elétrons. O que fiz foi uma revisão crítica do assunto. Existiam poucos trabalhos e eu me debrucei sobre o tema. Concluí que é muito provável que, em certas classes de compostos sulfurados, o enxofre expanda sua camada exterior. O artigo publicado no Chemical Reviews foi minha despedida dessa linha de pesquisa. Desde 1956, eu estava migrando para a bioquímica.

Por que o senhor optou pela bioquímica?

A mudança para a bioquímica foi resultado dos meus interesses e das necessidades da cátedra. Em 1956, estive no laboratório de Frank Westheimeir, na Universidade de Harvard, como bolsista da Fundação Rockefeller. Lá desenvolvi trabalho sobre a cinética da reação catalisada pela enzima álcool-desidrogenase. Quando voltei, me dediquei por mais de uma década ao estudo das coenzimas respiratórias de natureza piridínica.

Em 1960, o professor Hauptmann faleceu e eu assumi seu lugar interinamente na cátedra de química-orgânica e biológica. O fato de a cátedra ser dupla exigiu que eu fizesse exames de livre-docência e de cátedra em ambas, química orgânica e biológica. Estudar para esses exames ajudou muito minha vida profissional. Para obter o doutorado também eram exigidos dois exames, em disciplinas escolhidas pelo candidato. A maioria escolhia química orgânica ou inorgânica e uma segunda matéria, geralmente a chamada química superior, que existia naquela época. Eu escolhi físico-química e mineralogia. Chamaram-me de louco. Mas era apenas mais um desafio.

senhor acha que aceitar desafios é uma característica sua ou acha que ela é inerente à atividade científica?

Acho que não é uma atitude comum. Meus colegas, geralmente, escolhiam coisas mais fáceis. Que eu me lembre, fui o único que optei por físico-química e mineralogia. O porquê de gostar de desafios, não sei, acho que é inato. Seria injusto dizer que não existem outros casos. Aqui mesmo no Instituto de Química da USP existem diversas pessoas que abordam problemas que exigem muita coragem. Outros preferem atacar apenas as questões que sabem que irão render resultados.

O senhor aparenta ser uma pessoa totalmente identificada com a atividade científica...

Sim, de fato. Fora da atividade científica, não sei fazer nada. Isso me causa muita preocupação, principalmente agora que se aproxima — faltam poucos anos — para a aposentadoria compulsória. Vejo a aposentadoria com preocupação. Não tenho nenhum hobby, nenhuma perspectiva, a não ser continuar a trabalhar. Não é brincadeira ou exagero. Realmente não tenho capacidade e habilidade para mais nada. A única coisa que sei fazer é o que faço aqui.

Como surgiu seu interesse pela produção bioquímica de estados eletronicamente excitados?

Em 1959, ao ler um livro sobre espectroscopia de biomoléculas, ocorreu-me que os hormônios da tireóide poderiam agir no nível submolecular via um efeito especial, ali descrito e chamado de "efeito de átomos pesados". Essa ideia implicava a existência de moléculas excitadas no estado triplete. A pergunta que nos fizemos foi se haveria formação de moléculas excitadas no estado triplete em sistemas biológicos e, em caso afirmativo, qual a função. Interessante, que alguns meses mais tarde li um livro do famoso bioquímico húngaro Albert Szent-Gyorgyi, publicado em 1955, em que as mesmas ideias que me ocorreram eram citadas. Szent-Gyorgyi simplesmente as mencionava e eu, embora tenha tentado, por muito tempo quase nada consegui fazer a esse respeito.

No início dos anos 60, Emil White também aventou a possibilidade de sistemas biológicos formarem moléculas em estado triplete. O White era químico orgânico e trabalhava com dioxetanos (compostos peroxídicos intermediários de processos químicos e bioluminescentes) na Universidade Johns Hopkins (EUA). Foi ele que demonstrou que os dioxetanos, ao se clivarem, produzindo moléculas em estado triplete, poderiam promover processos de tipo fotoquímico. Outros também trabalharam nesse assunto, como Ângelo Lamola, dos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, que induziu à dimerização das bases do ADN (ácido desoxirribonucleico). Ambos, White e Lamola, levantaram a hipótese de se formarem estados tripletes em sistemas biológicos. White chegou mesmo a fazer uma lista de prováveis produtos gerados por processos do tipo fotoquímico em sistemas biológicos, incluindo as lumicolchicinas, a vitamina D e a enzima que quebra os dímeros das bases do ADN.

