Ciência mostra porque preservar a vegetação de mangues e restingas é essencial para as comunidades pesqueiras
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Ciência mostra porque preservar a vegetação de mangues e restingas é essencial para as comunidades pesqueiras
Título original da pesquisa
A importância das formações vegetais da restinga e do manguezal para as comunidades pesqueiras
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Fonte(s) Financiadora(s)
Resumo
A pesquisa propôs ampliar e fornecer informações sobre o uso da vegetação dos ecossistemas litorâneos das comunidades locais de pescadores no litoral paraense.
O que é a pesquisa?
O litoral amazônico tem cerca de 1200 quilômetros abrangendo os estados do Amapá, Pará e Maranhão. O litoral do Pará, a leste da desembocadura do Amazonas, destaca-se por sua forma recortada com estuários pouco profundos (rias) separadas por pontas arenosas ou lamosa, integradas por ecossistemas de mangues e restingas, muito ricos em recursos alimentares e assim habitados desde a pré-história.
Esta pesquisa, levada a cabo por cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi, visa levantar, ampliar e fornecer informações sobre o uso da vegetação desses ecossistemas litorâneos pelas comunidades locais de pescadores, identificando as espécies usadas na construção de currais, no acondicionamento de alimentos, na medicina caseira e como nutrientes.
A pesquisa está focada nas vilas de pescadores de Marudá, Camará e Bacuriteua, pertencentes ao município de Marapanim (PA), e localizadas na Zona do Salgado, composta pelos municípios que sofrem influência do Oceano Atlântico.
Esta pesquisa, levada a cabo por cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi, visa levantar, ampliar e fornecer informações sobre o uso da vegetação desses ecossistemas litorâneos pelas comunidades locais de pescadores, identificando as espécies usadas na construção de currais, no acondicionamento de alimentos, na medicina caseira e como nutrientes.
A pesquisa está focada nas vilas de pescadores de Marudá, Camará e Bacuriteua, pertencentes ao município de Marapanim (PA), e localizadas na Zona do Salgado, composta pelos municípios que sofrem influência do Oceano Atlântico.
Como é feita a pesquisa?
Para obter as informações foram aplicados questionários, submetidos no mínimo a seis informantes por local pesquisado. As perguntas se centram nas espécies usadas, tipos de uso e locais de ocorrência das plantas. Reuniões com a comunidade e depoimentos diretos complementaram os dados.
As espécies vegetais citadas foram coletadas com auxílio de moradores, conhecedores de seus nomes vulgares e identificadas pelos métodos tradicionais utilizados em taxonomia. O material fértil está depositado no Herbário MG do Museu Paraense Emílio Goeldi.
A pesquisa amplia o leque conhecido dos usos de espécies vegetais pelas populações costeiras, incluindo - além de alimentação, medicina caseira e confecção de currais - a construção de barcos e a obtenção de carvão, tintas e resinas para calafetação das embarcações. As plantas são provenientes de matas, campos, igapós e principalmente mangues e restingas da área.
Os resultados ressaltam a importância do ecossistema manguezal para as comunidades pesqueiras, já que além de criadouros naturais e abrigos para espécies de peixes, camarões, caranguejos e aves; de protegerem o litoral contra erosões e tempestades e reterem sedimentos evitando o assoreamento. A vegetação destes ecossistemas é fonte de madeira, usada na construção de casas, barcos, cercas e postes, bem como para lenha e carvão. Cascas e folhas também contém tanino, poderoso adstringente usado na curtição do couro, no tingimento das velas e na medicina caseira, para curar disenterias e hemorróidas.
As espécies conhecidas como mangueiro (Rizophora mangle ), tinteiro (Laguncularia racemosa) e a siriubeira (Avicennia germinans) fornecem moirões e varas usadas para construir currais de pesca. Um único curral demanda de 100 a 200 moirões (6 a 7 metros de altura) e 200 a 400 varas (4 m de altura), mas a retirada destas madeiras ocorre de forma sustentável, em pontos variados, respeitando o tamanho das árvores e aguardando a recomposição da vegetação nos locais já explorados.
