Madeiras da floresta Amazônica utilizadas na fabricação de instrumentos musicais

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Título para divulgação do texto

Madeiras da floresta Amazônica utilizadas na fabricação de instrumentos musicais

Título original da pesquisa

Avaliação e classificação de madeiras da região Amazônica para utilização em instrumentos musicais

Revisão de texto

Autores do texto original

Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

Os pesquisadores estudaram mais de 300 espécies madeireiras e descobriram possibilidades na floresta amazônica para substituir espécies estrangeiras, mantendo a mesma qualidade física e sonora dos instrumentos.

Tipo

Projeto de pesquisa

O que é a pesquisa?

O som produzido pelos instrumentos musicais de madeira é influenciado tanto pelo seu formato e dimensões quanto pelas propriedades das madeiras utilizadas na sua fabricação. A madeira tem um papel importante na qualidade tonal do instrumento, fazendo do maior mérito na arte dos luthiers a habilidade de escolher a madeira mais apropriada para produzir instrumentos musicais com uma qualidade. Desse modo, os fabricantes (luthier ou indústria), acabam utilizando sempre as mesmas espécies de madeiras na produção de instrumentos musicais.
A tecnologia é capaz de inventar sintetizadores que substituam, com a mesma riqueza e qualidade, os sons extraídos dos instrumentos musicais convencionais. Todavia, por mais que muitos materiais já tenham sido testados, há uma grande variação no timbre do instrumento quando este não é feito de madeira. Assim, a maioria dos músicos prefere instrumentos feitos com matérias-primas originais, por suas propriedades acústicas moldadas pela natureza.
Cerca de 200 espécies de árvores são usadas na produção de instrumentos musicais no planeta; 70 delas são ameaçadas de extinção. O uso recorrente dessas madeiras, inclusive por indústrias de outros segmentos, como o de móveis, explica a ameaça e a raridade de algumas espécies. No Brasil, por exemplo, é crítica a situação do jacarandá-da-bahia, utilizado em instrumentos de corda, e do pau-brasil Caesalpinea echinata, utilizado para fabricar arcos de violino. Ambas são protegidas por Lei e têm a derrubada proibida. A madeira de pau-brasil é muito procurada no exterior, sendo considerada mundialmente a única que reúne características ideais de ressonância, densidade, durabilidade, beleza, além da extensão da curvatura, do peso, da espessura e de preciosas qualidades tonais, para a confecção dos melhores arcos de instrumentos de corda. O cerne do pau-brasil é alaranjado, bastante evidente na árvore recém-cortada, decorrente da presença de brasilina, que oxida com a exposição ao ar, assumindo uma coloração vermelha-coral, muito apreciada.
O Brasil, embora possua uma riquíssima biodiversidade e uma das mais vastas florestas tropicais do mundo, importa instrumentos musicais acabados ou madeiras para a fabricação desses instrumentos. Essas madeiras, de utilização nobre devido a sua escassez, possuem alto valor econômico e o elevado preço dessa matéria-prima pode desestimular a produção nacional de violinos, violas, violoncelos, clarinetas, oboés, pianos e outros. A raridade dos troncos encarece o preço final dos instrumentos musicais. Esse cenário levou as fábricas brasileiras, como Hering, Gianini, Di Giorgio, além de luthiers, a reservarem parte da produção habitual para instrumentos feitos com madeiras nacionais alternativas.
Há 40 anos, o Laboratório de Produtos Florestais (LPF), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, viabiliza soluções tecnológicas para a utilização de produtos das florestas, especialmente madeiras, de modo sustentável. A pesquisa por madeiras alternativas às tradicionalmente usadas na fabricação de instrumentos musicais está dentre aquelas realizadas pelo LPF. O pesquisador Mário Rabelo e sua equipe estudaram mais de 300 espécies madeireiras e descobriram possibilidades na floresta amazônica para substituir espécies estrangeiras, mantendo a mesma qualidade física e sonora dos instrumentos. A pesquisa propõe o casamento do mercado de instrumentos e seus interesses econômicos com a proteção ambiental, reduzindo a pressão principalmente sobre as espécies ameaçadas de extinção.

Como é feita a pesquisa?