Em 1974, White e eu, simultânea e independentemente, publicamos artigos a esse respeito. Inclusive, tivemos conhecimento dos trabalhos um do outro porque trocamos os manuscritos para avaliação.

Agora, a iniciativa de pesquisa em sistemas biológicos, tentando mostrar que em sistemas bioquímicos também podem se formar moléculas em estado triplete, é nossa.

Mais de dez anos foram necessários para que a ideia original começasse a ser pesquisada. A que motivos o senhor atribui essa demora?

Quando a ideia surgiu, estávamos no início da década de 1960. A dificuldade é compreensível. Em ciência, uma hipótese ou descoberta lançada prematuramente nada vale. Ela terá necessariamente que esperar o desenvolvimento de outros campos do conhecimento. No caso do estudo dos estados excitados em sistemas biológicos, foi fundamental o desenvolvimento da química dos dioxetanos, iniciada por Karl Kopecky e C. Mumfbrd no Canadá, em 1969, e das alfaperoxilactonas (dioxetanonas), iniciada por W. Adam e C. J. Liu em Porto Rico, em 1972. A partir da demonstração desses pesquisadores de que a clivagem desses compostos é unimolecular e luminescente, devido à produção de compostos carbonílicos eletronicamente excitados, tornou-se possível, para nós, investigar as reações bioquímicas que procediam, pelo menos formalmente, através de intermediários desse tipo — dioxetanos e peroxilactonas — e verificar se os produtos se formavam no estado triplete. Curiosamente, a ideia original — que aventava a possibilidade de os hormônios da tireóide funcionarem por efeito de átomos pesados — conhecida por alguns autores como hipótese de Szent-Gyorgyi e Cilento, embora fecunda, é provavelmente errônea. De fato, nos anos setenta foram sintetizados, na Universidade de São Francisco (EUA), compostos derivados da tironina — esqueleto básico dos hormônios da tireóide — desprovidos de átomos pesados e que mostraram atividade hormonal.

Como foi a receptividade da comunidade científica aos primeiros trabalhos que o senhor publicou sobre estados excitados em sistemas biológicos?

Como era de se esperar, nossos trabalhos sobre a formação de espécies tripletes em sistemas bioquímicos foram recebidos com muito ceticismo. Antes de abordar experimentalmente o problema, em 1972, escrevi um artigo teórico sobre a possibilidade de existência de espécies excitadas em sistemas biológicos para a Chemico-Biological Interactions. Passados seis meses, o que é um prazo muito longo para uma revista científica, escrevi ao editor cobrando uma posição sobre o artigo. Na resposta que recebi o editor confessava não saber o que fazer. Havia submetido o artigo a vários assessores, cujas opiniões oscilavam entre "extremamente interessante" e "um lixo". Em vista disso, estava decidido a submetê-lo ao editor europeu. Depois de algum tempo, recebi carta desse editor, em que dizia que, embora possuísse méritos, meu artigo não poderia ser publicado por estar fora dos padrões editoriais da revista. Ou seja, de forma sutil, recusava meu artigo. Isso não me desanimou. Continuei trabalhando. Em 1973, submeti outro artigo mais atualizado e muito teórico para a Quarterly Review of Biophysics, um periódico não menos exigente que o anterior, e não houve dúvida, o artigo foi aceito prontamente.

A que o senhor atribui a primeira recusa?

À cautela da comunidade científica. Se alguma coisa nova surge, a comunidade reluta e aguarda provas para aceitá-la. No caso de nossas pesquisas, começamos a parte experimental em 1974 e, somente dez anos após termos demonstrado a ocorrência do estado triplete em sistemas biológicos, o ceticismo inicial começou a arrefecer. Também porque durante esses anos nossa meta  tornou-se mais abrangente.

