Moscas indicam que sistemas agrícolas ameaçam biodiversidade

Moscas como bioindicador para perda de biodiversidade em sistemas agrícolas

Equipe Canal Ciência

Marlúcia Martins

Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG

Esta pesquisa tem como foco compreender as mudanças da riqueza, composição e abundância relativa das espécies nas florestas primárias transformadas em campos de cultura ou reduzidas a fragmentos pequenos (capoeiras).

Projeto de pesquisa

Estudos recentes tem discutido a validade de medir as alterações na biodiversidade (isto é, na variedade e variabilidade das espécies animais e vegetais e dos ecossistemas) usando espécies bioindicadoras. Um indicador biológico, ou bioindicador, é um grupo de organismos que pode ser usado para representar processos biológicos que estejam ocorrendo no ecossistema como um todo.

O que se supõe é que o que estiver ocorrendo com a espécie eleita como bioindicadora (que está sendo estudada), esteja acontecendo também com outros grupos biológicos (que não estão sendo estudados). O estudo detalhado do bioindicador, assim, substitui o estudo global, exaustivo e na prática impossível.

Nessa pesquisa são estudadas algumas famílias de moscas saprófitas (isto é, que se nutrem de restos orgânicos em putrefação),. para entender os efeitos da remoção de florestas tropicais primárias para dar lugar a sistemas agrícolas de subsistência. As saprófitas podem ser tomadas como bioindicadoras, porque algumas espécies destas moscas só vivem nas florestas tropicais, e outras somente em áreas perturbadas pelo homem. O foco do estudo está nas mudanças da riqueza, composição e abundância relativa das espécies nas florestas primárias transformadas em campos de cultura ou reduzidas a fragmentos pequenos (capoeiras).

Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará fizeram coletas no município de Igarapé-Açu, no nordeste do Pará, em áreas de floresta tropical, de ocupação urbana e de pequenas plantações, que compõem a paisagem da região. Com base nas coletas, feitas com armadilhas para moscas dispostas em vários pontos, verificou-se um empobrecimento de 50% para as espécies de moscas varejeiras e de 80% para as espécies de moscas de frutas, quando comparadas com os inventários de florestas primárias.

Além disso, foram observadas três quatro (a última é recente) espécies de moscas invasoras, assinaladas na Amazônia desde a década de 70, vindas da África e da Malásia, como conseqüência direta de alterações humanas. As espécies invasoras competem com a fauna nativa com sucesso e acabam por comprometer ainda mais sua biodiversidade e seu número, de forma geral.

O estudo dos comportamentos e das alterações nas populações destas moscas são importantes para análises sobre biodiversidade. Os resultados da pesquisa permitem estimar a intensidade da perda de diversidade para o sistema como um todo. Esta estimativa indica que menos de 20% da fauna original pode se preservar quando a floresta é substituída por áreas agrícolas. E mesmo assim estes 20% só conseguem sobreviver se, na paisagem agrícola, for contemplada a permanência de algumas áreas de mata preservada. A tendência para estas áreas é o estabelecimento de uma fauna cosmopolita, semelhante a qualquer outra área perturbada nas regiões tropicais do planeta.

A pesquisa pretende reunir dados para aprimorar as informações que auxiliem planejamentos globais, identificando qual é a composição de paisagem preserva a fauna local,quee maximiza a diversidade de espécies e, conseqüentemente, todos os benefícios que esta diversidade pode proporcionar, em termos de qualidade de vida, para a população local.

As pesquisadoras Maria Cristina Esposito e Rita de Cássia Oliveira Santos (ambas da Universidade Federal do Pará) colaboraram com o projeto.

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February 11, 2002