Sustentabilidade da exploração de impacto reduzido na Amazônia Oriental

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Sustentabilidade da exploração de impacto reduzido na Amazônia Oriental

Título original da pesquisa

Sustentabilidade da exploração de impacto reduzido na Amazônia Oriental

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Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

A pesquisa avalia a capacidade de crescimento das árvores exploráveis com vistas às safras futuras.

Tipo

Artigo de periódico

O que é a pesquisa?

A maior parte dos recursos da floresta tropical úmida pertence à Amazônia brasileira, que corresponde à metade das florestas tropicais úmidas no mundo, cobrindo uma área de cerca de 400 milhões de hectares. A exploração madeireira seletiva – caracterizada pela derrubada de 3 a 8 árvores de diâmetro superior a 60cm em uma área de 1 hectare (ha) –, prática predominante na região amazônica, causa impactos expressivos na floresta, como a redução da cobertura do dossel, redução da densidade de árvores e o aumento da quantidade de material vegetal morto no chão, que pode servir como combustível em incêndios subsequentes à extração de madeira. Assim, muitos esforços de pesquisa se concentram na busca de eficiência e sustentabilidade para esse importante setor produtivo da região amazônica. Entretanto, a proposição de formas menos impactantes de manejo florestal, em relação apenas aos componentes ecológicos e socioeconômicos do ecossistema, é insuficiente, pois não leva em conta a capacidade específica de cada uma das diferentes espécies de árvores reagir às perturbações do ambiente, como é o caso da exploração madeireira.
A redução dos danos à vegetação da floresta é considerada a base para uma exploração viável de longo prazo, e o eixo central das técnicas de exploração de impacto reduzido – que visam a diminuir os danos colaterais da derrubada e da extração de toras – experimentadas na Amazônia e em outras florestas tropicais do mundo. O inventário das árvores comerciais e o planejamento das estradas, ramais e pátios para a retirada da madeira são exemplos de ações de exploração de impacto reduzido. Os danos colaterais da exploração da madeira envolvem, de imediato, a destruição das árvores vizinhas àquelas derrubadas, e a destruição de árvores – em geral pequenas, com diâmetro menor a 20cm –, removidas para a abertura das trilhas de arraste, que são destinadas a remoção das toras das ávores de interesse comercial por meio de máquinas. A médio prazo, as árvores danificadas apresentam mortalidade maior durante os primeiros anos depois da exploração. Contudo, as trilhas de arraste e clareiras criadas pela exploração propiciam que mais luz do sol penetre na floresta, criando condições favoráveis à regenaração de várias espécies e estimulando o crescimento das àrvores remanescentes.
O Diâmetro Minimo de Corte (DMC), diâmetro mínimo de uma árvore a partir do qual é permitido seu corte, é um dos critérios que contribui para aumentar a qualidade de um sistema de manejo florestal que busque sustentabilidade. Geralmente, o DMC utilizado na Amazônia é de 55cm. A regulação da exploração madeireira pela aplicação desse critério, todavia, não leva em consideração as diferentes características e exigências ecológicas relativas ao crescimento das diferentes espécies madeireiras. A regeneração da população remanescente de uma espécie explorada requer uma silvicultura mais completa do que a aplicação isolada de técnicas ou critérios de xploração, que garanta o desenvolvimento adequado do estoque comercial para futuras colheitas nos sistemas policíclicos. Pesquisas desenvolvidas em outras florestas tropicais demonstram que os benefícios da exploração de impacto reduzido são limitados pela intensidade da exploração. Ou seja, quanto menor a intensidade da exploração, menor o impacto. Até há pouco tempo, essa relação não seria preocupante para a Amazônia, uma vez que a intensidade de corte relatada na região sempre foi considerada baixa, quando comparada com outras florestas tropicais, especialmente com as florestas do sudeste da Ásia. Mas hoje esse cenário mudou.
Desde 2001, a Embrapa Amazônia Oriental, a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e a equipe de pesquisa florestal do Centre de Coopération International en Recherche Agronomique pour le Développement (Cirad) desenvolvem pesquisas que avaliam a capacidade de crescimento das árvores exploráveis com vistas às safras futuras. Os estudos são realizados em uma floresta de terra firme no município de Paragominas, Pará, e permitem avaliar a capacidade de recuperação da floresta, após a exploração madeireira, e a definir novas práticas de silvicultura, baseadas no conhecimento das características e exigências ecológicas das espécies madeireiras.