Quais são os seus objetivos atuais?

Estamos interessados em demonstrar que a célula pode realizar certos processos fotoquímicos mesmo em ausência de luz. Essa potencialidade expressar-se-ia tanto em processos normais como  em deletérios. Em outras palavras: é bem sabido que ocorrem in vivo emissões de luz. É o fenômeno da bioluminescência. Nesta, uma reação enzimática produz uma molécula excitada no estado singlete. Em seguida, a molécula volta ao estado fundamental emitindo luz. Existe, no entanto, um estado excitado chamado triplete, cuja duração é bem mais longa do que o estado singlete. O triplete poderia, portanto, ser química e biologicamente muito mais importante. Vários pesquisadores compreenderam a potencialidade deste novo campo, o qual  chamamos de "fotobiologia sem luz". Entretanto, por se tratar de um campo de interesse multidisciplinar, ainda está por se manifestar com efusividade o interesse dos bioquímicos e biologistas.

Quem o está acompanhando nessa nova linha de pesquisa?

O fato de o projeto ter sido iniciado e ter tido sempre desenvolvimento bem satisfatório deve-se aos meus colegas. Refiro-me aos estudantes de pós-graduação, aos já graduados, daqui ou que vieram do exterior, e a alguns professores estrangeiros. É impraticável mencionar todos. Muitos contribuíram com ideias básicas. Atualmente, colaboram no projeto três estudantes de pós-graduação e a Ana Lúcia Tabet Oller do Nascimento, que aqui se doutorou em 1987. Para 1991, esperamos a chegada do professor Hugh Brian Dunford, da Universidade de Alberta- Edmonton-Canadá, que deverá passar conosco metade do seu ano sabático.

Como o senhor vê essa demora em reconhecer a potencialidade das pesquisas que vocês estão desenvolvendo?

Como já mencionei anteriormente, a comunidade científica é muito cautelosa. A demora de reconhecimento e demonstração de interesse é compreensível, na medida em que o impacto de uma descoberta, não importa quão importante seja, também depende de sua divulgação e propagação. Existe ainda o fato que já mencionei de se tratar de um campo multidisciplinar. Ideias nada valem, se não forem divulgadas e investigadas. As dificuldades, o ceticismo e as frustrações são parte do preço que se paga quando não se é propenso ao conforto de continuar linhas de pesquisa já abertas e trilhadas.

desenvolvimento dessa nova linha de pesquisa — a fotobiologia sem luz — exigiu uma metodologia específica?

Sim, nós tivemos que desenvolver toda uma metodologia e um instrumental apropriado. Foi necessário, por exemplo, desenvolver os detectores de estado triplete, ou seja, sensibilizadores (sensitizadores) apropriados que recebem a energia de espécies tripletes e a convertem em fluorescência. O contador de fótons que usávamos para estudar a emissão de energia foi construído por um pesquisador japonês, o Yoshiaki Shimizu, que, devido à situação econômica instável da pesquisa no Brasil, acabou retornando ao Japão. Foi graças à montagem dessa aparelhagem que conseguimos provar a formação bioquímica de produtos excitados no estado triplete. O contador de fótons é um aparelho que não existe à venda em nenhum lugar do mundo. Perder o Shimizu foi um grande golpe para todos nós.

Por mais barato que seja, o início de uma linha de pesquisa e a manutenção de um grupo de pesquisa são dispendiosos. Onde o senhor arrumou recursos para tal?

Parte dos recursos foi conseguida da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), através do projeto Bioquímica-Fapesp. A FAPESP continua a nos ajudar. A Financiadora de Estudos e Projetos ( FINEP)  ajudou-nos  muito, mas sua contribuição começou a minguar e presentemente é nula. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem nos ajudado especialmente de forma indireta. Nesta última década, tivemos uma esplêndida ajuda da Fundação Volkswagen, graças à cooperação que mantivemos com o professor Waldemar Adam, da Universidade de Wurzburg. A Fundação Volkswagen, de forma totalmente inusitada, renovou duas vezes a doação. Em seguida, quem nos ajudou foi outra instituição alemã, a Deutsche Gesellschaft für technische Zusammenarbeit (GTZ).