A avaliação de algumas características e propriedades define se uma madeira é ou não de boa qualidade. A avaliação é feita no cerne uma vez que não se utiliza alburno para a confecção de instrumentos musicais. As espécies de árvores estudadas foram selecionadas por meio de um teste acústico e de acordo com suas características anatômicas (cor, grã, textura e figura), propriedades físicas (densidade da madeira e contração) e propriedades mecânicas (módulo de ruptura e elasticidade na flexão estática). Essas características e propriedades foram comparadas às das espécies importadas, tradicionalmente usadas na fabricação de instrumentos musicais e usadas como parâmetro de madeira de boa qualidade.
A madeira, embora tenha densidade menor à dos metais, tem uma velocidade de propagação sonora semelhante a eles. No teste acústico, desenvolvido para instrumentos de corda, um aparelho, controlado por um computador, capta a vibração transmitida de uma extremidade a outra das amostras de madeira e mede a amplitude e frequência da ressonância, ou seja, a velocidade de propagação do som. As amostras são pequenas réguas de 30 x 2 x 0,3 cm de dimensão. As madeiras de alta densidade apresentaram, geralmente, baixa velocidade de propagação sonora. Madeiras de baixa ou média densidade e alta velocidade de propagação, como o marupá, são alternativas para os fabricantes nacionais de guitarras em substituição ao mogno, espécie tradicionalmente utilizada na fabricação desses instrumentos, mas ameaçada de extinção.
A avaliação de algumas características e propriedades das madeiras, utilizada para selecionar aquelas de boa qualidade, não é definitiva para a escolha de uma espécie para a fabricação do instrumento musical, mas sim um indicativo de sua potencialidade. Existem inúmeras características que podem definir o timbre de uma madeira, até mesmo, variações dentro da mesma árvore.

Qual a importância da pesquisa?

As madeiras brasileiras podem produzir instrumentos musicais de qualidade, podendo ter características semelhantes ou até superiores às tradicionalmente utilizadas. Para os fabricantes de instrumentos musicais, o uso de madeiras brasileiras alternativas representa um incremento dos negócios a partir da queda de preço dos produtos sem perda de qualidade.
A árvore morototó, por exemplo, pode ser utilizada para fazer o tampo do violão no lugar do spruce, madeira importada. No braço do instrumento, a andiroba pode substituir o maple, outra madeira importada. O fabricante que gastava U$ 100 para importar apenas a madeira do tampo, utilizando espécies brasileiras, consegue comprar, pelo mesmo valor, todas as madeiras do instrumento. Com o dinheiro da montagem de um violão importado, pode-se fazer dois ou três violões com madeiras brasileiras. Já existem no mercado violões 100 % brasileiros.
Outro exemplo de instrumento fabricado integralmente com madeira nacional é o fagote feito de imbuia, executado pelo músico fundador da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, onde até hoje é seu primeiro fagotista, Hary Schweizer. Ex-professor de música da Universidade de Brasília, ele produz e toca fagotes feitos com madeiras brasileiras. Segundo o músico, ele aventurou-se na fabricação dos instrumentos porque não eram produzidos no Brasil, todos tinham de ser importados a um alto custo. Há mais de 20 anos os fagotes de Schweizer fazem sucesso em orquestras brasileiras, americanas e cubanas.
Outro aspecto importante da produção de instrumentos musicais é a origem das madeiras nacionais alternativas. Músicos, luthiers e indústria devem estar atentos aos selos que certifiquem a exploração sustentável das madeiras usadas na fabricação dos instrumentos. O Forest Stewardship Council (FSC) é uma organização independente, não governamental, sem fins lucrativos, criada em 1993 para promover o uso responsável das florestas ao redor do mundo. A certificação FSC é uma garantia internacionalmente reconhecida que identifica, por meio de sua logomarca, produtos madeireiros e não madeireiros originados do bom manejo florestal. O selo FSC garante que a madeira usada como matéria-prima foi obtida de forma legal, e de florestas exploradas de acordo com os princípios, critérios e normas difundidos pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil), os quais conciliam a extração lucrativa de árvores, para a produção de celulose e papel, com a conservação e benefícios sociais. Para que as madeiras alternativas e os selos se propaguem é necessário que músicos, luthiers, indústrias acreditem que é possível crescer economicamente sem destruir as florestas. Sem floresta, não há música. Não como a conhecemos por gerações.

Área do Conhecimento

Ciências Exatas e da Terra

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Instrumentos musicais
Portuguesa Produção
Portuguesa Madeira

ODS

ODS 15: Vida Terrestre
ODS 12: Consumo e Produção Responsáveis

Link da pesquisa original

Material Complementar

A Árvore da Música. Documentário sobre o Pau-Brasil revela a utilização de sua madeira na construção de arcos para violino, viola, violoncelo e baixo acústico

Data da publicação do texto de divulgação

September 26, 2014

Como citar este texto

CANAL CIÊNCIA. Madeiras da floresta Amazônica utilizadas na fabricação de instrumentos musicais. 2014. Disponível em: https://canalciencia.ibict.br/ciencia-em-sintese1/ciencias-exatas-e-da-terra/194-madeiras-da-floresta-amazonica-utilizadas-na-fabricacao-de-instrumentos-musicais. Acesso em: <data de acesso ao texto de divulgação>.

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