Morcegos que vivem em cidades podem beneficiar plantações de milho brasileiras

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Título para divulgação do texto

Morcegos que vivem em cidades podem beneficiar plantações de milho brasileiras

Título original da pesquisa

Going out for dinner—The consumption of agriculture pests by bats in urban areas

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Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

Esta pesquisa mostrou que certas espécies de morcegos habitantes de áreas urbanas também podem trazer grandes benefícios para as populações humanas, pois auxiliam o controle de certas pragas agrícolas.

Tipo

Artigo de periódico

O que é a pesquisa?

As mudanças ecológicas causadas pelo desmatamento para agricultura e construção de moradias podem afetar os ciclos de propagação de certas doenças e pragas agrícolas. Ao longo do tempo, algumas espécies de morcegos se adaptaram a viver nas zonas urbanas, formando numerosas colônias nessas localidades. Contudo, algumas vezes, grupos desses mamíferos podem causar transtornos aos seres humanos, pois frequentemente, se alojam em telhados, vãos entre blocos de prédios, debaixo de pontes, em túneis e outros tipos de construção. Por outro lado, certas espécies de morcegos são predadoras de vetores de doenças e pragas. Isso fez com que pesquisadores/as brasileiros/as buscassem entender melhor os hábitos alimentares desses animais. A pesquisa buscou verificar se determinados grupos desses mamíferos voadores estariam contribuindo para frear a disseminação de insetos transmissores de doenças ou que atacam plantações.
O estudo concluiu que os animais estudados se alimentavam mais de organismos inofensivos aos seres humanos do que daqueles que oferecem algum risco. Apesar disso, dentre as presas dos morcegos examinados estavam mosquitos dos gêneros Culex e Chrysomya, que podem ser vetores de diferentes tipos de doenças, além de pragas de plantações, tais como: soja, algodão, milho, girassol, cana-de-açúcar, amendoim, feijão e tomate. A mariposa chamada <i>Spodoptera frugiperda</i>, por exemplo, foi predada por todas os grupos de morcegos analisados. Sua fase larvar, conhecida como lagarta-do-cartucho, é considerada uma praga de alta relevância no Brasil, porque causa sérios danos às lavouras, principalmente, às de milho.
Por fim, os/as pesquisadores/as perceberam que diferentes espécies de morcegos consumiam diferentes espécies de insetos. Assim, uma espécie de morcego acaba complementando o serviço de predação de outra.

Como é feita a pesquisa?

Foram capturados morcegos de cinco colônias de espécies diferentes, encontradas nos municípios de Padre Bernardo (GO), Valparaíso (GO) e Brasília (DF). Para isso foram usados dois tipos de redes próprias: as de mão e as chamadas redes de neblina, que são muito finas e quase imperceptíveis. As últimas foram abertas no local por onde os morcegos costumavam sair de suas colônias, durante seis noites – três delas ocorreram em março (estação chuvosa) e as outras três em julho (estação seca), de 2018. Os morcegos capturados foram pesados, anilhados, mantidos em sacos limpos de algodão por 30 minutos para defecarem e, em seguida, soltos no mesmo local. Essa coleta das fezes foi a parte mais importante da pesquisa, porque revelaria do que os animais estavam se alimentando.
As fezes foram transferidas para tubos de plástico que ficaram armazenados em um ambiente seco durante toda a noite. Ao chegarem ao laboratório, os tubos foram colocados em um freezer e nele permaneceram até o momento da análise. Todas as pelotas fecais foram utilizadas no processo de extração de DNA. Esse processo identificou os tipos de animais dos quais os morcegos capturados haviam se alimentado e gerou uma lista com os itens da dieta de cada uma das espécies.
Classificaram-se todas as espécies de insetos predadas conforme o hábito alimentar de cada uma delas – por exemplo, as pragas agrícolas foram incluídas no grupo funcional “insetos-praga”. Os insetos que atacam outros insetos foram colocados no grupo dos “predadores”. As espécies que se beneficiam da urbanização e convivência com seres humanos foram classificadas dentro do grupo das espécies “sinantrópicas”. Aquelas que polinizam plantas ou culturas silvestres foram classificadas como “polinizadoras”. As demais foram classificadas como “outras”.
É importante ressaltar que este estudo, envolvendo a captura, coleta de material biológico e soltura de animais, foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade de Brasília (CEUA/UnB) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA).