Nas restingas da área pesquisada estão identificadas diversas formações vegetais nas quais ocorrem espécies aproveitáveis:
1. Nas áreas ainda banhadas pelas marés ocorre a espécie Spartina alterniflora, que vegeta sobre pedras e de cujas raízes faz-se um chá contra a asma;
Entre as plantas rastejantes, nos primeiros cordões de dunas, está a salsa-de-praia (Ipomoea pes-caprae Rottb.), usada em banhos contra coceiras, e a losna (Ambrosia microcephala) usada contra anemia, cólicas, diarréias e como alucinógeno;
Nos brejos que ficam no reverso dos cordões de dunas, e que são áreas inundadas periodicamente, vive a verônica branca (Dalbergia ecastophyllum) cujas raízes e cascas combatem inflamações uterinas e anemia, e a jipooca (Entada polyphylla), de cuja raiz extraí-se uma espuma que alivia coceiras;
Na restinga aberta com capins e ervas intercaladas por moitas e arbustos, encontra-se o umiri, ou mirim (Humiria balsamifera) cujo fruto é comestível e cujo tronco fornece cavacos para a cobertura de casas. Do muruci da praia (Byrsonima crassifólia) aproveitam-se os frutos, e da copaíba (Copaifera martii), o chá da casca como antinflamatório. Na área campestre há sempre vivas e orquídeas com potencial de aproveitamento como plantas ornamentais;
Na mata da restinga, não muito densa, com árvores de 5 metros em média, os troncos finos são muito usados para confeccionar carvão e fabricar varas para cercas e assoalhos das palafitas onde são guardados os artefatos de pesca. Da sucuuba (Himatanthus articulata) extrai-se o leite da casca, usado contra a tosse e em emplastros para contusões, sendo o chá da entrecasca abortivo. O chichuá, ou barbatimão (Maytenus sp.) é afrodisíaco, o abacaxi do mato (Ananás nanus) é outro abortivo, e o bacuri (Platonia insignis) dá frutos comestíveis, usados em doces;
Nas dunas internas, fixas e semi fixas, finalmente, há arvores maiores, cuja madeira é aproveitada em construções; plantas medicinais como o mandacaru (Cereus sp.), usado em doenças renais; frutíferas, como o ajiru (Chysobalanus icaco) e mistas, como o caju (Anacardium occidentale) cujas frutas são comestíveis, assim como as cascas e raízes são remédios.
Ainda entre as ervas que vicejam entre as dunas encontra-se a “sete sangrias” (Heliotropium polyphyllum), usada como depurativo do sangue, a vassourinha (Scoparia dulcis) que é vermífuga, a famosa quebra-pedra (Phyllanthus niruri), diurética e usada para eliminar cálculos renais, e a ipecacunha (Hybanthus calceolaria), que é antidiarréica e amebicida. Mencionem-se ainda plantas que fornecem fibras, da família das palmas, usadas para acondicionar pescados e cobrir telhados e paredes de casas.
As espécies vegetais citadas foram coletadas com auxílio de moradores, conhecedores de seus nomes vulgares e identificadas pelos métodos tradicionais utilizados em taxonomia. O material fértil está depositado no Herbário MG do Museu Paraense Emílio Goeldi.
A pesquisa amplia o leque conhecido dos usos de espécies vegetais pelas populações costeiras, incluindo - além de alimentação, medicina caseira e confecção de currais - a construção de barcos e a obtenção de carvão, tintas e resinas para calafetação das embarcações. As plantas são provenientes de matas, campos, igapós e principalmente mangues e restingas da área.
Os resultados ressaltam a importância do ecossistema manguezal para as comunidades pesqueiras, já que além de criadouros naturais e abrigos para espécies de peixes, camarões, caranguejos e aves; de protegerem o litoral contra erosões e tempestades e reterem sedimentos evitando o assoreamento. A vegetação destes ecossistemas é fonte de madeira, usada na construção de casas, barcos, cercas e postes, bem como para lenha e carvão. Cascas e folhas também contém tanino, poderoso adstringente usado na curtição do couro, no tingimento das velas e na medicina caseira, para curar disenterias e hemorróidas.
