Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros
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Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros
Description
A Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros apresenta biografias e entrevistas concedidas por personalidades científicas de relevante e notório conhecimento e que deixaram grandes contribuições para o país. A ideia é levar ao conhecimento dos brasileiros a vida e a obra desses cientistas, pouco conhecidos pela população, além de mostrar um pouco da história do Brasil.
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Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros
A Galeria de Notáveis Cientistas Brasileiros apresenta biografias e entrevistas concedidas por personalidades científicas de relevante e notório conhecimento e que deixaram grandes contribuições para o país. A ideia é levar ao conhecimento dos brasileiros a vida e a obra desses cientistas, pouco conhecidos pela população, além de mostrar um pouco da história do Brasil.
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Paschoal Lemme
O educador Paschoal Lemme é discípulo de Anísio Teixeira, Fernando Azevedo e Lourenço Filho. Porém, ao longo de seus estudos no magistério, começou a discordar dos mestres e ter uma concepção mais sociológica da educação: As condições de educação brotam da própria estrutura social, num retrato das condições econômico-sociais do país. Paschoal Lemme considerava utópico pensar que a educação produz transformações sociais profundas. Para o educador, a escola é muito mais um produto da sociedade em que ela se organiza do que fator transformador dessa sociedade. Suas teorias estabelecem que a escola tem muito mais a função de preservar a própria estrutura social. Lemme também dirigiu o projeto de educação de adultos criado por Anísio Teixeira em 1933. Nasceu em 1905, no Rio de Janeiro. Foi professor da Escola Normal do Distrito Federal. Autor de "Memórias de um professor", Paschoal Lemme deixou inúmeras obras sobre a história da educação brasileira do século 20. Participou da formulação de políticas educacionais e lutou por oportunidades iguais para todos, por meio de manifestos, textos e redações de projetos de lei. Faleceu em 1997. -
Alberto Santos Dumont
Alberto Santos Dumont (1873-1932) foi um inventor brasileiro, recebeu o título de "O pai da aviação". Alberto Santos Dumont nasceu na Fazenda Cabangu, Palmira-Minas Gerais, atualmente denominada Santos Dumont, no dia 20 de julho de 1873. Filho de Henrique Dumont, um engenheiro francês e dono de fazendas de café em São Paulo e de Francisca Santos Dumont, filha do comendador e industrial Francisco de Paula Santos. O avô dele, François Dumont, joalheiro francês, veio para o Brasil em meados do século XIX e foi morar em Diamantina-MG. Santos Dumont teve cinco irmãs e dois irmãos. Aprendeu a ler com sua irmã Virgínia. Em 1891, Santos Dumont, junto com a família, visitou a França pela primeira vez e em 1892, foi emancipado e se mudou para Paris, para estudar. Lá, ele fez contato com Albert Chapin, que viria a se tornar o mecânico de seus inventos. Em Paris, Santos Dumont aprofundou-se nos estudos, principalmente em mecânica e no motor de combustão. Santos Dumont ficou fascinado, pois sempre se interessou por mecanismos. Seu sonho, desde criança, era criar um aparelho para voar que o próprio homem pudesse controlar. Santos Dumont também ficou conhecido pelo seu jeito de se vestir e por gostar de esportes, entre eles: o automobilismo, o esqui e a esgrima. O primeiro Balão, O "n.º 1", foi chamado também de “Brasil”, no dia 20 de setembro de 1898, o balão subiu aos céus, atingindo 400 metros de altura, e retornou ao mesmo ponto de partida. Santos Dumont construiu diversos balões, entre eles o de "n.º 3" com motor movido a gasolina. Em 1900, Santos Dumont aceitou o desafio que consistia em contornar a Torre Eiffel e voltar ao ponto de partida, o Campo de Saint-Cloud, em 30 minutos. O vencedor ganharia 100.000 francos. Após várias tentativas com cinco dispositivos – incluindo o dirigível "n.º 5", cujo voo terminou em um acidente que quase lhe tirou a vida, Dumont cumpriu a missão de dar a volta à Torre Eiffel com o Balão "n.º 6". e com isso ganhou o Prêmio Dustche. Contudo, Santos Dumont não ficou com o prêmio, metade foi doada aos seus mecânicos e auxiliares e a outra metade, deu aos mais necessitados. O balão "n.º7", que foi projetado para corrida, nunca chegou a competir, pois não tinha concorrente. O "n.º 8" não existiu. Com o "n.º 9", Dumont começou a transportar pessoas nos voos que fazia. Uma de suas passageiras foi a cubana Aída de Acosta, que se tornou a primeira mulher no mundo a voar. De tanto cruzar os céus de Paris com o "n.º 9", recebeu o apelido de "Le Petit Santos". O "n.º 10", maior que os outros, foi denominado "um dirigível ônibus", pelo próprio Santos Dumont. Com o "14 Bis", sua mais famosa invenção, o brasileiro cumpriu alguns desafios em exibições públicas nos arredores de Paris. O nome do avião veio do uso do balão 14, uma referência para uma "aeronave mais pesada que o ar". No dia 23 de outubro de 1906, realizou um voo de 60 metros. O segundo desafio se deu no dia 12 de novembro de 1906, quando o "14 Bis", com um motor de 50 cavalos de potência, partiu do Parque de Bagatelle e subiu a uma altura de 6 metros, percorrendo 220 metros. Em 1908, Santos Dumont construiu o "Demoiselle"; tudo nela era obra de Dumont, inclusive o motor. Em 1910, na primeira exposição da Aeronáutica realizada no Grand Palais de Paris, o "Demoiselle" foi um sucesso. Em 1910, fez seu último voo com o Demoiselle, após sofrer um grave acidente. Nesse mesmo ano, abandonou seus experimentos com aeronaves e passou a enfrentar problemas de saúde e sofrimento pela falta de reconhecimento e inserção social, dificuldade financeira diante da crise econômica mundial e desgosto com o mau uso de suas invenções, sobretudo durante a guerra. Com esclerose múltipla e depressão, Santos Dumont suicidou-se em um hotel no Guarujá, São Paulo, no dia 23 de julho de 1932, enforcando-se com uma gravata. Para não manchar a imagem de Dumont, o governo divulgou que ele teria sofrido um infarto. Dumont deixou dois livros: "Dans-L'air" (1904) e "O que Vi e o que Nós Veremos" (1918). Em 1924, foi eleito para a Academia Brasileira de Ciências. É considerado o pai da aviação e no dia 23 de outubro, comemora-se o dia do aviador em homenagem a esse ilustre brasileiro. Ele também foi condecorado com o título de patrono da Aeronáutica e teve o seu nome inscrito no livro dos "Heróis da Pátria." -
Bertha Maria Júlia Lutz