Como é feita a pesquisa?

Em 2004, foi realizado um estudo na Fazenda Rio Capim, área de manejo florestal de propriedade da empresa Cikel Brasil Verde no município de Paragominas, distante 320km de Belém, na região nordeste do Pará. O plano de manejo florestal da Fazenda prevê um sistema policíclico com base na regeneração natural, com ciclos de corte de 30 anos e seleção de espécies comerciais até uma intensidade de exploração em torno de 20m3 de madeira por hectare. O plano de manejo florestal da Fazenda Rio Capim cumpre com as exigências impostas pelo processo de certificação do Forest Stewardship Council(FSC).
A adoção das técnicas de exploração de impacto reduzido por parte da empresa se refletem no planejamento das operações, no treinamento e capacitação dos recursos humanos e nos investimentos em manejo florestal. Em 2004, antes da exploração madeireira, foram delimitadas 18 parcelas de floresta de 1ha (100m x 100m) cada, nas quais foram inventariadas e avaliadas todas as árvores com DAP ≥ 20cm (diâmetro de uma árvore medido a 1,30m do solo) em toda a área de cada uma das parcelas. Em subparcelas aleatórias de 25m x 50m (0,125ha), localizadas dentro das 18 parcelas de 1ha, foram medidas as árvores com DAP ≥ 10cm. Três meses após a remoção das espécies madeireiras de interesse, os danos colaterais foram avaliados por meio do inventário de todas as árvores danificadas e destruídas durante a atividade. A dinâmica da floresta – crescimento diametral das árvores remanescentes, mortalidade das árvores danificadas e o recrutamento (novas árvores com DAP ≥ 10cm) – após a exploração madeireira foi periodicamente monitorada em 2005, 2006, 2008 e 2010.

Qual a importância da pesquisa?