As espécies conhecidas como mangueiro (Rizophora mangle ), tinteiro (Laguncularia racemosa) e a siriubeira (Avicennia germinans) fornecem moirões e varas usadas para construir currais de pesca. Um único curral demanda de 100 a 200 moirões (6 a 7 metros de altura) e 200 a 400 varas (4 m de altura), mas a retirada destas madeiras ocorre de forma sustentável, em pontos variados, respeitando o tamanho das árvores e aguardando a recomposição da vegetação nos locais já explorados.
Nas restingas da área pesquisada estão identificadas diversas formações vegetais nas quais ocorrem espécies aproveitáveis:
1. Nas áreas ainda banhadas pelas marés ocorre a espécie Spartina alterniflora, que vegeta sobre pedras e de cujas raízes faz-se um chá contra a asma;
Entre as plantas rastejantes, nos primeiros cordões de dunas, está a salsa-de-praia (Ipomoea pes-caprae Rottb.), usada em banhos contra coceiras, e a losna (Ambrosia microcephala) usada contra anemia, cólicas, diarréias e como alucinógeno;
Nos brejos que ficam no reverso dos cordões de dunas, e que são áreas inundadas periodicamente, vive a verônica branca (Dalbergia ecastophyllum) cujas raízes e cascas combatem inflamações uterinas e anemia, e a jipooca (Entada polyphylla), de cuja raiz extraí-se uma espuma que alivia coceiras;
Na restinga aberta com capins e ervas intercaladas por moitas e arbustos, encontra-se o umiri, ou mirim (Humiria balsamifera) cujo fruto é comestível e cujo tronco fornece cavacos para a cobertura de casas. Do muruci da praia (Byrsonima crassifólia) aproveitam-se os frutos, e da copaíba (Copaifera martii), o chá da casca como antinflamatório. Na área campestre há sempre vivas e orquídeas com potencial de aproveitamento como plantas ornamentais;
Na mata da restinga, não muito densa, com árvores de 5 metros em média, os troncos finos são muito usados para confeccionar carvão e fabricar varas para cercas e assoalhos das palafitas onde são guardados os artefatos de pesca. Da sucuuba (Himatanthus articulata) extrai-se o leite da casca, usado contra a tosse e em emplastros para contusões, sendo o chá da entrecasca abortivo. O chichuá, ou barbatimão (Maytenus sp.) é afrodisíaco, o abacaxi do mato (Ananás nanus) é outro abortivo, e o bacuri (Platonia insignis) dá frutos comestíveis, usados em doces;
Nas dunas internas, fixas e semi fixas, finalmente, há arvores maiores, cuja madeira é aproveitada em construções; plantas medicinais como o mandacaru (Cereus sp.), usado em doenças renais; frutíferas, como o ajiru (Chysobalanus icaco) e mistas, como o caju (Anacardium occidentale) cujas frutas são comestíveis, assim como as cascas e raízes são remédios.
Ainda entre as ervas que vicejam entre as dunas encontra-se a “sete sangrias” (Heliotropium polyphyllum), usada como depurativo do sangue, a vassourinha (Scoparia dulcis) que é vermífuga, a famosa quebra-pedra (Phyllanthus niruri), diurética e usada para eliminar cálculos renais, e a ipecacunha (Hybanthus calceolaria), que é antidiarréica e amebicida. Mencionem-se ainda plantas que fornecem fibras, da família das palmas, usadas para acondicionar pescados e cobrir telhados e paredes de casas.
Qual a importância da pesquisa?
A pesquisa demonstra que a vegetação costeira é extremamente rica em recursos aproveitáveis pela população local. Entretanto esta vegetação, por estar próxima a praias, encontra-se em risco de destruição. A paisagem atrai o turismo predatório, a especulação imobiliária e a abertura de estrada, devastando mangues e restingas. O aterramento, a retirada de madeiras e a extração de areia para construções podem desestabilizar esses delicados ecossistemas.
As comunidades locais podem ser afetadas com a diminuição de seus recursos de subsistência, empobrecimento e conseqüentes mudanças de condições sócio-econômicas e culturais. A venda e posse de terras loteadas, ao longo das rodovias, também restringe o acesso às espécies vegetais úteis por parte das populações nativas.