Bertha Lutz nasceu na cidade de São Paulo, em 2 de agosto de 1894, filha de Amy Fowler e de Adolfo Lutz - médico e cientista brasileiro-fundador da medicina tropical e da zoologia médica no Brasil, além de diretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo. Ele considerava o desempenho das universidades brasileiras inferiores ao das europeias, assim, enviou Bertha em 1914, para Paris, na França, a fim de concluir o ensino secundário e cursar o nível superior. Ela formou-se em botânica, ciências naturais, zoologia, embriologia, química e biologia pela Université Paris-Sorbonne (Faculdade de Ciências da Universidade de Paris), em 1918, tornou-se tradutora no setor de zoologia do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro para ficar ao lado do pai. No ano seguinte, prestou concurso para o Museu Nacional. Entre 10 “candidatos”, foi a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro. Embora o cargo fosse o de secretário, atuou como naturalista, acumulando experiência em museologia dentro da mesma instituição. Aos 24 anos, tomou-se militante da luta pela cidadania da mulher e em 1919, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, a qual foi substituída em 1922, pela Federação Brasileira para o Progresso Feminino, também fundada por ela, cujo objetivo era dar início à luta pelo direito ao voto das mulheres. Sob a presidência de Bertha Lutz entre 1922-1942, essa organização teve por objetivo congregar as diversas associações estaduais e nacionais. Em 1931, ao lado de outras ativistas, ela redigiu e entregou ao presidente Getúlio Vargas (1882-1954), documento sobre os direitos das mulheres. Em 1933, Bertha fundou a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas, e também, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Posteriormente, no ano seguinte, concorreu à Câmara dos Deputados, mas conseguiu apenas a suplência do Partido Autonomista, que era ligado ao movimento feminista. Dois anos depois, em decorrência da morte do Deputado titular Cândido Pessoa, obteve o mandato como suplente devido à vacância do cargo. Com isso, tornou-se a segunda deputada federal do Brasil. Em seu mandato, lutou pela mudança da legislação referente ao trabalho de mulheres e menores de idade, propôs igualdade salarial, isenção do serviço militar feminino, licença maternidade, diminuição da carga horária de trabalho e elaborou projetos para o combate à lepra e à malária no Rio de Janeiro. Permaneceu no parlamento até novembro de 1937. No final do ano 1937, assumiu interinamente a chefia do setor de botânica do Museu Nacional, sendo autorizada a zelar pelas coleções científicas de seu pai, que versavam sobre a lepra e os anfíbios, bem como a realizar expedições para complementar os estudos sobre os anuros. Posteriormente, com a morte de seu pai, Bertha reuniu e publicou todos os textos dele, preservou suas coleções biológicas e acervo pessoal, que incluía numerosas cartas e documentos. Foi aposentada compulsoriamente pelo Museu Nacional em 1964, mas continuou trabalhando até ser agraciada com o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 16 de setembro de 1976, Bertha Lutz faleceu no Rio de Janeiro. Durante sua vida, Bertha Lutz participou de muitas conferências, foi membro de diversas associações e contribuiu tanto para ciência como para o movimento de igualdade de gênero do país. Um dos destaques nos estudos como bióloga, foi a descoberta da espécie de sapos Paratelmatobius lutzii, chamado de “Lutz’s rapids frog”. Na política, tornou-se uma das quatro mulheres escolhidas entre 850 para participar da redação da Carta das Nações Unidas. Com o impacto de contribuições, a Câmara dos Deputados disponibiliza na internet os documentos da deputada Bertha Lutz, reconhecidos pela Unesco, como Memória do Mundo e, em 2020, publicou-se o livro biográfico sobre Bertha Lutz. Em 2021, a HBO lança o documentário sobre a vida de Bertha Lutz, denominado “ Bertha Lutz — A mulher na carta da ONU”, com o objetivo de retratar o importante papel da bióloga e feminista brasileira, e ao mesmo tempo, assegurar que as questões de gênero sejam contempladas nas bases da Organização das Nações Unidas (ONU). -
Yolande Monteux
Yolande Monteux nasceu em 03 de outubro de 1910 em Chartres, na França. Com 03 anos de idade, a família dela mudou-se para São Paulo. Naturalizou-se brasileira em 1937, neste mesmo ano, tornou-se a primeira mulher brasileira a formar-se em física, além disso foi também uma das primeiras mulheres matemáticas do estado de São Paulo. Com 17 anos, yolande já dava aulas particulares aos filhos da elite. Em 1935, cursou física e matemática na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. EM 1941, foi contratada por esta faculdade como assistente da disciplina de Física Geral e Experimental e pela cadeira de Física Teórica e Física Matemática, em 1942, compôs a equipe de Giuseppe Occhialini e Gleb Wataghin e Marcello Damy de Souza Santos em pesquisas sobre raios cósmicos, tornando-se uma das pioneiras da área. Neste mesmo ano, apresentou os resultados de sua pesquisa com a câmara de Wilson no Simpósio Internacional de raios cósmicos no Rio de Janeiro. Em 1943, ela consegue o cargo de estagiária na seção de química do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), no laboratório de Espectroscopia, onde realizava experiências com querosene e zinco. Trabalhou também na Colmeia, “entidade responsável em dar assistência moral, econômica, educacional e cívica aos alunos dos cursos secundários”. Casou-se em 1948 com o jornalista João Correa de Sá, teve dois filhos e junto com o marido traduziu obras literárias para o português. Na década de 1950, assumiu o cargo de engenheira tecnologista do IPT, e com isso, passou a estudar materiais radioativos, areais monazíticos, além dos métodos de análises de urânio e tório, e também com o dessalgamento da água do mar e de carbogênico para o tratamento hospitalar. Em 1960, foi convidada para um cargo no Instituto de Pesos e Medidas em Paris, porém permaneceu pouco tempo devido a problemas com outros pesquisadores do Instituto, com isso transferiu-se para o Imperial College, em Londres, por lá permaneceu sem jamais retornar ao Brasil. Yolande teve dificuldades fora do Brasil para se colocar como pesquisadora, porque o diploma dela não era bem aceito na Europa. Por isso, tornou-se professora do ensino fundamental na França, Inglaterra, Tunísia e Nigéria e teve a oportunidade de participar do projeto experimental “Universidade popular”, que consistia em oferecer a todos o aprendizado de matemática, física e ciências. Preocupava-se também com temas ambientais, tais como: desflorestamento e poluição nuclear e responsabilidade social do cientista, além da preocupação com o mau uso da ciência. Yolande era uma mulher de opiniões fortes e convicções idealistas, ela abriu as portas da Física para as brasileiras. E contribuiu para a difusão e expansão da ciência nacional. Foi de grande importância para o enquadramento funcional de mulheres no IPT. Morreu em 1998 em Chartres, na França aos 79 anos. -
Virgínia Leone Bicudo
Virgínia Bicudo nasceu em 21 de novembro de 1910, filha de mãe italiana Giovanna e do escravo Alforriado Theóphilo Júlio. A mãe de Virgínia, Giovanna, filha mais velha de Pietro Paolo Leone e Agrippina Palermo Leone, desembarcou no Brasil, junto com a família, no porto de Santos em 1897, vindos de Catania na Itália, para a fazenda de Café do Coronel Bento augusto de Almeida Bicudo. Giovanna trabalhou como babá da filha de criação do coronel Bento e lá conheceu Theóphilo Júlio, por quem se apaixonou, chamado de “escravo de dentro”, recebeu essa alcunha porque vivia dentro da casa grande e também era apadrinhado de Bento. Casaram-se e mudaram-se para São Paulo. Giovanna e Theóphilo tiveram seis filhos, entre eles Virgínia, a segunda filha do casal. Theóphilo, pai dedicado e amoroso, trabalhou a vida inteira nos correios, porém seu sonho sempre foi a medicina, contudo não conseguiu o seu intento por causa de suas raízes. Virgínia, sempre foi muito curiosa e demonstrou desde cedo interesse pelo conhecimento. Sofreu muito preconceito, devido a sua origem. Mas, apesar do apelido de negrinha, recebido na escola e pelo preconceito sofrido devido à ascendência de escravos, e talvez como um refúgio, ela sempre tirou boas notas na escola e era uma aluna dedicada. {...