Quando vocês iniciaram os estudos sobre fotobiologia sem luz previram as dificuldades que enfrentariam?

Nós antecipamos grandes dificuldades. Nós nos demos conta de que espécies tripletes são suprimidas por oxigênio, o que tornaria difícil sua detecção. Mais ainda: se uma espécie triplete desempenhasse um papel, ela estaria engajada em tal função e seria muito difícil detectá-la. Tivemos sorte. A oxidação do isobutanal com acetona e ácido fórmico, catalisada por peroxidase de rábano — uma das primeiras reações que escolhemos para estudo e que viria a se mostrar uma das mais gratificantes — apresentou uma emissão de tal grandeza que foi possível fazer um espectro. Este indicou que a emissão provinha da acetona triplete. Com o uso de sensibilizadores apropriados, confirmamos que se tratava mesmo de acetona triplete. Assim ficou provada a formação de estados tripletes em sistemas bioquímicos apropriados. A partir daí, foi possível inferir que, se as moléculas no estado triplete transferiam energia para sensibilizadores, poderiam fazê-lo também para determinados aceptores, induzindo processos bioquímicos na ausência de luz. Demonstramos, por exemplo, que é possível promover a transformação de colchicina em lumicolchicinas por acetona triplete gerada enzimaticamente.

Do ponto de vista biológico, qual a importância dessas pesquisas?

A principal questão que decorreu de nossas pesquisas - também apontada anteriormente por nós e por outros, entre eles o Emil White — foi se poderiam ocorrer processos biológicos na completa ausência de luz. Emil White, como já disse, apresentou em 1974 uma relação de processos tipicamente bioquímicos que ocorreriam in vivo e na ausência de luz. A transformação da colchicina em lumicolchicina, por nós conseguida, serve de modelo para explicar como a Colchicum autumnale (cólquico) faz essa conversão em completa ausência de luz.

A fotobioquímica sem luz também pode explicar alguns processos deletérios importantes. Já foi demonstrado por Kendric Smith e Neal Sargentini, na Universidade de Stanford (EUA), que, em certas cepas de bactérias deficientes em reparo por excisão, a mutagênese espontânea está sob o mesmo controle genético da mutagênese produzida por radiação violeta. Kendric Smith acha que uma possível explicação para essa mutagênese espontânea é a formação endógena de espécies excitadas. Isso é bem provável, mas, em geral, é necessário tomar grandes cuidados ao tentar explicar certos processos pela fotobioquímica sem luz. Por exemplo, a formação da vitamina D em peixes que vivem na escuridão das grandes profundidades do mar poderia, segundo Emil White, ser explicada através da fotobioquímica sem luz, porque, de fato, normalmente, a formação da vitamina D ocorre por um processo do tipo fotoquímico. Acredito, entretanto, que ela também possa ser explicada por um processo alimentar em cadeia, que se iniciaria na superfície do mar e que se propagaria até as profundidades. Existem, porém, certos casos de formação de vitamina D no escuro para os quais não existe explicação alternativa.

Que outros centros de pesquisa estão trabalhando nessa linha de pesquisa?

Exclusivamente em fotobioquímica sem luz, nenhum. Há vários laboratórios interessados na formação de estados excitados, mas sem ênfase nessa possível função, com exceção do caso do oxigênio singlete. Essa espécie tem sido muito estudada. Já ocorreram vários simpósios internacionais que abordaram o tema dos estados excitados em sistemas biológicos.

O senhor tem uma "marca registrada", reconhecida por todos do Instituto de Química, e que denota sua relação especial com a literatura especializada. Que mistério é esse?

É que meu trabalho em fotobioquímica sem luz exige o acompanhamento da literatura internacional em vários campos — bioquímica, físico-química, química orgânica, toxicologia, farmacologia, entre outros. Pelo menos duas vezes por semana, sou obrigado a ir à biblioteca e, em certos períodos, passo por lá todos os dias. Em cada livro ou periódico que leio marco um X no canto. Isso há mais de 15 anos, o que explica a "marca" ter-se tornado conhecida.