Na Amazônia, os estudos sobre os impactos da exploração de madeira mostraram que, em média, 14% das árvores com diâmetro ≥ 10cm são destruídas em decorrência da exploração de impacto reduzido. O nível médio de danos observado nas parcelas experimentais na Fazenda Rio Capim foi de 16%. Quando mais de sete árvores são derrubadas por hectare, a proporção de árvores destruídas atinge valores extremos de 20%, próximo ao valor médio calculado para o dano observado na exploração convencional predatória com intensidades de corte semelhantes (26% de dano com 6,8 árvores/ha) observadas em outros estudos. A proporção de árvores destruídas está diretamente relacionada ao número delas que foram derrubadas para uso ou exploração da madeira. A redução de danos à vegetação não depende apenas da implementação das técnicas de impacto reduzido, mas também da limitação da intensidade de corte em florestas manejadas para fins madeireiros. Esses achados confirmam resultados de pesquisas realizadas em outras florestas tropicais da Indonésia, que mostram que apenas em intensidades moderadas de extração (até 8 árvores/ha), os métodos da exploração de impacto reduzido são bem sucedidos na diminuição de danos.
Simulações da dinâmica das árvores do futuro mostram que mesmo em cenário muito favorável, com altas taxas de crescimento das árvores, um ciclo de corte com intervalo de 30 anos não seria suficiente para garantir uma segunda colheita produtiva das madeiras de interesse. Mesmo que as árvores crescessem de forma contínua 0,50cm/ano, o que é muito improvável, a taxa de reconstituição média do potencial madeireiro no fim desse período seria de apenas 50%, com uma intensidade de corte estimada duas vezes menor do que a da primeira exploração (gráfico). Nessas condições, não se observa a desejável sustentabilidade ecológica e econômica do sistema. Mesmo assim, se reconhece que a taxa de reconstituição calculada pelo modelo de simulação aplicado neste estudo é muito otimista, uma vez que os danos causados pela derrubada e arraste de árvores, durante a exploração, aumentam a mortalidade e a taxa de crescimento das espécies comerciais e esses valores tendem a declinar com o passar dos primeiros anos. Para manter uma taxa de crescimento de 0,50cm/ano durante todo esse período, é necessário prever tratamentos da silvicultura de desbastes seletivos para favorecer o crescimento em diâmetro das árvores potenciais em 0,50cm/ano. Esse tratamento consiste na retirada das árvores sem valor comercial vizinhas das árvores de interesse, para eliminar a competição por nutrientes e luz, e estimular o crescimento da árvore comercial a ser derrubada no próximo corte. Considerando o efeito positivo desse tratamento, depois de 40 anos já seria possível um segundo corte produtivo, com a extração de 4 árvores/ha em média.
Portanto o sucesso da silvicultura não depende somente da capacidade natural de regeneração e de reconstituição da floresta remanescente, mas também da redução dos danos gerais provocados pela extração de madeira e da realização de tratamentos de silvicultura para estimular o crescimento das árvores de interesse comercial. Dessa forma, a aplicação isolada das técnicas de impacto reduzido baseadas em DMC ≥ 55cm que não corresponde às exigências ecológicas das espécies não é garantia de sustentabilidade. Antes da primeira exploração, o manejador precisa saber quais árvores devem ser protegidas para a próxima safra. Isso permitirá a projeção de cenários futuros com modelos de simulação como o que foi aplicado nessa pesquisa, que estimem a taxa de reconstituição das árvores exploráveis e permitam assegurar que a primeira exploração não vai remover da floresta um número excessivo de árvores e, consequentemente, comprometer o ciclo seguinte. Com base no cenário mais produtivo deste estudo (ciclo de corte de 40 anos e crescimento de 0,50cm/ano), e considerando um diâmetro mínimo de corte de 55cm, este planejamento só seria possível se o DAP mínimo do inventário florestal fosse de 35cm.
Essas reflexões ressaltam a relevância das informações dos inventários pré-exploratórios, não apenas para o planejamento das estradas, ramais e pátios – infraestrutura necessária à atividade de exploração madeireira – mas também como ponto de partida para a elaboração das estratégias de silvicultura a serem adotadas para se alcançar um sistema sustentável. O conhecimento prévio da floresta deve ser combinado com a análise dos dados pós-exploratórios para avaliar o desempenho da exploração na redução de danos nas árvores de interesse comercial. O monitoramento dos indicadores de crescimento da floresta nas parcelas permanentes gera informações indispensáveis ao processo de tomada de decisões pertinentes à silvicultura por parte do manejador.

Área do Conhecimento

Ciências Biológicas

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Sustentabilidade
Portuguesa Amazônia
Portuguesa Exploração

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do Clima

Link da pesquisa original

Material Complementar

FERREIRA, Fabricio Nascimento. Análise da sustentabilidade do manejo florestal com base na avaliação de danos causados por Exploração de Impacto Reduzido (EIR) em floresta de terra firme no município de Paragominas-PA. 2005. 81 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Florestais, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2005. Disponível em: http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.1.1687.2805. Acesso em: 09 nov. 2022.

Data da publicação do texto de divulgação

December 22, 2011

Coleções

123.jpg Estimativa da intensidade de corte média em diferentes cenários nas 18 parcelas experimentais da UT 14, UPA 7, Fazenda Rio Capim, Paragominas – PA. Registros tomados em campo entre 2004 á 2005 (Fazenda Rio Capim-Grupo CIKEL em Paragominas-Pará) Medições do diâmetro Registros tomados em campo entre 2004 á 2005 (Fazenda Rio Capim-Grupo CIKEL em Paragominas-Pará)