} ser ótima aluna e ter nota boa é uma proteção para o negativo: negrinha é negativo, nota boa é positivo. Ser negrinho com nota boa. Virgínia, iniciou os estudos na Escola Normal Caetano de Campos, no bairro da Luz, na cidade de São Paulo. Posteriormente, em 1932, ingressou no curso de Educação Sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo, depois de formada, trabalhou na seção de Higiene Mental Escolar do Serviço de Saúde Escolar, de onde se tornou educadora sanitária, Em 1936, ingressou no curso de graduação de Ciências Políticas e Sociais da ELSP (Escola Livre de Sociologia e Política), onde recebeu o grau de bacharela em 1939. Em 1937, ainda estudante, candidatou-se a membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da qual tornou-se membro efetivo em 1945. “Eu fui para a escola de sociologia, porque eu tinha sofrimento, tinha dor e eu queria saber o que me causava tanto sofrimento”. Virgínia foi a única mulher dentre 8 bacharéis. Nesse ínterim conheceu Durval Marcondes, fundador do movimento psicanalítico brasileiro. No ano de 1945, entra na escola livre de sociologia para fazer mestrado em sociologia com o tema Estudo de atitudes raciais de pretos e mulatos em São Paulo, o qual traz como objeto de pesquisa a questão das relações raciais e do preconceito presentes na nossa sociedade e também a premissa de que a cor da pele se constitui em um empecilho para ascensão social e, mais ainda configura-se uma categoria social, é um elemento impeditivo da consciência social sobre a questão racial no Brasil. “Eu me interessei muito cedo por esse lado social. Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E, na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história” Em 1953, publicou na Revista Anhembi, o relatório:" Atitudes dos alunos dos grupos escolares em relação com a cor dos seus colegas", quando da sua participação no Projeto UNESCO coordenado por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Virgínia foi uma ferrenha defensora da psicanálise no Brasil, a primeira psicanalista sem formação médica, além de ter sido uma das primeiras professoras universitárias negras do Brasil. Em 1962, foi eleita presidente da segunda diretoria do Instituto de Psicanálise, função que desempenharia até 1975. Redigiu colunas sobre o assunto na imprensa, onde defendia a ideia da função social da psicanálise. Ajudou na criação da fundação da Sociedade de Psicanálise de Brasília e trabalhou também como colaboradora da Revista Brasileira de Psicanálise (RBP). Em 2004, esta revista a referenciou como sendo "uma das primeiras psicanalistas brasileiras com trânsito em publicações internacionais". Em 1970, ela inicia um grupo de estudo do qual participaram (Caiuby de Azevedo Marques Trench, Humberto Haydt de Souza Mello, Ronaldo Mendes de Oliveira Castro, Tito Nícias Rodrigues Teixeira da Silva e Luiz Meyer), e que se tornaria a primeira turma da Sociedade de Psicanálise de Brasília. Detentora de um vasto conhecimento e querendo ampliar as fronteiras da psicanálise para além dos consultórios e desejosa de mostrar o assunto sob outro prisma: O de auxiliar pais e educadores no cuidado e atenção com a educação e o desenvolvimento emocional da criança. Virgínia, resolve, então, para concretizar esse objetivo, se utilizar dos meios de comunicação lança um programa chamado “Nosso Mundo Mental" na TV Excelsior onde cria episódios, que abordam temas do cotidiano, tais como: mente, subconsciente, memória, agressividade, inveja culpa, que se transformam em folhetins diários do jornal Folha da Manhã e que em 1955, comporão o livro com o mesmo nome: “Nosso Mundo Mental ". Com isso, ela se torna precursora no mundo da mídia no Brasil. Virgínia, utilizando-se dos meios de comunicação de que dispõe: rádio, jornal e revista, dá cursos, palestras, entrevistas, sempre com a finalidade de divulgar a psicanálise e a partir daí, surge uma gama enorme de matérias e publicações dela e falando sobre ela nas mídias. Em setembro de 1955, Virgínia vai estudar em Londres onde conhece vários nomes de referência na psicanálise. E o fato de estar longe do Brasil, não a impede de continuar divulgando a psicanálise aqui no Brasil. Desta forma, utiliza-se da BBC para transmitir algumas palestras no programa “no Mundo das Ciências", E apesar dos poucos recursos e da dificuldade enfrentada por causa do idioma, pois sabia pouco o inglês, Virgínia persiste e consegue a prorrogação da bolsa para continuar os estudos na Europa, onde conhece renomados nomes não só da psicanálise, como também de outras áreas de conhecimento.. Nesse contexto, ela conhece Bion que é quem a recebe em Londres e de quem vai se tornar grande amiga e leva-o várias vezes ao Brasil. Eles mantêm então laços estreitos de amizade que perdurarão por muitos anos até a morte de Bion. Em 1959, Virgínia retorna ao Brasil, trazendo na bagagem a experiência e o conhecimento adquiridos na Europa. Em 1960, apresenta na SBPSB, o trabalho de sua autoria: “Inveja e fetichismo”. Retoma os trabalhos clínicos, iniciados anteriormente, quando de sua ida para a Inglaterra, só que dessa vez o faz no seu próprio apartamento. Após 10 anos de atividades em São Paulo, ela passa 12 anos se alternando entre São Paulo e Brasília, onde leciona na Universidade Nacional de Brasília, atual UnB e que iria abrigar a sede do Instituto Brasileiro de Psicanálise (SBPSB), e que se tornaria a Sociedade de Psicanálise de Brasília, E lá permanece por muito tempo e ajuda a formar vários estudantes na área. Retornou a São Paulo em 1980, mas continuou dando aulas em Brasília, onde permanece uma semana por mês, satisfeita com o trabalho realizado, despede-se de Brasília em 1993. Contudo continua com os atendimentos clínicos em São Paulo até 2000. Morreu em 2003. -
André Pinto Rebouças
André Pinto Rebouças nasceu em Cachoeira, Bahia, no dia 3 de janeiro de 1838. Filho de Antônio Pereira Rebouças, e de Carolina Pinto Rebouças. O tio dele, Dr. Manuel Maurício Rebouças, foi médico, professor da Faculdade de Medicina da Bahia e combatente da Guerra de Independência do Brasil. Apesar do preconceito racial, o pai de André, um mulato filho de uma escrava nascida livre e de um alfaiate português, foi um homem importante e de prestígio na época. Autodidata, advogado representou a Bahia na Câmara de Deputados por diversas legislaturas; foi secretário do Governo da Província de Sergipe; conselheiro de Pedro II, motivo pelo qual recebeu o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, em 1823. Detentor de uma condição social atípica para uma família de descendente de escravos, e também o empenho do pai permitiu a ele e aos 6 irmão uma boa educação e escolaridade elevadas. Em fevereiro de 1842, André muda-se com a família para o Rio de Janeiro, ingressa em 1854, na Escola Militar, onde conclui o curso preparatório em 1857, e logo depois galga o cargo de 2º tenente do Corpo de Engenheiros. Conclui o Bacharelado em Ciências Físicas e Matemáticas, em abril de 1859, na Escola de Aplicação da Praia Vermelha, na qual obtém em dezembro de 1860, o grau de engenheiro militar. "O problema que se tinha a resolver na Alfândega era o mais difícil que se podia propor a um engenheiro; que se tinha ali perfurado o solo até 870 pés de profundidade sem encontrar terreno sólido; que não podia portanto assegurar que sairia vitorioso desta prova e tão somente que faria os maiores esforços para isso.” Ele ganhou fama no Rio de Janeiro, então capital do Império, por ter solucionado um problema de abastecimento de água. Contudo, por não conseguir