Tenho um sistema muito primitivo de acompanhamento e registro de referências importantes. Anoto tudo em folhas soltas e as informações mais importantes também anoto num bloco que mantenho sobre a escrivaninha. Se me pedem uma referência ou se for preciso retomar alguma nota, sou obrigado a rever todas as anotações. Mas, gosto do sistema que criei. Percorrendo sistematicamente minhas notas, encontro coisas inusitadas, que interessam a mim ou aos que trabalham no laboratório, e que, de outra maneira, ficariam esquecidas. Um computador seria certamente muito eficiente, mas não me permitiria essa revisão sistemática da informação.

senhor divide a sua atividade atual entre o laboratório e a biblioteca?

Não, no laboratório não acendo mais nem um bico de gás. Há muitos anos não trabalho em laboratório e acho que não saberia lidar com os novos aparelhos. Dois fatores explicam isso: a tendência natural de com o tempo o pesquisador dirigir-se para a escrivaninha e a minha deficiência visual.

Mas o senhor continua orientando...

Sim, mas são coisas distintas: um treinador de grandes nadadores não é necessariamente um grande nadador, de forma que posso orientar independente de lidar ou não em laboratório.

Seu exemplo é apenas parcialmente adequado e, de certo modo, perigoso. No Brasil, temos vários casos de professores que nunca fizeram pesquisa ou formaram grandes cientistas. Não é o seu caso. O senhor é reconhecidamente um grande cientista e tem formado excelentes profissionais. Agora sua fama é de ser extremamente exigente. É verdade?

Em parte. Aprendi desde cedo que não se pode agradar a todos, se queremos padrões razoáveis de qualidade. Lembro-me que, em 1941, antes de prestar o vestibular, encontrei o professor Hauptmann e, com a ingenuidade dos 17 anos, perguntei-lhe se o exame seria fácil ou difícil. A resposta foi imediata: "Nós não dificultamos nem facilitamos". Era este o princípio que norteava o Departamento de Química da USP, naquela época, e que eu herdei. Acredito que não se deve dificultar os exames, para que todos possam manifestar suas aptidões e realizar seus projetos. Mas,não se deve também facilitá-los, para que a escola possa alcançar um bom nível e justificar sua razão de ser. No passado, algumas de minhas atitudes não foram compreendidas e cheguei a ser tachado de autoritário. Por outro lado, foram também poucas as vezes em que não houve reconhecimento e retribuição à minha liberalidade. Em maior ou menor grau, também fui considerado um liberal.

Fale um pouco sobre a criação do Departamento de Bioquímica da USP. Como avalia a experiência de "fusão" da química e da bioquímica no Instituto de Química? Que benefícios, trouxe à pesquisa?

A integração das várias "químicas" na cidade universitária foi um acontecimento altamente benéfico, especialmente no que tange à pesquisa e, portanto, para o desenvolvimento da química no país. Felizmente, pelo menos para mim, na reestruturação da universidade, a bioquímica acompanhou as "químicas". Não tenho dúvida de que alguns elementos teriam preferido as biociências. Na verdade, o assunto é discutível; pode-se encontrar a bioquímica integrando diferentes instituições.

A integração da bioquímica com as mais diferentes formações, habilidades e interesses foi extremamente salutar. A Bioquímica da USP forma hoje, um departamento cujo nível médio é bem alto. Sempre se encontra um colega para auxiliar, quando alguém se defronta com um problema bioquímico ou químico que foge à sua competência específica. A convivência fez também com que se desenvolvesse um sentido de responsabilidade ainda maior. Isso, por sua vez, fez com que vários colegas progredissem de forma excelente. O projeto Bioquímica-FAPESP veio cimentar essa integração. Dando-nos verbas que para os nossos padrões poderiam ser consideradas generosas e, ao mesmo tempo, fazendo a "cobrança" devida, o "publique ou pereça" de certa forma se estabeleceu. Considero-o um fator propulsor, se bem que pessoalmente não avalio os cientistas somente pelo número de publicações. Inicialmente a integração — como se poderia prever — deparou-,se com algumas dificuldades, mas felizmente o bom senso prevaleceu.

