Os calangos-de-colar da América do Sul

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Título para divulgação do texto

Os calangos-de-colar da América do Sul

Título original da pesquisa

Systematic revision of the lizards of the subfamily Tropidurinae (Tropiduridae), with special reference to Tropidurus Wied, 1825

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Autores do texto original

Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

A pesquisa pretende entender as relações de parentesco entre as espécies, identificar quantas espécies de calangos existem na América do Sul

Tipo

Tese ou dissertação

O que é a pesquisa?

Os calangos são répteis com o corpo coberto por escamas, que vivem na América do Sul, principalmente associados a hábitats abertos. Esses animais podem ser encontrados nos cerrados, caatingas, matas secas, dunas costeiras, afloramentos rochosos, e em florestas tropicais e subtropicais. São conhecidas 66 espécies de calangos da subfamília Tropidurinae, organizadas em sete gêneros. Devido à ampla distribuição geográfica dos calangos e ao fato de algumas espécies habitarem estritamente certas regiões, esses animais podem ser usados como modelo para se investigar como os elementos geográficos e geológicos afetaram a história de diversificação do conjunto de seres vivos que habitam (ou habitaram, no passado) a América do Sul. Embora novas espécies de calangos venham sendo descobertas, ainda se sabe pouco a respeito da história evolutiva e status de conservação desses animais. Nos últimos 36 anos, 32 novas espécies de calangos-de-colar foram descritas pela ciência, número que representa 48% da diversidade conhecida para este grupo. No entanto, acredita-se que inúmeras novas espécies ainda serão descobertas pelos herpetólogos.

Com objetivo de compreender a diversidade de espécies de calangos da subfamília Tropidurinae na América do Sul, o pesquisador André Luiz Carvalho, da Universidade de São Paulo (USP), associado ao Museu Americano de Historia Natural, de Nova York, vem investigando as relações evolutivas e um conjunto de condições biogeográficas por trás da evolução dos fabulosos calangos-de-colar sul-americanos. A pesquisa pretende entender as relações de parentesco entre as espécies, identificar quantas espécies de calangos existem na América do Sul – já que muitas são morfologicamente parecidas e de difícil identificação –, e investigar como a diversidade que encontramos hoje na América do Sul evoluiu e se manteve ao longo dos últimos milhões de anos.

Como é feita a pesquisa?

Ao longo de vários anos, foram coletados calangos em diversas áreas da América do Sul, inclusive do Brasil, para descrever e catalogar a diversidade biológica desse grupo de animais. Os trabalhos de campo envolveram a busca de lagartos sobre rochas, areia, em buracos ou troncos de árvores. Uma vez avistados, esses animais foram capturados com um pequeno fio de algodão dobrado em forma de laço, amarrado à ponta de uma vara (similar a uma vara de pescar). Alguns lagartos foram coletados manualmente, outros com auxílio de estilingues. Em algumas áreas, foram usadas armadilhas de queda conhecidas como pitfall traps. Essas armadilhas nada mais são do que grandes baldes enterrados no chão, sem tampa, dispostos em série, associados entre si por meio de cercas feitas com lonas plásticas ou tela, que direcionam os animais para caírem nos baldes. Independentemente do método de coleta, todos os animais capturados foram mortos e deles extraídas amostras de tecido (fragmentos de músculos ou fígado) para análises genéticas. Os espécimes foram armazenados em recipientes com formaldeído, líquido que garante a preservação para estudo morfológico.

Em laboratório, cada exemplar de calango foi identificado e catalogado, recebendo uma etiqueta com as seguintes informações: número do espécime, indicação da localidade de coleta, coordenadas geográficas, hábitat e notas ecológicas. Esses espécimes preservados em formaldeído foram, então, transferidos para uma solução de álcool etílico e depositados em coleções científicas de referência, como a do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). Esse depósito permite que os espécimes capturados para esta pesquisa fiquem disponíveis para outros estudos comparativos, por outros especialistas, no futuro.