apoio para o seu projeto de construir diques múltiplos no Rio de Janeiro, desiste da ideia e resolve aceitar trabalhar na comissão criada com o intuito de estudar remodelações no Porto do Maranhão. Posteriormente, foi convidado também para servir como engenheiro militar na guerra do Paraguai, onde desenvolveu um artefato, “torpedo”, que foi utilizado com sucesso pela tropa. Em 1863, é designado para inspecionar as fortalezas do sul do Brasil, o que lhe possibilitou permanecer em Santa Catarina ao lado do irmão Antônio, também engenheiro. No ano seguinte, ou seja, em 1864, André volta à Corte sozinho, porque Antônio permaneceu em Santa Catarina. Em 1865, ao retornar ao Rio de Janeiro, apresenta -se como voluntário da pátria, no teatro das operações militares. Nesse mesmo ano, acontecem dois fatos importantes: a morte da mãe dele, Carolina Rebouças e o convite para participar do Cerco de Uruguaiana, onde faz amizade com o Conde D'Eu, que acompanha o imperador em visita ao campo de batalha. Em 1866, ele participa da luta no passo da Pátria e, em maio contrai a pneumonia, em junho é convidado a participar da defesa do Tuiuti, entretanto afasta-se da batalha pois é acometido de varíola. Retorna, novamente ao Rio de Janeiro e desliga-se do Exército. Em outubro, é nomeado inspetor das alfândegas do Rio de Janeiro. Em 1871, ambos André e o irmão Antônio, apresentam ao Imperador D. Pedro II, o projeto da estrada de ferro que iria ligar a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Mas, na execução do projeto, resolveu-se alterar o trajeto para o porto de Paranaguá, obra essa que até hoje, se destaca pela ousadia e magnitude. Contudo, devido a motivos políticos, André é demitido do cargo e volta para a Europa. Em 1872, já na Europa, auxilia Carlos Gomes, autor da ópera O Guarani, que acabara de compor a obra Fosca. Em junho de 1873, resolve ir para Nova Iorque onde enfrenta o peso do preconceito racial. Em julho desse mesmo ano volta ao Brasil. Retorna ao Brasil a fim de continuar a luta pela abolição da Escravatura. Em 1880 o pai dele, Antônio Pereira Rebouças, morre. André engaja-se definitivamente na campanha abolicionista e trabalha como professor da Escola Politécnica. Em 1883, eleito tesoureiro da Confederação Abolicionista, torna-se o grande financiador e um dos que orientam a campanha no Rio de Janeiro, a favor da abolição dos escravos. A abolição da escravatura, ocorrida em 1888, trouxe, consequentemente a queda do Império, tornando insustentável a permanência dele e da realeza no país. Por isso, em 1889, ele e a família imperial voltam à Europa, André exila-se em Lisboa-Portugal, e trabalha como corresponde do Jornal The Times de Londres. Posteriormente, transfere-se para Cannes, permanecendo lá até a morte de D. Pedro II, em 1891. “A escravidão não está no nome, e sim no fato de usufruir do trabalho de miseráveis sem pagar salário ou pagando apenas o estrito necessário para não morrer de fome”. Em 1892, Rebouças aceita um emprego em Luanda, por 15 meses. Em 1893, resolve morar em Funchal, na Ilha da Madeira e lá permanece até a sua morte no dia 9 de maio de 1898, ele foi encontrado morto no mar, ao pé de uma rocha, bem em frente ao lugar em que morava. Tinha 60 anos. André Rebouças, foi também ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza e José do Patrocínio, um dos representantes da pequena classe média negra em ascensão no Segundo Reinado e um dos ícones mais importantes em prol da abolição da escravatura. Ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay. André Rebouças dedicou-se a compreender os entraves ao desenvolvimento do país sob um olhar progressista e liberal. Lutou pela criação de parques nacionais, sugerindo-os para a Ilha do Bananal, no rio Araguaia, e para Sete Quedas, no Paraná. Devido à importância e à relevância de sua obra, alguns monumentos levam o nome dele e também do irmão, tais como: Avenida Rebouças, na cidade de São Paulo (originalmente chamada rua Doutor Rebouças) homenageia André Rebouças, um dos irmãos de André, também engenheiro. O túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, é uma homenagem à memória dos irmãos Rebouças, os quais também recebem homenagens em várias cidades do Brasil, tais como: Porto Alegre (rua Engenheiro Antônio Rebouças) e Curitiba (bairro Rebouças e Rua Engenheiros Rebouças). A cidade de Rebouças no Paraná, é uma homenagem a Antônio Rebouças (irmão de André) — também engenheiro e parceiro em muitas obras — foi responsável pelo projeto da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, uma das mais ousadas e desafiadoras obras de engenharia do século XIX. O navio-tanque André Rebouças, classe Suezmax, da Transpetro, foi batizado esse nome em dezembro de 2014 e a viagem inaugural foi realizada em maio de 2015. -
Heloísa Alberto Torres
Heloísa Alberto Torres foi uma mulher à frente do seu tempo, dedicou-se à ciência e à cultura dos povos indígenas brasileiros, deixando um legado às ciências sociais. Nasceu em 17 de setembro de 1895, na cidade do Rio de Janeiro. Filha do político e pensador nacionalista fluminense Alberto Torres e Maria José Xavier da Silveira, tinha dois irmãos, Maria e Alberto. Após estudar por vários anos na Inglaterra, Heloísa passou um período em Petrópolis, pois o pai dela era presidente do Estado do Rio de Janeiro. Desse modo, foi aluna interna do Colégio Notre-Dame de Sion, onde adquiriu diversos conhecimentos humanísticos e linguísticos, sendo fluente em inglês e francês. O pai de Heloísa possuía uma das raras bibliotecas que continha obras de antropologia, o que despertou nela o interesse por essa área de conhecimento. Aos 22 anos de idade, e com o falecimento do pai, Heloísa decidiu se dedicar à antropologia, porque ficaria encarregada da parte referente à antropologia, sociologia e ética da biblioteca, tarefa que impulsionaria, na jovem estudante, o apreço pelas ciências do homem. Em 1918, Heloísa inicia a vida acadêmica, ao ingressar no Museu Nacional, como auxiliar de Roquette Pinto. Em 1919, ela e a irmã, Maria Alberto Torres, juntamente com outras três colegas do Colégio Sion, solicitam que Roquette Pinto ministre um curso de ciências Naturais para elas, com isso dar-se-á início às atividades práticas de Heloísa no Museu. Em 1922, Heloísa iniciou o treinamento em técnicas antropométricas tomando parte como auxiliar na pesquisa sobre Tipos Antropológicos do Brasil, aprimorando e ampliando seu conhecimento antropológico na instituição. Prestou concurso, em 1925, para professora substituta da Divisão de Antropologia e Etnografia, cujo chefe era Roquette Pinto, com isso, tornou-se a primeira mulher a ingressar como professora da Divisão de Antropologia e uma das primeiras mulheres funcionárias do conceituado museu, fato este que proporcionou-lhe a estender a formação também arqueologia e etnografia. Durante a década de 1930, houve separação das áreas de antropologia e de etnografia, contudo Heloísa já era considerada pelos seus pares, uma das especialistas brasileiras em etnografia marajoara, assim, foi promovida ao cargo de professora chefe da referida seção. Este fato, deflagra nela, também, o potencial administrativo e devido ao afastamento de Roquette Pinto do museu, assume como vice-diretora no período de 1935 a 1937. No ano seguinte, em 1938, Heloísa Alberto Torres tornou-se a primeira mulher a ser diretora do Museu Nacional, cargo que exerceria até 1955. No período em que esteve à frente do Museu Nacional, implementou uma série de atividades voltadas