Outra importante função da vegetação é fixar as dunas (que fazem parte do ecossistema das restingas), através da disposição radicular e da ramagem, evitando a movimentação da areia pelos ventos. A eventual destruição desta vegetação pode fazer que dunas já fixadas voltem a se mexer, soterrando casas e, mais grave, assoreando os manguezais, o que pode ser fatal para esses ecossistemas, que por sua vez são essenciais para a pesca e a sobrevivência das comunidades locais.
Além de prejudicar econômica e socialmente as comunidades, a destruição dos mangues e restingas reflete-se diretamente na diminuição da produtividade pesqueira, de recursos alimentares e medicinais. Por isso é crucial, para antropólogos e ambientalistas, preservar as tradições culturais e extrativistas das comunidades que vivem da pesca artesanal e, com elas, os ambientes com os quais os pescadores convivem e dos quais dependem em seu dia a dia.
As comunidades locais podem ser afetadas com a diminuição de seus recursos de subsistência, empobrecimento e conseqüentes mudanças de condições sócio-econômicas e culturais. A venda e posse de terras loteadas, ao longo das rodovias, também restringe o acesso às espécies vegetais úteis por parte das populações nativas.
Outra importante função da vegetação é fixar as dunas (que fazem parte do ecossistema das restingas), através da disposição radicular e da ramagem, evitando a movimentação da areia pelos ventos. A eventual destruição desta vegetação pode fazer que dunas já fixadas voltem a se mexer, soterrando casas e, mais grave, assoreando os manguezais, o que pode ser fatal para esses ecossistemas, que por sua vez são essenciais para a pesca e a sobrevivência das comunidades locais.
Além de prejudicar econômica e socialmente as comunidades, a destruição dos mangues e restingas reflete-se diretamente na diminuição da produtividade pesqueira, de recursos alimentares e medicinais. Por isso é crucial, para antropólogos e ambientalistas, preservar as tradições culturais e extrativistas das comunidades que vivem da pesca artesanal e, com elas, os ambientes com os quais os pescadores convivem e dos quais dependem em seu dia a dia.
Área do Conhecimento
Ciências Biológicas
Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras
Portuguesa
Ecossistemas Litorâneos
Portuguesa
Vegetação
Portuguesa
Currais
Portuguesa
Paraense
ODS
ODS 14: Vida na Água
ODS 15: Vida Terrestre
Referência da Pesquisa Original
BASTOS, Maria de Nazaré do Carmo. A importância das formações vegetais da restinga e do manguezal para as comunidades pesqueiras. 2003.
Material Complementar
CD-Rom:
A biodiversidade vegetal e a comunidade de pescadores na ilha Canela. Faixa: A vegetação da ilha Canela - Lista de espécies. Amaral, D.D.; Bastos, M. N. C.; Santos, J. U. e Costa-Neto, S.V.; Ed. Schories, D. & Gorayeb,MCT/ Museu Paraense Emílio Goeldi, Brasil & BMBF/Center Tropical Marine Ecology-Alemanha. 2001
CD-Rom:
O Pará é Amazônia. Faixa: Flora. Bastos, Maria de Nazaré do Carmo & Santos, João Ubiratan Moreira dos . PRODEPA, Belém do Pará, 1997.
Para adquirir os CD-Roms entrar em contato com a pesquisadora responsável pelo e-mail nazir@museu-goeldi.br
Imagem de destaque: . Blue Fisheries.
A biodiversidade vegetal e a comunidade de pescadores na ilha Canela. Faixa: A vegetação da ilha Canela - Lista de espécies. Amaral, D.D.; Bastos, M. N. C.; Santos, J. U. e Costa-Neto, S.V.; Ed. Schories, D. & Gorayeb,MCT/ Museu Paraense Emílio Goeldi, Brasil & BMBF/Center Tropical Marine Ecology-Alemanha. 2001
CD-Rom:
O Pará é Amazônia. Faixa: Flora. Bastos, Maria de Nazaré do Carmo & Santos, João Ubiratan Moreira dos . PRODEPA, Belém do Pará, 1997.
Para adquirir os CD-Roms entrar em contato com a pesquisadora responsável pelo e-mail nazir@museu-goeldi.br
Imagem de destaque: . Blue Fisheries.
Data da publicação do texto de divulgação
April 7, 2003