Pai é quem cria: a eficiência do cuidado paternal e o papel protetor dos pais adotivos em um aracnídeo neotropical

Item

Título para divulgação do texto

Pai é quem cria: a eficiência do cuidado paternal e o papel protetor dos pais adotivos em um aracnídeo neotropical

Título original da pesquisa

Os bons pais: eficiência do cuidado paternal e o papel protetor dos pais adotivos em um aracnídeo neotropical (The good fathers: efficiency of male care and the protective role of foster parents in a Neotropical arachnid)

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Autores do texto original

Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

Os pesquisadores investigaram o comportamento de cuidado da espécie Quindina limbata, um aracnídeo que vive nas florestas tropicais da América Central cujo macho apresenta o comportamento de construir e cuidar sozinho do ninho.

Tipo

Artigo de periódico

O que é a pesquisa?

A natureza é bela, contudo, cheia de perigos: os seres mais vulneráveis - por exemplo, filhotes - nem sempre têm condições de sobreviver sozinhos a certos desafios que o ambiente impõe. Por isso, assim como os humanos, diversos animais adultos tomam conta de seus filhotes até que atinjam a idade em que consigam se virar sozinhos. Tal proteção é um comportamento bastante comum tanto em invertebrados como em vertebrados e recebe o nome de “cuidado parental”. Com isso, a prole ganha vários benefícios, como comida, abrigo e proteção contra predadores e parasitas.

No reino animal, existem diferentes estratégias para realizar o cuidado dos filhotes. Para algumas espécies, o melhor é tanto o pai quanto a mãe se revezem nesses cuidados (cuidado biparental), enquanto para outras espécies, tal cuidado pode ser feito só pela mãe (cuidado maternal) ou só pelo pai (cuidado paternal).

Há casos curiosos de cuidado paternal em que os machos responsáveis por cuidar dos filhotes, ao deixarem momentaneamente o ninho para caçar ou buscar recursos, acabam perdendo seus ninhos para outros machos da mesma espécie, que podem roubar seus ovos ou mesmo “adotar” seus filhotes. Uma das possíveis explicações para esse hábito é que o cuidado com os ovos, mesmo que não sejam os seus, torna os machos mais atraentes às fêmeas de sua espécie. Assim, mesmo que esses “pais adotivos” não tenham relação genética com os filhotes, tomar conta de um ninho aumenta sua atratividade e suas chances de conseguir se reproduzir no futuro, deixando assim seus próprios descendentes no mundo.

Neste estudo, a pesquisadora Rosannette Quesada-Hidalgo (da Universidade de São Paulo) e sua equipe investigaram o comportamento de cuidado parental da espécie Quindina limbata, um aracnídeo que vive nas florestas tropicais da América Central e cujo macho apresenta o comportamento de construir e cuidar sozinho do ninho. Os ovos dessa espécie sofrem intensa predação e, por isso, os pesquisadores investigaram se a presença dos machos nos ninhos diminuiria os ataques aos ovos. Também investigaram se as fêmeas que ficavam próximas aos ninhos desempenhavam algum papel de proteção dos ovos quando os machos se ausentavam. Além disso, observaram se os machos errantes (que não eram pais) adotavam ou roubavam os ninhos dos machos pais, passando a exercer algum tipo de papel de proteção aos ovos e aos filhotes.

Como é feita a pesquisa?

Os pesquisadores realizaram viagens de campo para a estação biológica Veragua Rainforest, localizada no Caribe da Costa Rica. Lá, observaram alguns troncos caídos, local em que é comum observar ninhos de Q. limbata. A equipe utilizou na pesquisa um total de 53 ninhos que tinham ovos aparentes, condição fundamental para saber se há ou não predação. Além disso, foram encontrados 142 adultos dessa espécie fora dos ninhos. Tais aracnídeos foram marcados com cores exclusivas para que pudessem ser identificados durante o estudo, e depois, fotografados e soltos no mesmo lugar em que foram capturados. O experimento foi então dividido em duas etapas: inspeção inicial e fase experimental.

Na inspeção inicial, os pesquisadores realizaram visitas para observar a rotina natural dos aracnídeos nos ninhos, registrando alguns dados como: (i) a presença ou ausência dos machos-pais dentro dos ninhos; (ii) a identidade e a distância de qualquer animal em um raio de 1 metro ao redor de cada ninho; iii) comportamentos relevantes dos aracnídeos observados próximos ou dentro dos ninhos (cópulas, brigas e postura de ovos).

Na fase experimental, os cientistas sortearam os ninhos que seriam parte de dois grupos experimentais. O primeiro grupo foi chamado de “ninho-teste”, em que machos proprietários (pais verdadeiros) eram retirados permanentemente, simulando seu abandono. O segundo grupo foi chamado de “ninho-controle”, em que os respectivos machos proprietários foram retirados, mas, em seguida, recolocados novamente, simulando o breve período em que o macho sai para buscar recursos. Depois dessas intervenções, os pesquisadores coletaram os seguintes dados: (i) identidade dos indivíduos de Q. limbata que entrassem nos ninhos, (ii) eventos de predação e identidade do predador, e (iv) comportamentos relevantes observados próximos ou dentro dos ninhos.

A equipe verificou que os ninhos sem proteção foram bem mais predados do que aqueles em que os machos permaneceram presentes. Também verificaram que alguns ninhos-testes (abandonados experimentalmente) foram adotados por machos errantes e que estes foram tão eficientes quanto os pais originais (verdadeiros) na proteção contra predadores de ovos. Por fim, observaram que duas fêmeas adotaram ninhos. Contudo, as fêmeas que ficavam próximas aos ninhos não desempenharam nenhum papel na proteção dos ovos.

Qual a importância da pesquisa?

A presença de machos dentro de ninhos parece ser crucial para a proteção do ovo nessa espécie de aracnídeo. Além do cuidado dos machos que são os pais verdadeiros, outros machos estão dispostos a adotar os ovos e protegê-los com a mesma eficiência que os machos originais, o que é um comportamento bastante curioso e interessante, pois os protetores ficam expostos a perigos e gastam energia com uma prole que não é deles. Os pesquisadores argumentam que a adoção de ninhos, além de evitar o gasto de energia para a construção de um ninho próprio, é provavelmente um comportamento que permite que machos errantes passem a receber o benefício de acesso a fêmeas adultas, pois ter um ninho estruturado e com ovos sob sua guarda aumenta sua atratividade a elas quando comparados a machos sem ninhos para proteger. Tais resultados reforçam que a evolução do cuidado paternal exclusivo é influenciada tanto pela seleção natural (proteção aos ovos) quanto pela sexual (atração de fêmeas).

O sistema de cuidado paternal do aracnídeo Q. limbata oferece a oportunidade de entender como o investimento do macho na construção, na defesa e na proteção do ninho pode influenciar a escolha de parceiros pelas fêmeas. Até aqui, a maioria dos estudos sobre o tema estava restrita a vertebrados, especialmente peixes e pássaros, o que faz com que esta pesquisa seja ainda mais relevante para desvendar mecanismos enigmáticos da natureza, uma vez que mostra um tipo de comportamento bastante curioso surgir de forma independente em distintos grupos do reino animal.

Área do Conhecimento

Ciências Biológicas

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Animais
Portuguesa Paternidade
Portuguesa Independência

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 14: Vida na Água

Link da pesquisa original

Material Complementar

Data da publicação do texto de divulgação

November 4, 2011

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