à institucionalização da antropologia a começar pela criação da carreira de antropólogo, à qual atribuiu um caráter eminente prático, voltado à pesquisa de campo e à coleta de objetos de cultura material, principalmente na área indígena. Durante a sua gestão, Heloísa esforçou-se para manter e renovar os quadros técnicos voltados à pesquisa em antropologia, geologia, paleontologia, botânica e zoologia da instituição. Incentivou o intercâmbio entre pesquisadores estrangeiros e tornou o Museu Nacional um polo de pesquisa para muitos cientistas de renome, tais como: Ralph Linton, Alfred Métraux, Paul Rivet, Claude Lévi-Strauss, Charles Wagley e Ruth Landes. Criou e executou um programa institucional, voltado para o treinamento de jovens pesquisadores em suas respectivas áreas. Durante o período de 1934 a 1939, Heloísa atuou no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil, foi responsável por um incremento significativo das coleções etnográficas do Museu Nacional, permitindo-lhe negociar o envio para a instituição de peças recolhidas durante as expedições. Episódios ligados a estas negociações aparecem na correspondência com diversos pesquisadores, entre os quais Curt Nimuendaju, responsável pela coleta de peças que se tornaram parte central do acervo do Museu Nacional e de importantes museus da Europa e dos Estados Unidos. Heloísa também tornou-se membro da Sociedade de Amigos de Alberto Torres, Sociedade Botânica do Brasil, Sociedade de Amigos de Alexandre Rodrigues Ferreira, e sócia do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Sua participação nestas agências perpassaria o período em que assumiu a direção do Museu Nacional. No que diz respeito à história dos órgãos tutelares no Brasil, Heloísa Alberto Torres teve participação de destaque no Conselho Nacional de Proteção ao Índio - CNPI desde sua fundação, em 1939, tornando-se sua diretora entre 1955 e 1967, em substituição ao Marechal Rondon. Heloisa Alberto Torres, também esteve ligada à história e à concepção da Associação Brasileira de Antropologia - ABA, tendo sido ideia dela , em 1943, a realização do primeiro Congresso Brasileiro de Antropologia, de cuja organização participou ao lado de nomes como: Roquette Pinto, Luiz de Castro Faria, Pedro Estevam de Lima e Tarcísio Torres Messias. Foi neste Congresso, realizado em 1953, que surgiu a proposta de criação da ABA, efetivada em 1955. Em 23 de fevereiro de 1977, aos 81 anos, Heloísa Alberto Torres faleceu, vítima de insuficiência cardíaca. Como legado, Heloisa Alberto Torres extrapolou em muito o âmbito do Museu Nacional, tendo-lhe cabido um papel de relevo na constituição mais ampla do campo cultural e científico brasileiro, fornecendo diversos elementos sobre as ligações entre campo intelectual e campo político no Brasil, e por possibilitar a identificação de boa parte da extensa rede de relações em que esteve inserida ao longo de mais de três décadas de vida pública. Podemos citar como exemplo atitudes que extrapolaram os muros da antropologia e do Museu Nacional, quais sejam: o envolvimento de Heloisa Alberto Torres na criação e gestão do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, bem como as ações voltadas para a criação do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica - IIHA, com o patrocínio da UNESCO. Os registros referentes à trajetória de Heloisa Alberto Torres, bem como a documentação encontram-se na Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, localizada em Itaboraí-, Rio de Janeiro, uma casa típica do século XVIII, propriedade da família, que foi deixada por Heloísa como legado à sua irmã, e com a morte de Maria Alberto, passou para as mãos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). -
Juliano Moreira
Mestiço, filho de uma mulher negra e um homem branco, Juliano Moreira nasceu na cidade de Salvador (BA), em 1872. Sua mãe, Galdina Joaquina do Amaral, era empregada doméstica, e seu pai, o português Manuel do Carmo Moreira Junior, trabalhava como inspetor de iluminação pública. Juliano era, portanto, de origem humilde e só foi oficialmente reconhecido por seu pai depois que este tornou-se viúvo. Foi batizado por Luís Adriano Alves de Lima Gordilho, médico e patrão da mãe de Juliano. Gordilho era mais conhecido como Barão de Itapoã e foi Lente Catedrático de Anatomia Descritiva e da Cadeira de Partos da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB). O Barão financiou os estudos de seu afilhado, que, depois de cursar a escola preparatória, foi aprovado nos exames de admissão para o ensino superior. Em 1886, com 14 anos de idade, Juliano Moreira ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1891, formou-se defendendo a tese de doutoramento intitulada “Etiologia da sífilis maligna precoce”. Nela, Moreira dizia que o clima quente e úmido em nada contribuía para que a doença assumisse formas mais severas nas regiões tropicais do planeta, como defendiam certos médicos, especialmente os europeus. Depois de formado, Juliano Moreira atuou como Médico Sanitarista Comissionado, trabalhando nas cidades de Bonfim, Jacobina e cercanias. Em 1893, assumiu o cargo não remunerado de Assistente da Cadeira de Clínica Psiquiátrica da faculdade onde se formou, passando a trabalhar no asilo de alienados da Santa Casa de Misericórdia de Salvador. No ano seguinte, assumiu o cargo remunerado de Preparador de Anatomia Cirúrgica, o qual lhe possibilitou continuar os estudos sobre sífilis e iniciar investigações sobre a anatomia e patologia de outras doenças. Em 1896, Juliano foi aprovado no concurso para Lente Substituto da Cadeira de Psiquiatria e Neurologia da FMB. A partir do final do século XIX, o médico baiano fez diversas viagens à Europa, onde teve contato com cientistas de renome, como o dermatologista Paul Unna. No laboratório chefiado por Unna (Hamburgo, Alemanha), Moreira desenvolveu estudos sobre uma doença chamada Ainhum (que acometia, sobretudo, pessoas negras), e que foram publicados na revista alemã Monatsheft für Dermatologie (1900). Ainda em terras germânicas, o cientista brasileiro visitou a Clínica Psiquiátrica da Universidade de Leipzig, dirigida por Paul Emil Flechsig. Lá teve a oportunidade de discutir teorias sobre as doenças mentais com o renomado professor Johann Christian Heinroth. Na mesma ocasião, visitou a Clínica Psiquiátrica da Universidade de Halle, sob direção de Julius Edward Hitzig. Nos anos que se seguiram, Moreira fez outras viagens à Europa, visitando instituições de cuidados com alienados em países como: Itália, Inglaterra, Escócia e Bélgica. Participou de inúmeros congressos internacionais, nos quais apresentou suas ideias sobre as enfermidades psíquicas e divulgou a ciência brasileira. Publicou seus estudos em periódicos médicos franceses, alemães e britânicos. Esteve na Clínica Psiquiátrica da Universidade de Munique, dirigida pelo psiquiatra Emil Kraepelin, considerado hoje “pai” da psiquiatria moderna. Em Munique, teve contato com outros importantes cientistas, a exemplo de Alois Alzheimer, que desenvolveu estudos de impacto no campo da anatomopatologia nervosa, e Felix Plaut, um dos precursores dos estudos sorológicos da sífilis nervosa. As experiências de Juliano Moreira na Europa, de um modo geral, e especificamente na Alemanha, trouxeram contribuições importantes para as reformas que viria a empreender mais tarde, enquanto diretor da maior instituição de cuidados para alienados do Brasil, o Hospital Nacional, e da Assistência Médico-Legal de Alienados. Em 1903, Moreira