Estudo sobre o potencial de reúso da água nas indústrias de Manaus como instrumento para o desenvolvimento sustentável

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Estudo sobre o potencial de reúso da água nas indústrias de Manaus como instrumento para o desenvolvimento sustentável

Título original da pesquisa

Reuso de Água no Distrito Industrial de Manaus e a Importância das Águas Locais

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Autores do texto original

Fonte(s) Financiadora(s)

Resumo

O estudo mostra potencial de reúso da água nas indústrias de Manaus-AM.

Tipo

Projeto de pesquisa

O que é a pesquisa?

Segundo a Organização das Nações Unidas, até 2050 mais de 45% da população mundial viverá em países que não poderão garantir a quota diária mínima de 50 litros de água por pessoa para suas necessidades básicas.

O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo (13,7% do total mundial), mas a disponibilidade territorial desse recurso é desigual, pois mais de 73% de água doce do país está na bacia Amazônica, habitada por menos de 5% da população. Os demais 27% de recursos hídricos brasileiros atendem 95% da população.

Isso é preocupante, pois os interesses nacionais e mundiais sobre a reserva hídrica amazônica tendem a crescer em proporção inversa à escassez crescente nas demais áreas do planeta.

Assim tornam-se necessários, com urgência, projetos de métodos, mecanismos e tecnologias para a melhoria da qualidade dos corpos d’água da região, principalmente no que toca aos igarapés urbanos, maiores alvos de degradação pelas atividades sócio-econômicas, justamente pelo fato de estarem mais “acessíveis”.

Por isso, a comunidade científica amazônica vem estudando a problemática das águas regionais e as possibilidades de reuso da água de igarapés urbanos principalmente na área do Distrito Industrial de Manaus. Esse Distrito, ou Pólo Industrial de Manaus, abarca uma grande área (1700 hectares) nas proximidades do Igarapé do Quarenta, corpo d’água que desde a implantação do PIM serve de depósito de efluentes industriais.

Atualmente, das 470 empresas registradas na SUFRAMA, cerca de 185 encontram-se na área do Distrito Industrial que margeia o Igarapé do Quarenta. Nenhuma possui certificação ISO 14000 (de preservação ambiental) segundo dados de dezembro de 2002 do site da própria SUFRAMA, apesar de existirem entre elas muitas multinacionais de grande porte e alto nível de tecnologia aplicada ao processo produtivo.

O processo de instalação dessas indústrias não foi acompanhado por políticas ambientais que resguardassem seu entorno, principalmente no que se refere aos rios e igarapés, que sofreram significativos impactos derivados da atividade industrial na área. Os ecossistemas aquáticos se modificaram, bem como o comportamento hidrográfico e toda a relação entre a sociedade e o ambiente.

Na verdade não existem projetos que visem o uso racional da água e o despejo de efluentes menos poluidores voltados à possível recuperação do Igarapé do Quarenta.

No que se refere à Educação Ambiental, faltam projetos incentivados pelas empresas que envolvam as comunidades localizadas nas proximidades do manancial e que promovam resultados qualitativos, embora sejam essas empresas/indústrias as principais responsáveis pelos impactos gerados no ambiente do Igarapé do Quarenta. Também inexiste um projeto urbanístico por parte do poder público que dê infra-estrutura às comunidades e organização espacial ao local.

A ocupação humana das margens do Igarapé, gerada pela implantação do Distrito Industrial e pela expansão da cidade, é outro fator de impacto ambiental. A mata ciliar foi retirada e desencadeou-se um processo de lixiviação e retirada da camada de húmus do solo, favorecendo a erosão, o aumento da quantidade de material em suspensão e a turbidez da água, bem como maiores níveis de poluição e contaminação, já que ao despejo de efluentes industriais somou-se o de dejetos domésticos.

Esse quadro geral provém de estudos e pesquisas sobre os vários corpos d’água urbanos (igarapés) realizadas pelas instituições de pesquisa locais (UFAM, INPA, SEDEMA, IPAM).

Já o reuso de água tem sido debatido mundialmente desde a década de 60. Foi nessa época que muitos países começaram a enfrentar escassez de água por conta do crescimento populacional e da diversificação dos usos dos recursos hídricos pelos setores econômicos.

Mas apesar da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Rio-92) ter considerado a água um bem econômico para fins prioritários (beber, cozinhar, tomar banho) e, no Brasil, a Lei das Águas (1997) ter instituído a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o reuso da água tem sido pouco discutido em nosso país.

O reuso é, basicamente, o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em atividades humanas, para suprir a outras necessidades, inclusive a original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) distingue três reúsos:


reúso indireto, quando a água já usada, uma ou mais vezes para uso doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e utilizada novamente de forma diluída, o que pode ser intencional quando decorrente de descargas planejadas a montante de um rio ou com recargas planejadas em aqüíferos subterrâneos;
reúso direto, que é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para irrigação, uso industrial, recarga de aqüíferos, obtenção água potável, etc.; e
reciclagem interna, que é o reúso de água internamente a instalações industriais, para economizar água e controlar a poluição.
Além dessas definições, tem se difundido a adoção dos termos reúso potável (para berer) e reúso não potável de água.

