Reservatórios de contenção de cheias assumem formas de criadouros de mosquitos e ameaçam a saúde pública em São Paulo

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Reservatórios de contenção de cheias assumem formas de criadouros de mosquitos e ameaçam a saúde pública em São Paulo

Título original da pesquisa

Estudo da fauna de mosquitos (Díptera: Culicidae) em Reservatórios de Contenção de Cheias em área metropolitana na cidade de São Paulo, SP

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Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

Foi estudado a fauna de culicídeos em dois Reservatórios de Contenção de Cheias, o Caguaçu e o Inhumas, situados no bairro de São Mateus, área metropolitana da região leste da cidade de São Paulo.

O que é a pesquisa?

Grandes metrópoles no Brasil, como a cidade de São Paulo, têm implementado medidas para tornar menos intenso um dos mais sérios problemas das grandes cidades, as inundações. Uma dessas medidas é a implantação dos Reservatórios de Contenção de Cheias, popularmente chamados "piscinões" e considerados, pela engenharia, obras estruturais que combatem com eficácia as enchentes.

Esses reservatórios atuam como várzeas, acumulando o excesso de água a montante e liberando o escoamento de acordo com a capacidade do canal principal. Esses locais permanecem secos durante a estiagem, quando a flora, composta por gramíneas, arbustos e outros vegetais rasteiros, possibilita que os reservatórios sejam utilizados como áreas de lazer como pistas para exercícios físicos, campos de futebol, quadras poliesportivas, dentre outras atividades.

Os piscinões oferecem, ainda, condições para o desenvolvimento de vegetação aquática e de fauna sinantrópica, como roedores e insetos, especialmente, diversas espécies de culicídeos. Por serem considerados como alterações antrópicas da paisagem, podem gerar situações de desequilíbrio no ambiente, onde os culicídeos correm o risco de proliferação, acarretando incômodo ou a transmissão de patógenos.

Em países desenvolvidos como os Estados Unidos e a Austrália, as águas retidas nos reservatórios de detenção vêm recebendo atenção, por serem potenciais criadouros de mosquitos transmissores de variados patógenos, especialmente o da Febre do Oeste do Nilo. Na Austrália estudo demonstra que devido à presença de vegetação aquática e ao alto teor de poluentes nas águas, os reservatórios propiciam o desenvolvimento de espécies variadas de mosquitos, especialmente do gênero Culex.

Nesta pesquisa, desenvolvida pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), foi realizado estudo sobre a fauna de culicídeos em dois Reservatórios de Contenção de Cheias, o Caguaçu e o Inhumas, situados no bairro de São Mateus, área metropolitana da região leste da cidade de São Paulo.

O reservatório Inhumas é revestido em concreto, com vegetação rasteira ao entorno, do tipo gramínea e aquática. O Caguaçu foi implantado diretamente no solo em uma área de várzea onde a vegetação é composta por arbustos, gramíneas e plantas aquáticas. No período de estiagem, após intensas precipitações, os componentes hidráulicos, como vertedouros, bombas, valas de drenagem, tipo de pavimentação, presença de vegetação, lixo e entulho acumulados, propiciam a reprodução e o desenvolvimento de múltiplas espécies de culicídeos causadoras de incômodo e vetoras de diversas patologias.

Como é feita a pesquisa?

No período de março de 2006 a fevereiro de 2007, foram realizadas coletas mensais de formas imaturas (larvas de terceiro, quarto estágios e pupas) e adultas de culicídeos, nos reservatórios de contenção de cheias Caguaçu e Inhumas. No campo delimitado para este estudo foram selecionados três pontos de coleta. Nas áreas de superfície de até 1m² as formas imaturas foram colhidas com o auxílio de uma concha entomológica de volume igual a 350ml, cinco amostras por criadouro, uma amostra em cada lado e uma no centro da área, fazendo uso de um quadrante de 1m² confeccionado de tubo de poli cloreto de vinila (PVC). Em criadouros longos e largos foram coletadas dez amostras, utilizando concha entomológica de volume igual a 80ml, sendo uma a cada passo largo do coletor.