deixou Salvador rumo ao Rio de Janeiro, então Capital da República, para assumir o cargo de Diretor do Hospital Nacional de Alienados. Junto ao poder público, a intelectuais e outros cientistas que compartilhavam ideias similares às dele, Moreira empreendeu uma série de reformas físicas e burocráticas no hospital e na assistência. Durante sua gestão, foram criados novos pavilhões para que os pacientes fossem realocados em espaços diferentes, e distribuídos de acordo com os critérios de idade, sexo e com a gravidade da doença. Além disso, foram realizadas melhorias no laboratório anatomopatológico e no necrotério - ao longo de sua carreira Juliano Moreira falou bastante sobre a importância dos laboratórios nos hospitais, inclusive nos psiquiátricos. Moreira esteve envolvido na criação do primeiro periódico nacional dedicado ao estudo das enfermidades psíquicas, denominado Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins (1905) e na fundação da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal (1907). Fez parte da comissão de médicos que desenvolveu a primeira Classificação Brasileira de Doenças Mentais, publicada em 1910. Foi membro de inúmeras sociedades, ligas e associações nacionais e estrangeiras, e construiu redes de sociabilidade internacionais nas quais adquiriu muito prestígio. Em 1925, na ocasião da visita do físico alemão Albert Einstein ao Brasil, Moreira discursou sobre a influência da Teoria da Relatividade em outras áreas do conhecimento, na Academia Brasileira de Ciências, da qual foi um dos fundadores e onde exerceu os cargos de Presidente, Vice-Presidente e Membro Titular. Einstein foi convidado por Moreira e pela esposa alemã, Augusta Emma Moreira, para um “almoço brasileiro com muita pimenta”, nas palavras do próprio físico, que ficou admirado com a “pessoa especialmente virtuosa” de Juliano. Moreira foi um grande intérprete do Brasil, colocando-se contra certas teorias raciais deterministas, defendidas por muitos médicos da época, e buscando refletir sobre a relação entre loucura e educação. Para ele, a cor da pele de um indivíduo não influenciava o adoecimento pela loucura, mas sim a capacidade de manter-se longe de elementos considerados nocivos à época, tais como: o abuso do álcool, os excessos de trabalho físico e intelectual e a sífilis. No discurso de posse como Lente Substituto da Cadeira de Psiquiatria da FMB, o médico e negro de fala rebuscada comparou a diversidade racial do Brasil a pedras preciosas de diferentes cores e, com essa metáfora, pretendeu dar uma resposta à altura dos episódios de racismos que softeu naquela instituição. -
José Antônio Lutzenberger
Gaúcho porto-alegrense, primogênito, teve duas irmãs: Maria Magdalena e Rose Maria, filhos de Emma Kroeff - descendente de alemães - e José Joseph Franz Seraph - imigrante alemão. Lutzenberger ou Jolch, como era conhecido no âmbito familiar, foi educado em alemão e português, estudou também inglês, francês e espanhol. Passou a infância em contato com a natureza, fato este devidamente documentado em desenhos e crônicas pelo próprio pai de Lutzemberg, que escreveu em seus registros” ... passava horas caminhando... gostava do Parque da Redenção, que seria.... a própria encarnação da maravilha". Aluno das melhores escolas em Porto Alegre, cursou o 1º grau na Escola São José (Skt. Josefschule), no local há uma igreja projetada e ilustrada pelo pai de Lutzemberg. Estudou no Colégio Farroupilha (Hilfsvereinschule até a 2ª Guerra Mundial). Cursou o ginasial no Colégio Rosário, dos Irmãos Maristas. Prestou serviço militar em 1945, derradeiro ano da 2ª Guerra e estudou entre 1947/1950 na Faculdade de Agronomia (UFRS). No ano de 1951/1952, concluiu a pós-graduação em Ciências do Solo, na Louisiana State University. Retornou a Porto Alegre, onde trabalhou por quatro quatro anos na Companhia Riograndense de Adubos, após esse período foi contratado pela Sulpampa/BASF, na qual exerceu o cargo de intérprete do diretor da BASF. Neste mesmo ano, casou-se contra a vontade da mãe, com Annimarie Wilms. Entre 1957/1959, transferiu-se para Ciba-Geigy (Alemanha), para atuar com adubos químicos, na sequência recebeu o convite para trabalhar como técnico e executivo da BASF na Venezuela, onde nasceu a primeira filha dele, Lilly Charlotte. Em 1996, mudou-se para o Marrocos, onde nasceu Lara Josette Wilm (2ª filha do casal). Exerceu também o cargo de executivo e assessor técnico no Norte da América do Sul e Caraíbas, na África do Norte, Espanha e Canárias. Em dezembro de 1970, pediu demissão, por não coadunar sua percepção ecológica com o foco agro-químico da BASF, com isso retornou a Porto Alegre e, residiu na casa do pai. Nesse período, atuou como consultor e empresário, ministrou palestras e participou de movimentos ambientalistas na Europa, Américas (Norte; Sul), Ásia e África. Em abril de 1971, juntamente com Augusto Carneiro, Antônio Tavares Quintas, Hilda Zimmermann, Mário Fonseca, Nicolau Campos e Renato Petry, fundou a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), Organização Não Governamental precursora brasileira da ecologia e de questões ambientais, atuando desde a poda adequada de árvores de Porto Alegre; como em ações antipoluição contra a empresa norueguesa Borregaard, fábrica de celulose; intervindo na reciclagem de resíduos industriais na empresa Riocell. Além disso, participou do levantamento ambiental nos Parques da Guarita e da Itapeva, ambos localizados em Torres - RS; também ajudando na investigação do acidente ecológico, maré vermelha, que aconteceu em 31/03/1978, na cidade de Hermenegildo - RS. Atuou em 1972, como assessor ecológico (ALRS) da Comissão Parlamentar de Estudos da Poluição e Defesa do Meio Ambiente. Em 1973, além de discordar das ações da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), também questionou a Política Florestal implementada pelo IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal). Publicou em 1976, o “Fim do futuro, um manifesto ecológico brasileiro” - no qual criticava o consumismo predatório da sociedade industrial, com isso, tornou-se figura carimbada para opinar acerca da poluição, da destruição das florestas e também sobre a perda da biodiversidade global. Solicitado pela Empresa Portoalegrense de Turismo S.A. (EPATUR), em 1977, projetou o Parque da Doca Turística de Porto Alegre. No ano seguinte, em 1978, foi contratado pelo Curtume Fasolo em Bento Gonçalves - RS, para eficientizar o processo produtivo e reduzir a emissão de resíduos. Ainda, nesse ano, coordenou os estudos para implantação da Unidade de Conservação do Parque do Delta do Jacuí, com o objetivo de proteger as áreas alagadiças. Devido ao aumento da demanda por produtos biológicos, fundou em 1979, duas empresas: Vida Produtos Biológicos Ltda, para atuar na reciclagem de resíduos sólidos industriais; e a Tecnologia Convivial Ltda, com o foco em projetos de paisagismo, urbanismo, clínica botânica e saneamento natural. Como pacifista incansável e avesso à criação de Usinas Nucleares no Brasil, destacou-se nas críticas contra o programa brasileiro de energia nuclear, ao mesmo tempo lançou o livro intitulado “O Pesadelo Atômico” (1980), com o qual fortaleceu o embate contra o programa do Governo Militar. Em 1981, com a perda da esposa, teve que deixar a filha mais nova aos cuidados de uma tia. Favorável à Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal SEMA nº 6.938 de 1981), em 1982, protestou contra a descaracterização das cataratas de Sete Quedas, em decorrência da