A sífilis na história da psiquiatria brasileira

Item

Título para divulgação do texto

A sífilis na história da psiquiatria brasileira

Título original da pesquisa

Sífilis, loucura e civilização: a paralisia geral progressiva e institucionalização do campo neuropsiquiátrico no Rio de Janeiro (1868-1924)

Imagem de capa

Autor do texto de divulgação

Revisão de texto

Autores do texto original

Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

Essa pesquisa buscou compreender como a construção dos saberes sobre a Paralisia Geral Progressiva (PGP) ganhou relevância para o surgimento da psiquiatria no Brasil, apresentando dados sobre a Sífilis como uma doença venérea que ainda hoje é pouco discutida na sociedade.

Tipo

Tese ou dissertação

O que é a pesquisa?

As consequências nervosas da sífilis são conhecidas desde a primeira metade do século XIX. Mas foi no final desse período que a doença passou a ser considerada uma das causas de certas enfermidades mentais, entre elas, a paralisia geral progressiva, ou PGP. A PGP foi descrita em 1822, pelo alienista francês Antoine Laurent Jessé Bayle (1799-1858), e mobilizou o interesse de muitos psiquiatras durante os séculos XIX e XX. Suas principais causas eram a sífilis, o alcoolismo e os excessos de trabalho intelectual e físico.
As doenças são fenômenos biológicos e sociais e é importante ter em mente que elementos científicos, políticos, sociais e culturais influenciam a produção do conhecimento sobre elas. A PGP ganhou ainda mais relevância para a psiquiatria quando sua origem sifilítica foi descoberta, o que ocorreu nos primeiros anos do século XX. Nesse momento, intelectuais brasileiros, incluindo médicos, buscavam soluções que tornassem o Brasil uma nação moderna, civilizada e saudável. A partir desta perspectiva, a Dra. Giulia Engel Accorsi, aluna egressa do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), buscou entender, em sua pesquisa doutoral, como a construção dos saberes sobre a PGP foi inspirada nesses anseios da elite brasileira e articulada às visões da medicina sobre as pessoas negras, as mulheres e as classes pobres.
Nos últimos 6 anos, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde reportou um aumento de mais de 50% dos casos de sífilis no Brasil, e a Organização Mundial da Saúde afirma que esse crescimento é uma tendência mundial preocupante. Vemos assim, que as formas nervosas da sífilis continuam a mobilizar o campo da saúde, e que a medicina segue se esforçando para conter a disseminação dela entre as populações. Essa relevância sanitária da sífilis denota a importância de se chamar atenção para as características de transmissão e manifestação, tornando-se um interessante meio de se engajar populações, principalmente as jovens, em medidas preventivas. Ainda, hoje, tais debates são tabus em muitos grupos sociais, em vista de todo o imaginário vergonhoso e imoral que a sífilis carrega consigo.

Como é feita a pesquisa?

A pesquisa baseou-se em fontes históricas levantadas em bases de dados nacionais e internacionais. Os documentos foram consultados em arquivos físicos e digitais, como o acervo da Biblioteca Professor João Ferreira da Silva Filho, do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB/UFRJ), da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional (BN), da Biblioteca Gonçalo Moniz, da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB/UFBA) e do The British Journal of Psychiatry, atual Journal of Mental Science, da Cambridge University Press. Tais fontes consistem em obras acadêmicas, a exemplo das teses de doutoramento defendidas nas primeiras Faculdades de Medicina do Brasil, a saber, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (integrada à Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a Faculdade de Medicina da Bahia (hoje,parte da Universidade Federal da Bahia). Além das teses doutorais, também foram analisados artigos científicos publicados em periódicos médicos, durante a segunda metade do século XIX e início do século XX. Dentre essas revistas científicas, destacam-se os Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria, o primeiro periódico especializado no estudo das doenças mentais publicado no Brasil. Por fim, foram também analisados, durante o período estudado, manuais de psiquiatria, utilizados no ensino dessa área médica nas referidas instituições de ensino superior.

Qual a importância da pesquisa?

A paralisia geral progressiva teve um papel relevante no surgimento da especialidade psiquiátrica no Rio de Janeiro e em seu reconhecimento enquanto uma “ciência médica”. Ela foi a primeira forma de loucura que possuía uma causa biológica – a bactéria sifilítica. A forma como a PGP foi caracterizada ao longo de sua história permitiu que os psiquiatras se apropriassem do espaço do laboratório e de seus referenciais, considerados pela medicina da época como mais precisos e objetivos. Assim, esses profissionais buscavam mostrar que a loucura era uma doença como qualquer outra, e também podia ser investigada cientificamente.
A partir de 1890, muitos médicos passaram a acreditar que o número de pessoas vitimadas pela paralisia geral no país estava crescendo. Esse discurso foi muito bem articulado com as preocupações dos intelectuais brasileiros acerca do futuro da nação, durante a virada dos séculos XIX e XX. Nesse sentido, a psiquiatria conquistava reconhecimento frente ao poder público e seus profissionais começaram a ser vistos como detentores de um conhecimento que poderia ajudar bastante na transposição de certos obstáculos ao cultivo de uma população saudável e de um país desenvolvido. Sem ela seria difícil impedir que aqueles, já diagnosticados como sifilíticos, passassem a ser considerados também “loucos”.
Assim, conhecer a trajetória da paralisia geral progressiva é conhecer também a história de uma das mais antigas doenças venéreas do mundo, a sífilis, e do surgimento de uma especialidade médica no Brasil: a psiquiatria. Colocar uma enfermidade em seu contexto histórico e chamar atenção para as visões de mundo que orientaram a sua caracterização em um determinado tempo, pode auxiliar as atuais sociedades a entenderem a origem de certos tabus ligados a elas, buscando, assim, desconstruí-los. No caso da sífilis, essa desconstrução contribui para um diálogo mais aberto sobre a doença venérea, que ainda acomete um número grande de pessoas no mundo.

Área do Conhecimento

Ciências da Saúde

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Português sífilis
Português psiquiatria
Português condição sanitária

ODS

ODS 3: Saúde e Bem-Estar
ODS 4: Educação de Qualidade

Link da pesquisa original

Jogo

Encarte

Infográfico

Material Complementar

Data da publicação do texto de divulgação

November 22, 2021

Coleções

Treponema pallidum in cortical layer of the right frontal area of the brain [of General Paralysis] (case 299). Stained, with slight modification, by Levaditi’s method. x 1,100 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Cartaz Adquirida. 2021. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pt-br/campanha/campanha-sifilis-2021. Acesso em 08 nov. 2021. Herança Cartaz de propaganda dos anos de 1930, retirado da edição de julho de 1935 do Boletim de Educação Sexual, e utilizado pelo Círculo Brasileiro de Educação Sexual. Na legenda lê-se: “todo brasileiro deve se insurgir contra a cegueira sexual que o preconceito impõe, abrindo sua inteligência para nela penetrar vigoroso e radiante o clarão da verdade!” Educação e propaganda sanitárias Imagem

Recursos vinculados

Filtrar por propriedades

Has Part
Título Etiqueta alternativa Classe
A sífilis na história da psiquiatria brasileira: Construção dos saberes sobre a paralisia geral progressiva (PGP) Faz parte de Imagem
hasRelatedResource
Título Etiqueta alternativa Classe
A sífilis na história da psiquiatria brasileira Texto de divulgação Coleção
Is Part Of
Título Etiqueta alternativa Classe
Quebra-cabeça sobre a sífilis na história da psiquiatria Texto Game