O reúso não potável para fins industriais consiste na utilização industrial dos efluentes ao invés de sua disposição no meio ambiente, e é o foco central da presente pesquisa.

Como é feita a pesquisa?

Inicialmente a pesquisa levanta as mensurações científicas sobre a qualidade da água do Igarapé do Quarenta, as quais revelam o seguinte quadro:

A temperatura da água aumenta de 26ºC para 29ºC entre o ponto de encontro do Igarapé com o Distrito Industrial e a jusante (rio-abaixo) desse ponto de encontro, por causa da retirada da cobertura vegetal.

O pH passa de 6,0 na área de encontro do Igarapé com o Distrito, apresentando águas alcalinas.

A condutividade apresenta aumento em comparação com estudos anteriores e valores elevados para as características das águas locais.

Registraram-se poluentes como Ca2+, Mg2+, K+, Na+, HCO3-, SO42- e Cl- (cálcio, magnésio, potássio, sódio, carbonato ácido, sulfato, cloreto) provenientes da lixiviação e de esgotos domésticos.

Constataram-se altas concentrações de amônia vinda de efluentes industriais, esgotos domésticos e excreção de animais, comprovando a degradação do Igarapé.

Aumentou a concentração de Ferro, Cromo, Cobre, Níquel e Zinco, sugerindo poluição por efluentes derivados de galvanoplastia.

Foi encontrado Cádmio no fígado de um peixe retirado do Igarapé.

Valores máximos de Cobre foram encontrados nas águas do Igarapé do Quarenta, provavelmente proveniente de indústrias locais.

Aumentaram também os índices e concentrações de Cromo, provavelmente derivadas do baixo teor de oxigênio e elevado teor de matéria orgânica degradada e inorgânica oxidada.

Foram comprovados, ainda, elevados níveis de metais pesados nos sedimentos de fundo (Cobalto, Cádmio e Cobre) e/ou mudanças de forma química resultantes do despejo de efluentes das indústrias.

A título de exemplo, as concentrações de Cobre em outros igarapés urbanos de Manaus (como o de São Raimundo) não são representativas quando comparadas às do igarapé do Quarenta.

Outro importante registro é a constatação de concentrações de Zinco em músculos de peixes no Igarapé do Quarenta.

As concentrações elevadas de Manganês derivam provavelmente de uma lixeira desativada. Elas provocam mudanças ambientais quanto à matéria orgânica, o oxigênio dissolvido e o pH, e embora não haja tendência a acúmulo de Manganês, suas correlações no igarapé revelam os impactos a que tem sido submetido.

Assimilados estes dados, a pesquisa cita os múltiplos usos da água (abastecimento doméstico e industrial, irrigação agrícola, navegação, recreação, geração de energia elétrica, aqüicultura, piscicultura, pesca e assimilação e afastamento de esgotos).

No caso industrial, destaca o uso da água como matéria-prima, na remoção de impurezas, na geração de vapor, na refrigeração de sistemas térmicos, em torres de resfriamento, na incorporação aos produtos, na higiene e limpeza, na fabricação de pesticidas e fertilizantes, etc. A maioria das indústrias usa em sua produção grandes quantidades de água limpa.

Muitas dessas atividades degradam os recursos hídricos. Nas torres de resfriamento a água aquecida perde oxigênio e é assim devolvida aos rios. Na lavagem de produtos durante a fabricação são descarregados resíduos tóxicos, metais pesados e restos de materiais em decomposição. Estas águas contaminadas são devolvidas aos rios.

Torna-se necessário, assim, elencar os mecanismos para racionalizar o uso de água no setor industrial. Apesar da produção de tecnologias ser escassa e setorizada, e do limitado número de reúsos, algumas aplicações eficazes foram detectadas no país. Eis alguns dos exemplos levantados:


O Frigorífico Marba, por questões legais, precisou tratar os dejetos industriais gerados na produção de alimentos e de efluentes sanitários. O sistema escolhido foi o tratamento de lodo ativado anaeróbio, suficiente para atender as exigências da legislação, mas depois de análises econômicas verificou-se que seria interessante estender o tratamento para reutilização dos efluentes na lavagem da fábrica e resfriamento de caldeiras, chegando-se a uma economia de até 60% dos gastos com a água.
A pesquisa mostra as vantagens, na relação custo-benefício, da implantação de métodos de reúso de água pelas indústrias: a Continental, com menos de R$ 5 mil, instalou um sistema de filtragem de água, com vazão de 9 a 10 m³/h (metros cúbicos por hora), adaptado ao sistema de tratamento de efluentes. A água utilizada no tratamento das superfícies metálicas (cerca de 5.500 m³/mês) passa por um sistema de filtragem à base de areia isenta de ferro, que retém os contaminantes, e é reutilizada na lavagem de piso, no processo de desengraxe das peças e outras etapas, além de sanitários.
Com operações de lapidação, perfuração, lavagem e resfriamento de vidros, a Pilkington tinha elevado consumo de água (quase 350 m³/dia). Agora a empresa registra economia de 95% no consumo para uso industrial, com ganho final de 13.000 m³/mês. Isso graças à implantação de uma Estação de Reúso de Água (ERA), capaz de recuperar 100% do efluente industrial gerado.
Embora não constem exemplos assemelhados na área do Distrito Industrial de Manaus, a pesquisa detalha os métodos acima, aplicados com sucesso, visando adaptações ou mesmo o desenvolvimento de tecnologias locais de reúso de água.