criação do lago da Usina de Itaipu. Atuou a favor da promulgação da Lei dos Agrotóxicos - RS (Lei Estadual nº 7747, de 22/12/1982), a qual reverberou noutros estados, até a criação da Lei Federal nº 7802, de 11/07/1989. Em 1984, com a aprovação do Regimento Interno do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), manteve-se como membro ativo nas reuniões deste Conselho. Em 1985, projetou e coordenou a implantação do Parque Ecológico na sede da Riocell, fábrica de papel e celulose. Com a criação, em 1986, do Partido Verde (PV), deixou a AGAPAN, explicando que "Eu não saí da Agapan. Aconteceu que surgiu um grupo de guris (jovens) que não sabia nada de nada e que transformou a Agapan em política partidária. E aí eles perderam, inclusive, a inserção nos meios de comunicação. Eles não tinham nada a dizer". Criou em 1987, a Fundação Gaia - centro de estudos humanistas focado na promoção de agricultura ecológica, regenerativa, e na educação ambiental para crianças e voltado à conscientização ecológica para a comunidade em geral, com sede numa área de 30ha, que fora uma antiga pedreira de basalto, e que se tornou exemplo de recuperação de áreas degradadas. Preocupava-se com energias limpas, renováveis e tecnologias ecologicamente sustentáveis e socialmente desejáveis. Buscava a conscientização para uma visão naturalista com ética holística, não antropocêntrica, também chamada “ecologia profunda” (deep ecology). Participou da luta contra o Banco Mundial em Rondônia onde o Projeto Polonoroeste causou tremenda devastação e desestruturação social. Foi Secretário Especial do Meio Ambiente, com status de Ministro, entre 1990 e 1992 no governo do Presidente Collor, referindo-se a este período Lutz comentou "...O Collor me ofereceu um espaço que eu, em sã consciência, não poderia recusar.... Eu nunca quis ser governo. Eu sabia que ia ser uma coisa horrível para mim, e foi. Como é que eu podia dizer não? Ele me deu um espaço, eu o aproveitei por dois anos. Durante este tempo, inclusive, aconteceu que grande parte do movimento ambiental se virou contra mim - queriam que eu interagisse mais com eles, que eu relatasse todo dia o que eu estava fazendo; ao contrário, trabalhei principalmente nos bastidores, falando o mínimo possível...". No ano anterior ao seu falecimento, reportou numa entrevista: "Eu acho que hoje há uma mudança fundamental na filosofia. Enquanto que uns 30 anos atrás, quem levantava esta questão da maneira como eu levantava, era considerado meio louco, hoje, o esquema oficial, pelo menos para o Rio Grande do Sul, está querendo levar a agricultura para o caminho ecológico sustentável e a gente vê, a cada dia, notícias nos meios de comunicação de agricultores, que por iniciativa própria estão procurando caminhos de produção sem veneno. Por isso, já não estou nem brigando contra os agrotóxicos. A luta intelectual já está ganha. O que nós temos que fazer agora é promover uma agricultura sadia”. Faleceu em Porto Alegre em 14/05/2002, aos 75 anos. Numa cerimônia simples, apenas envolto num lençol branco de linho, descalço, sendo sepultado sob uma árvore frondosa, na sede da Fundação Gaia. -
Bertha Becker
Bertha Koifmann Becker nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 07 de novembro de 1930. Filha caçula da ucraniana Adélia e do romeno Isac Koiffmann, inspirou-se em sua irmã mais velha quando decidiu cursar a universidade. Bacharela e Licenciada em Geografia e História pela Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), Bertha graduou-se em 1952 e dedicou sua vida acadêmica aos estudos sobre a Amazônia. Na mesma instituição, tornou-se professora em 1958, doutorando-se no Instituto de Geociências, em 1970. Dezesseis anos depois (1986), ingressou em um pós-doutorado no Massachussetts Institute of Technology (MIT), no Departamento de Estudos e Planejamento Urbano. No ano de 1994, tornou-se Professora Titular do Instituto de Geociências da UFRJ, onde atuou até 2000, aposentando-se. Bertha foi uma professora que induzia os alunos ao questionamento, organizando as aulas em forma de debates. Dona de uma persona colorida, cheia de vida, que falava também através de gestos, a cientista tinha o hábito de tirar seus estudantes das linhas de pensamento confortáveis para inserir e debater novas ideias. Bertha chamava a Amazônia de “floresta urbanizada” e, como ressaltou, esse processo de urbanização intensificou-se muito no final do século XX, quando a região recebia um número enorme de pessoas de diferentes estados do Brasil. Tal movimento se deu, em muito, ao incentivo e às políticas públicas colocadas em prática pelo Governo Federal, à época. Em um local onde ainda há amplos conflitos relacionados à demarcação de terras, muitos desses migrantes não conseguiram acesso às mesmas, passando a formar, ampliar e habitar os centros urbanos amazônicos. Ainda, destacou que o nível de urbanização de um local não é medido apenas pelo crescimento das cidades em si, mas pela difusão de valores urbanos, ampliação das redes de telecomunicações e pela existência de uma mobilidade de trabalho – ou seja, de pessoas que se deslocam diariamente de seus locais de residência para seus postos de trabalho. Essa mobilidade representa um leva e traz de valores, os quais, para a cientista, iam das cidades para as zonas rurais e vice-versa. Bertha Becker apontou em suas pesquisas que esses centros urbanos amazônicos consistem em um dos maiores problemas socioambientais da região. Além da destruição da própria floresta em si, tais regiões abrigam um número expressivo de pessoas e possuem uma infraestrutura extremamente precária. Desse modo, seus habitantes não têm acesso a serviços básicos como saúde e saneamento, o que propicia a disseminação de diversas doenças que seriam evitáveis, se houvesse investimento e criação de políticas públicas, no sentido de melhorar e ampliar tais serviços. A referida pesquisadora era adepta de uma exploração não destrutiva dos recursos naturais, que incluísse as populações locais, as médias e grandes empresas, respeitando-se a diversidade social. Para ela, a tecnologia seria o dispositivo capaz de gerar riqueza e inclusão social sem comprometer o meio ambiente. Reiterou que a floresta amazônica possui grandes e exclusivas riquezas, tais como: a extração de óleos e outras obras primas para a fabricação de cosméticos e fármacos. A exploração desses recursos é muito rentável, e se for consciente e não destrutiva pode impedir que outras atividades, como a produção de soja e a pecuária, invadam os limites da floresta. Em outras palavras, a pesquisadora defendia que a exploração de recursos nobres da floresta amazônica seria uma boa forma de legitimar e demonstrar seu valor e sua exclusividade. Assim, a criação de gado e o plantio da soja, atividades que podem ser desenvolvidas em localidades já degradadas, teriam menos chances de adentrar a floresta, causando desmatamento e destruição. Afinal, a floresta é fonte de produtos exclusivos, que não podem ser extraídos de outras fontes. A aposentadoria não representou o fim da carreira intelectual de Bertha Becker, que continuou desenvolvendo suas investigações, atuando como Professora Emérita, coordenando o Laboratório de Gestão do Território (LAGET/UFRJ) até o final de sua vida. Através de pesquisas teóricas e empíricas, buscou evidenciar os impactos causados pelas interferências humanas no território estudado e como esses impactos mudaram as dinâmicas de funcionamento da região amazônica. Becker foi Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências (2006) e participou do corpo editorial de renomados periódicos em sua área e de editoras acadêmicas. A cientista tem mais de 140 produções acadêmicas, entre livros, capítulos de livros e artigos. Seu legado para a ciência brasileira nas áreas de geografia política, manejo de biodiversidade e planejamento urbano é imensurável. -