Após as coletas, as formas imaturas foram transferidas vivas para frascos apropriados para transporte. Para as formas adultas de culicídeos, coletadas em abrigos naturais na vegetação do entorno dos criadouros, foi empregado o método de capturadores de sucção a bateria de 12 volts "aspirador", por 15 minutos a cada coleta. No laboratório, as larvas foram observadas até a fase adulta e identificadas as categorias das espécies, com uso de indicadores de monitoramento para avaliar a diversidade, enfatizando a dominância, a riqueza e a similaridade de espécies.

A partir daí, foram construídos bancos de dados usando um software estatístico para as ciências sociais, SPSS - Statistical Package for Social Sciences, para realizar análises estatísticas descritivas, correlações e regressão linear simples, bem como avaliar a possível relação e influência da temperatura ambiente e precipitação em relação à abundância numérica de culicídeos. Para análise dos fatores abióticosdescritos, foram utilizadas variáveis como a precipitação acumulada e a temperatura média referentes aos dez dias anteriores às coletas de dados. Os resultados foram confrontados com a literatura científica nacional e mundial.

Qual a importância da pesquisa?

A espécie de mosquito Culex quinquefasciatus, nome científico denominado aos pernilongos e muriçocas, foi a mais freqüente nas áreas estudadas, correspondendo a 97,8% dos culicídeos coletados no reservatório de Inhumas e 92,0% no de Caguaçu, estando presente em todos os criadouros. Essa espécie representa calamidade nos ambientes urbanos, onde sua presença é fortemente influenciada pelas atividades antrópicas, interagindo com o homem em todas as fases do ciclo de vida, sendo, ainda, mosquitos dotados de elevada endofília.

A presença do Culex quinquefasciatus nas áreas de estudo revela, por meio dos indícios encontrados, ambientes com coleções hídricas altamente poluídas, ricas em matéria orgânica e detritos. No Brasil, essa espécie é tida como o principal vetor do parasito da filariose bancroftiana, bem como tem sido considerada como vetor de várias arboviroses.

Do ponto de vista operacional, foi importante identificar que as áreas selecionadas como objetos de estudo oferecem condições favoráveis ao desenvolvimento de formas imaturas de mosquitos. No período da pesquisa foi observado que na fase de esgotamento, ocorre a formação de criadouros, especialmente nas estruturas hidráulicas como nas canaletas, próximos às bombas e nos vertedouros.

Fatores como a qualidade da água, presença de matéria orgânica, e detritos foram determinantes para a elevada concentração de mosquitos imaturos, registrada nos piscinões, especialmente no de Inhumas. A maior freqüência de mosquitos foi observada nesse piscinão, que é revestido por concreto impedindo a percolação da água no solo e contribuindo para a formação e manutenção de criadouros.

Os resultados desta pesquisa contribuem para um melhor entendimento, monitoramento e controle de mosquitos em ambientes utilizados para contenção de cheias. Este trabalho representa um importante esforço na obtenção deste conhecimento, uma vez que a dominância do Culex quinquefasciatus nas áreas estudadas alerta para a necessidade de observação contínua e vigilância entomológica, principalmente, porque ainda não há na literatura nacional estudos que abranjam os aspectos avaliados.

Área do Conhecimento

Ciências da Saúde

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Saúde pública
Portuguesa Mosquito
Portuguesa Brasil

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do Clima

Referência da Pesquisa Original

Disponível em : https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese1/ciencias-da-saude/161-reservatorios-de-contencao-de-cheias-assumem-formas-de-criadouros-de-mosquitos-e-ameacam-a-saude-publica-em-sao-paulo . Acesso 17 jun 2022.

Link da pesquisa original

Data da publicação do texto de divulgação

November 26, 2008

Coleções

Vista parcial do piscinão Inhumas Vista parcial do piscinão Caguaçu Aspiração de formas adultas – piscinão Inhumas Vista parcial do brejo – piscinão Caguaçu 119.jpg