Manejo e conservação do tracajá no Parque Indígena do Xingu
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Título para divulgação do texto
Manejo e conservação do tracajá no Parque Indígena do Xingu
Título original da pesquisa
Educação Ambiental e manejo sustentável de tracajá Podocnemis unifilis: Segurança alimentar e fortalecimento cultural dos povos do Parque Indígena do Xingu
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Revisão de texto
Resumo
A avaliação e aperfeiçoamento das ações de proteção dos tracajás. Nasceu, assim, o projeto Educação Ambiental e Manejo Sustentável de Tracajá, no intuito de conservar e manejar populações de tracajá no Parque Indígena do Xingu.
Tipo
Projeto de pesquisa
O que é a pesquisa?
O tracajá Podocnemis unifilis é um quelônio encontrado na bacia hidrográfica amazônica e do orinoco. Primo das tartarugas marinhas e dos jabutis, o tracajá pesa por volta de 8kg e sua carapaça, levemente convexa, mede em torno de 70cm de comprimento, e é bem menor que a tartaruga-da-Amazônia, que pode pesar até 60kg. Os tracajás dependem dos rios para o seu crescimento, locomoção e acasalamento, deixando a água por algumas horas para se aquecer ao sol e para desovar. A sua desova é sazonal, ocorrendo nos meses de agosto e setembro, durante a época da estiagem, quando o nível das águas dos rios está baixo, propiciando a formação de praias. As fêmeas depositam cerca de 20 ovos em covas de, aproximadamente, 30cm de profundidade cavadas por elas nas areias fofas ou em solo mais compactado. A incubação dos ovos dura 70 dias, dependendo da temperatura e da umidade do ninho. Pequenas variações na temperatura do ninho definem o sexo dos filhotes. Temperaturas mais altas proporcionam o nascimento de fêmeas. Assim, a localização do ninho, o tipo de solo (arenoso ou argiloso), a umidade e a profundidade determinam se os filhotes serão machos ou fêmeas. Tracajás alimentam-se de sementes, frutos, raízes, insetos, crustáceos e moluscos.
Os índios do Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso, preservam a alimentação tradicional deles baseada em produtos obtidos da agricultura e da pesca. Dentre os produtos consumidos na região do Xingu, os ovos de tracajá, bem como filhotes e adultos dessa espécie, são umas das principais fontes de proteína animal dos índios. O tracajá também tem grande importância na cultura de muitos povos indígenas, fazendo parte de ritos, mitos e representações culturais e artísticas.
Nas duas últimas décadas, o crescimento da população indígena dentro do Parque Indígena do Xingu, somado ao aprimoramento da técnica de caça dos tracajás e ao intenso desmatamento no entorno do Parque, aumentou a pressão de caça sobre o tracajá acarretando a diminuição de suas populações. Preocupados com a possível escassez dessa fonte de alimento no futuro, índios da aldeia Kamayurá-Morená passaram a proteger algumas praias do rio Xingu, mantendo-as livres da predação, humana e de outros animais, a fim de promover o aumento da população de tracajá.
Sentindo a necessidade de obter apoio técnico e financeiro para as suas ações, os índios contataram a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia que, por sua vez, sugeriu o envolvimento do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/ICMBio) para avaliação e aperfeiçoamento das ações de proteção dos tracajás. Nasceu, assim, o projeto Educação Ambiental e Manejo Sustentável de Tracajá com o objetivo de conservar e manejar populações de tracajá no Parque Indígena do Xingu. O projeto prevê aporte técnico aos índios da aldeia Kamayurá-Morená para o correto manejo da população de tracajá; a avaliação da estrutura genética de algumas populações de tracajá – que fornecerá informações para a adoção de medidas de manejo mais eficientes –; a realização de cursos de educação ambiental sobre a conservação do tracajá. A educação ambiental pretende, também, promover a multiplicação das ações de manejo e conservação por todas as aldeias do Parque Indígena do Xingu.
Como é feita a pesquisa?