Qual a importância da pesquisa?

A pesquisa quis mostrar a importância da conservação das espécies de morcegos, pois muitas delas prestam os chamados “serviços ecossistêmicos”. Ou seja, auxiliam o controle de certas pragas agrícolas, contribuindo para o aumento/manutenção da qualidade de vida das populações humanas. Acumular conhecimento sobre essas pragas e seus predadores é muito importante para o Brasil, pois parte significativa da economia do país se baseia em atividades agrícolas.
Os insetos lepidópteros – alguns deles, considerados pragas – passam por diferentes estágios ao longo da vida. Dois desses estágios são popularmente conhecidos como lagarta e mariposa (ou borboleta). A lagarta é chamada de fase larvar (ou larva) e a mariposa/borboleta de fase adulta. Quando os adultos se reproduzem, seus ovos dão origem a novas larvas as quais, no futuro, se transformarão em adultos. A larva do lepidóptero <i>Spodoptera frugiperda</i> é uma das pragas que mais prejudica as lavouras de milho brasileiras.
O estudo aqui apresentado mostrou que todas as espécies de morcegos analisadas se alimentaram da mariposa <i>Spodoptera frugiperda</i>, evitando o surgimento de novas larvas. Sabe-se que as culturas de milho são infestadas com uma lagarta para cada 10 plantas e que cinco mariposas fêmeas que voam a cada noite podem gerar uma população de 4.000 lagartas por hectare (ha). Assim, se a população inicial de mariposas de S. frugiperda fosse de aproximadamente 10 mariposas por hectare e um morcego consumisse duas mariposas por noite, isso reduziria a população de S. frugiperda em 20% a cada dia. Essa redução reflete-se na possibilidade de colher mais sacas de milho, evitando-se, assim, uma perda de aproximadamente 390,6 milhões de dólares por safra no Brasil.
O “serviço ecossistêmico” prestado pelos morcegos também pode reduzir a utilização de agrotóxicos nas lavouras brasileiras. Eles são produtos que fazem mal à saúde humana e ao meio ambiente, são caros e seu uso indiscriminado possibilita o desenvolvimento de resistência por parte de muitas pragas. O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo e gasta 17 bilhões de dólares por ano com esses produtos.
<b>Perspectivas futuras</b>

Esta fase da pesquisa se encontra concluída, mas a pesquisadora Ludmilla Aguiar e seus colegas continuam estudando o tema, buscando entender se morcegos que habitam outras regiões urbanizadas também contribuem para o controle de pragas e/ou doenças em diferentes localidades do Brasil.

Área do Conhecimento

Ciências Biológicas

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Português morcegos
Português insetos vetores
Português animais insetívoros
Português insetos causadores de pestes

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 2: Fome Zero e Agricultura Sustentável

Referência da Pesquisa Original

AGUIAR, Ludmilla M. S.; BUENO-ROCHA, Igor D.; OLIVEIRA, Guilherme; PIRES, Eder S.; VASCONCELOS, Santelmo; NUNES, Gisele L.; FRIZZAS, Marina R.; TOGNI, Pedro H. B.. Going out for dinner—The consumption of agriculture pests by bats in urban areas. Plos One, [S.L.], v. 16, n. 10, 21 out. 2021. Public Library of Science (PLoS). DOI: http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0258066.

Link da pesquisa original

Jogo

Infográfico

Boletim de áudio

Data da publicação do texto de divulgação

July 6, 2023

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Morcegos insetívoros ajudam no controle de pragas agrícolas mesmo morando nas cidades Fonte Som
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