Foi analisada, em detalhes, a morfologia dos lagartos (contagem das escamas que recobrem o corpo, comparação de padrões de colorido e estudo comparativo da anatomia interna – esqueleto, músculos, hemipênis). As características morfológicas são fundamentais para distinguir novas espécies de outras já conhecidas. No entanto, em muitos casos, as diferenças entre as espécies são muito sutis, sendo necessário empregar análises genéticas, baseadas na comparação de DNA, para constatar a existência de variações. Dessa forma, consegue-se identificar e descrever grande parte da diversidade de calangos classificados como espécies crípticas.

Uma árvore filogenética foi construída com os dados genéticos dos calangos coletados. Essa “árvore da vida” nada mais é do que um diagrama que representa as relações evolutivas (ou de parentesco) entre as espécies. Após conhecer a diversidade de espécies de calangos-de-colar e como elas se relacionam, essas informações foram analisadas dentro de um contexto temporal por meio da incorporação da datação de fósseis descobertos em outros estudos. A partir desses dados, foram criadas as “crono-árvores” ou “cronogramas”, que indicam, além das relações de parentesco, quando essas espécies evoluíram ao logo dos últimos milhares ou milhões de anos. Por fim, essas informações foram relacionadas às áreas de ocorrência de cada espécie para se compreender quais fatores geológicos, geográficos e ecológicos explicariam a história de diversificação dos calangos. Entre outras questões, pode-se investigar se o surgimento de novas espécies está relacionado à mudanças do clima ou da paisagem ocorridas no passado, como, por exemplo, a ocorrência de ciclos glaciais ou eventos naturais de aquecimento global.

Qual a importância da pesquisa?

A pesquisa possibilitou a descoberta, a descrição e o posicionamento de novas espécies de calango na “árvore da vida”, como foi o caso de Tropidurus sertanejo, encontrado nos municípios de Caetité e Ibotirama, Bahia, e de T. lagunablanca, T. tarara e T. teyumirim, encontrados no Paraguai. Tropidurus sertanejo pode medir até oito centímetros de comprimento, tem a cabeça bronzeada e o corpo marrom, salpicado por pequenos pontos da cor salmão. Ele também possui uma combinação exclusiva de dobras de pele em algumas regiões do corpo, conhecidas como bolsas de ácaros, nas quais se concentram larvas do parasita. O nome científico da espécie é uma homenagem aos habitantes do sertão nordestino.

Na situação atual, em que há uma crescente perda de diversidade biológica devido à intervenção humana nos hábitats naturais, inúmeras espécies e populações estão sendo extintas antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. Assim, é de extrema importância garantir a descoberta de novas espécies. Além disso, devemos entender suas relações evolutivas, a fim de que seja possível olhar para o passado e identificar fatores que possam nos ajudar a manejar propriamente os ecossistemas e conservar a biodiversidade hoje e no futuro.

O Brasil é reconhecido como uma das mais importantes áreas megadiversas da América do Sul e do planeta. Isso significa que, aqui, a tarefa de descrever espécies ganha grandes proporções. O número de profissionais treinados para identificar e classificar essa enorme diversidade biológica é ainda pequeno, sendo necessários mais investimentos na formação de taxonomistas , por meio de programas de graduação e pós-graduação, e melhoria da infraestrutura dos museus de história natural e suas coleções científicas. Além da importância dos estudos taxonômicos para a conservação das espécies, eles são essenciais na busca por organismos, genes e substâncias químicas provenientes de seres vivos, que tenham potencial biomédico, alimentício, socioambiental ou econômico e, eventualmente, levem ao desenvolvimento de produtos e serviços que melhorem a nossa qualidade de vida e garantam a nossa prosperidade.

Área do Conhecimento

Ciências Biológicas

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Calangos- de – colar
Portuguesa Reptéis
Portuguesa América do Sul

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 14: Vida na Água

Material Complementar

Livro Vermelho das Crianças

Vocabulário Ambiental Infantojuvenil

Data da publicação do texto de divulgação

June 9, 2016

Coleções

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