A área de manejo do tracajá foi definida pelos índios, que escolheram nove praias com ocorrência histórica de desova, localizadas nas proximidades da aldeia. Ao longo do período da desova, nos meses de agosto e setembro, as praias monitoradas são percorridas diariamente em busca de ninhos de tracajá. Encontrado o ninho, uma tela de proteção, desenvolvida especificamente para o projeto, é colocada ao seu redor. A tela evita que predadores, principalmente raposinhas-do-campo, desenterrem e comam os ovos de tracajá. O ninho recebe uma identificação, e uma planilha é preenchida com número de identificação do ninho, nome da praia (localização do ninho) e data da postura. Em alguns ninhos, é instalado um termômetro para registrar a temperatura de incubação. Nos meses de outubro e novembro, as praias são percorridas todos os dias para verificar o nascimento dos filhotes.
Ao nascerem, os filhotes são recolhidos e levados a um laboratório-maternidade situado na aldeia, onde são medidos e pesados. Também é retirada uma pequena amostra da pele dos filhotes para exame de DNA e pesquisa sobre a diversidade genética. Na planilha com os dados dos ninhos, é anotada a data do nascimento dos filhotes, o número de filhotes nascidos por ninho e o número de ovos podres por ninho. Todos esses dados permitem avaliar a evolução do projeto ano a ano. Os filhotes permanecem na maternidade por três ou quatro dias para ficarem mais fortes e perderem o cheiro de ovo que atrai os predadores. Em seguida, os filhotes são levados de volta às praias onde nasceram e são soltos em locais com muita vegetação, para que tenham maior chance de escapar de predadores e sobreviver.
Paralelamente às ações de monitoramento, proteção dos ninhos e dos filhotes, são oferecidos cursos de educação ambiental para as lideranças e representantes de outras aldeias do Parque, em que são apresentados os resultados do projeto e discutidos assuntos gerais sobre o meio ambiente da região. Todos os anos são realizadas reuniões com os participantes do projeto para avaliar as ações executadas no ano anterior. Eventualmente, novas ações são implementadas de acordo com os resultados obtidos.
Qual a importância da pesquisa?
Desde 2007, técnicos das instituições parceiras envolvidas no projeto, juntos com a equipe da aldeia Kamayurá-Morená, monitoram as nove praias do rio Xingu, identificando e protegendo os ninhos de tracajás. Até o final de 2010, mais de 20 mil filhotes já tinham sido soltos, sendo 10 mil só em 2010. Os bons números obtidos são resultados das constantes avaliações e aprimoramento das ações e metodologias, realizadas em discussões conjuntas com todos os atores envolvidos no projeto. Os cursos de educação ambiental têm sido essenciais para sensibilizar e esclarecer outras aldeias sobre a importância do projeto. Inicialmente, algumas aldeias pensavam que o projeto beneficiaria apenas a aldeia Kamayurá-Moren. O apoio e a adesão ao projeto, com demanda de multiplicá-lo em outras localidades, surgiram quando outras aldeias entenderam que o manejo promovia a recuperação da população de tracajá beneficiando a todos.
A recuperação da população de tracajá no Parque Indígena do Xingu contribui para a conservação da espécie e de todas as outras de sua cadeia alimentar, garantindo, assim, a manutenção de importante fonte de alimento para os índios. O projeto permite o desenvolvimento de metodologias de manejo adaptadas às particularidades regionais dos índios do Xingu, promove o fortalecimento cultural das comunidades locais e debates sobre questões ambientais que afetam os povos indígenas da região.
O projeto proporciona, ainda, o levantamento de dados científicos sobre a vida dos tracajás e sobre a diversidade genética da população – essencial para a conservação da espécie a longo prazo. Prevê, ainda, a avaliação do impacto das mudanças climáticas sobre a reprodução dos tracajás, uma vez que a temperatura influencia a determinação do sexo deles – as mais altas definem o nascimento de apenas fêmeas, fato que, em um cenário de mudança de temperatura da Terra, poderá provocar o desequilíbrio da relação entre machos e fêmeas da população, com possível impacto sobre a sobrevivência da espécie.
Área do Conhecimento
Ciências Biológicas
ODS
ODS 15: Vida Terrestre
ODS 4: Educação de Qualidade
Data da publicação do texto de divulgação
September 14, 2011
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