O Instituto de Química da Unicamp, de cuja criação o senhor participou diretamente, seguiu um modelo diferente. Fale um pouco dessa experiência.

Meu primeiro contato com o que viria a ser a Unicamp ocorreu em outubro de 1966 e visava à possibilidade de lecionar sem me desligar da USP. A Unicamp já havia sido concebida e o professor Zeferino Vaz convidou-me para organizar o futuro Instituto de Química. Aceitei com entusiasmo. A minha atuação em Campinas durante 12 anos — sem deixar a USP — viria a constituir-se em motivo de grande satisfação pessoal.

Embora minha inclinação sempre tenha sido para a pesquisa, sou de opinião que existem outras atividades tão importantes quanto esta. Encarei organizar o Instituto de Química da Unicamp como uma excelente oportunidade para tentar evitar as partes negativas, comuns a tantas instituições. Procurei colocar na tarefa toda a minha experiência adquirida aqui e no exterior. Só foi possível criar um bom instituto graças ao descortino de Zeferino Vaz e à dedicação dos vice-diretores Jayr de Paiva Campello e Aécio Pereira Chagas.

No Instituto de Química da Unicamp, elementos inativos nunca foram tolerados. É claro que não se pode pretender que todos tenham inclinações ou habilidades para a pesquisa. No caso de não as terem, a solução é atribuir-lhes maior carga didática e outras responsabilidades. Dessa forma, acredito que incutimos a importância da pesquisa e acho que deu resultado: com freqüência — e com grande prazer — vejo publicações da Unicamp na literatura internacional.

Não foi tarefa fácil criar um corpo docente de química na Unicamp. A não ser que eu fosse procurado, nunca aliciei elementos nacionais. De fato, naquela época, a falta de gente qualificada em química era notória e eu não queria desfalcar nenhuma instituição. Por essa razão, periodicamente, anunciávamos em revistas internacionais a disponibilidade de posições. Havia sempre muitas respostas e começava a seleção. A princípio não se podia ser muito exigente, pois o Instituto pouco ou nada podia oferecer. Mesmo assim, a maioria contratada era de bom nível. A fixação foi difícil. Muitos dos pesquisadores contratados, mais cedo ou mais tarde, voltaram ao país de origem ou se dirigiram a outros lugares. Outra característica da organização do Instituto de Química da Unicamp é que os melhores elementos nunca tiveram necessidade de solicitar promoção. A diretoria era a primeira a propô-la.

Como o senhor avalia a produção científica dos dois institutos, em relação aos outros do país e a pesquisa produzida no exterior?

Uma comparação entre os Institutos de Química da USP e da Unicamp seria para mim bastante embaraçosa. Explico-me: o Instituto de Química da USP engloba também o Departamento de Bioquímica, do qual faço parte. Deveria, pois, fazer uma comparação entre o Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química da USP e o Instituto de Química da Unicamp. Limito-me a dizer que ambos têm grandes méritos e que, em conjunto, são os responsáveis por uma grande parte — senão a maior — das publicações internacionais do Brasil em química.

senhor exerceu cargos administrativos na USP ou na Unicamp?

Por duas vezes fui eleito chefe do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP. Se eu me saí satisfatoriamente bem, foi graças à ajuda que tive dos colegas, entre eles o Walter Colli e o José Ferreira Fernandes. Atualmente sou vice-chefe do departamento. Na Unicamp fui organizador e coordenador/diretor do Instituto de Química, no período entre 1966 e 1978. Ocupar cargos administrativos é uma atividade normal da carreira acadêmica. É praticamente impossível que alguém, durante toda a sua vida profissional, não tenha exercido cargos administrativos.

Título

Entrevista concedida a Ana Lúcia Tabet Oller Nascimento e Hernán Chaimovich (Instituto de Química, USP), Carmen Lúcia Weingril e Vera Rita da Costa (Ciência Hoje).