A pesquisa recorda que investir em ecoeficiência atende às atuais exigências do mercado consumidor e melhora a qualidade de vida da população. Nesse sentido é também mencionada, como instrumento de estímulo de usos mais racionais da água, a cobrança pelo uso. Pois a cobrança não deve ser vista como mais um imposto, pois só será implementada em bacias hidrográficas que apresentem escassez de água ou conflitos de uso (segundo a Lei 9433/97).

Finalmente a pesquisa recorda que é relevante, para o reúso de água na Amazônia, a definição da aplicabilidade do termo escassez, geralmente vista sob a ótica da quantidade e não da qualidade.

Para a realidade de Manaus seria aplicável o termo escassez pelo fato de as águas dos rios e igarapés urbanos (como o Igarapé do Quarenta) estarem fora dos parâmetros de qualidade aceitáveis e utilizáveis pela população.

Paradoxalmente, o fato de residir na maior reserva de água doce do planeta não é garantia de uso de água limpa e cristalina.

Qual a importância da pesquisa?

A discussão sobre o que vem a ser o reúso de água, suas aplicações, e a preocupação com conservação e preservação do meio ambiente fazem parte dos anseios por uma sociedade sustentável, que use racionalmente os recursos naturais como a água.

O desenvolvimento científico-tecnológico e os novos conhecimentos para implantar mecanismos de reúso de água nas indústrias são essenciais para questões centrais da sociedade sustentável, como:

- Despejo de menor quantidade de efluentes nos corpos d’água;

- Diminuição do potencial poluidor dos efluentes, em quantidade e qualidade, considerando métodos internos de tratamento;

- Menor grau de poluição/contaminação dos corpos d’água por despejo de efluentes tratados, auxiliando na redução qualitativa de sua contaminação;

- Maior aproveitamento da água em usos internos à indústria de acordo com a sua qualidade;

- Captação de menor quantidade de água para uso industrial;

- Maior economia de capital, ambiental e social para as indústrias e para o estado;

- Redução dos impactos a jusante (rio-abaixo) em comunidades que se utilizam do corpo d’água;

- Redução das despesas com tratamento de água para o abastecimento público;

- Diminuição do desembolso de capital dos cofres públicos para solucionar problemas de saúde decorrentes de doenças veiculadas pela água de má qualidade; e

- Aumento da qualidade de vida da população ribeirinha e das comunidades que utilizam a água dos mananciais afetados por efluentes industriais.


Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), na América Latina e Caribe, em 2000, 78 milhões de pessoas não têm acesso à água encanada e 117 milhões de pessoas não têm acesso à rede de esgoto.

Segundo a Associação Internacional de Engenharia Sanitária e Ambiental, o Brasil tem 75 milhões de pessoas sem esgoto sanitário, 20 milhões sem água encanada, 60 milhões sem coleta de lixo e 63% do lixo é lançado em cursos de água.

De acordo com a OMS, a falta de água potável e de saneamento no Brasil é causa de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares, implicando gastos anuais de US$ 2,5 bilhões. Estima-se que para cada real investido em saneamento, se economizam R$ 5,00 em serviços de saúde.

Segundo especialistas, a falta de acesso à água segura continua sendo uma das principais causas de doenças e mortes no mundo. Além disso, devido a seus graves e variados problemas, a sociedade brasileira não tem refletido o bastante sobre a questão da ameaça de escassez em quantidade e qualidade da água. Todos estes dados são suficientes para testemunhar a importância desta pesquisa.

Área do Conhecimento

Ciências Biológicas

Palavras-chave – Entre 3 a 5 palavras

Portuguesa Água
Portuguesa Manaus
Portuguesa Brasil
Portuguesa Tecnologia
Portuguesa Degradação
Portuguesa Indústria

ODS

ODS 6: Água Potável e Saneamento
ODS 9: Indústria, Inovação e Infraestrutura

Referência da Pesquisa Original

SANTOS, Deuzanira Lima dos. Reuso de Água no Distrito Industrial de Manaus e a Importância das Águas Locais. 2003.

Material Complementar

Data da publicação do texto de divulgação

July 11, 2003

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