Augusto Ruschi
Biólogo, topógrafo, advogado, pesquisador e professor, Augusto Ruschi nasceu na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo. Instigado e deslumbrado pela natureza desde muito criança, Ruschi viveu sua vida cercado pela exuberância da fauna e da flora brasileiras. Graduou-se em Agronomia, mas sua paixão era a Biologia, sobretudo, os beija-flores e as orquídeas, os quais estudava em um pequeno laboratório doméstico, montado por ele mesmo, durante sua juventude. As coleções que montou durante muitos anos receberam ilustres visitantes - do entomólogo italiano Filippo Silvestri e do zoólogo brasileiro Cândido Firmino de Mello Leitão. Ruschi formalizou sua carreira científica quando contratado como pesquisador pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), em 1939. Heloísa Alberto Torres, sua antiga professora e então diretora da instituição, foi uma das responsáveis pela entrada de Ruschi no MNRJ, onde posteriormente, também atuou como professor. Lá, o cientista especializou-se em Botânica e elaborou um grande projeto de estudos de orquídeas no Espírito Santo. Tal projeto criou a Estação Biológica do MNRJ, permitindo que Ruschi, seu então diretor, voltasse ao campo, a andar pelas matas de sua cidade natal, a estudar e desenhar diversas espécies dessas flores. Depois da morte de seu pai, José Ruschi, em 1943, Augusto herdou o sítio onde passou boa parte da vida e também os espaços de investigação científica que sua família construiu no terreno da residência - quais sejam: orquidários, viveiros e laboratórios. A Chácara Anitta, como era chamado o espaço, foi transformada por Augusto Ruschi no Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML), em homenagem ao pesquisador que havia manifestado forte interesse nas coleções zoológicas e botânicas mantidas pelos Ruschi. Desde sua criação, o MBML passou a editar um periódico chamado Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, o qual veiculava publicações tanto da área da Biologia, como da Botânica e da Zoologia, como dos campos da Antropologia e da Geologia. Além disso, o Boletim era composto pelas sessões de “Atos Administrativos”, “Divulgação” e “Proteção à Natureza”. Ruschi publicava muitos de seus estudos nessa revista, cujo repertório de trabalhos restringia-se quase exclusivamente aos textos do pesquisador. O cientista brasileiro também engajou-se em processos de demarcação de áreas de proteção ambiental. Durante a década de 1950, quando a industrialização passou a ganhar nova força em diferentes lugares do mundo e no Brasil, a intensidade do desmatamento nas florestas brasileiras era vertiginosa, o que indignava Ruschi profundamente. O pesquisador passou, assim, a defender como nunca a preservação desses biomas, envolvendo-se em manifestações de repúdio que se referiam, especificamente, à Mata Atlântica capixaba. Envolveu-se na promoção de campanhas educativas e sugeriu a criação de uma entidade público-privada chamada Sociedade Brasileira de Proteção à Natureza (SBPN). Baseada na União Internacional para Conservação da Natureza (do inglês, International Union for Conservation of Nature, IUPN), a SBPN zelaria pela preservação de ecossistemas brasileiros em prol do coletivo e das gerações futuras, através de parcerias entre o Estado e a sociedade civil, consideradas fundamentais pelo cientista para tornar possível a conservação dessas áreas naturais. Além disso, a SBPN, estudaria espécies da fauna e flora brasileiras ameaçadas de extinção, elaborando listas indicando riscos. A sociedade foi fundada na década de 1950, mas alguns anos depois substituída pela Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN). Considerado “Patrono da Ecologia do Brasil”, Ruschi aposentou-se no final de 1983, e, ao longo de sua carreira, envolveu-se em algumas polêmicas. Também durante a década de 1950, Ruschi promoveu o que chamava de “repovoamento de beija-flores” em algumas localidades brasileiras e de países vizinhos. O repovoamento caracterizava-se pela introdução de certo número de beija-flores de diferentes espécies nas áreas escolhidas. As aves poderiam ser, segundo o cientista, rastreadas, pois receberam anilhas numeradas. A partir da análise das rotas migratórias desses pássaros, eles poderiam ser classificados a partir de critérios de deslocamento. Ruschi esperava poder desenvolver, assim, modelos de dispersão geográficas de diversas espécies de beija-flores. Contudo, o pesquisador foi inquirido por alguns de seus companheiros de profissão, pois, em primeiro lugar, não possuía autorização para capturar ou manejar os animais. Além disso, os “repovoamentos” que Ruschi admitiu ter realizado poderiam ter trazido problemas, segundo certos ornitólogos, como a proliferação de espécies exóticas, a exportação ilegal de aves e o sofrimento infligido aos animais pelo deslocamento. Alguns pesquisadores ainda afirmavam que Ruschi utilizava os “repovoamentos de beija-flores” e suas investigações com orquídeas como moeda de troca para obtenção de favores políticos. Ruschi foi acusado de escolher determinadas áreas para o “repovoamento” a pedido de autoridades e de ter “batizado” novas espécies em homenagens a políticos, empresários, apoiadores e financiadores de seus projetos. A trajetória científica de Ruschi, bem como sua contribuição para a ciência brasileira, não devem ser invalidadas em vista dessas críticas. Como qualquer cientista, Augusto Ruschi desenvolveu seus trabalhos científicos sob a influência de convicções pessoais filosóficas, políticas, sociais e culturais. -
Marcos Luiz dos Mares Guia
Marcos Luiz dos Mares Guia nasceu em Santa Bárbara, Minas Gerais, em 3 de junho de 1935. Era o filho mais velho de José Maria dos Mares Guia, médico, e de Judith dos Mares Guia. Em 1953 ingressou na Escola de Medicina de Minas Gerais, hoje parte da Universidade Federal de Minas Gerais, por influência do pai médico e pelo avô farmacêutico. Logo após a formatura, em 1958, casou-se com Henriqueta Martins, com quem viria a ter filhos. Em 1960, Mares Guia partiu para o Estados Unidos onde faria doutorado em bioquímica na Universidade Tulane, em Nova Orleans, na área de enzimologia com bolsa da Fundação Rockefeller. Em 1964 doutorou-se com uma tese sobre cinética de enzimas. De volta ao Brasil, Mares Guia integrou-se à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde passou pela Faculdade de Medicina e pelo Instituto de Ciências Biológicas em que foi professor assistente, titular e depois emérito. Em 1965, foi condecorado com o Prêmio Henrique Merenholz, pela Associação Brasileira de Química. Posteriormente, com o apoio do professor Carlos Ribeiro Diniz, na época já um renomado bioquímico, organizou o curso de pós-graduação em Bioquímica, aprovado em 1967. Juntos, montaram na UFMG um laboratório com a mais avançada tecnologia da época. Com os alunos da Escola de Engenharia, a unidade serviu de base para a criação da primeira empresa capaz de fabricar enzimas no Brasil – a Biobrás. No ano seguinte, com a colaboração de seu irmão, Walfrido Mares Guia, e outros sócios foi iniciado a implantação da empresa de biotecnologia Biobrás, em que foi estimado de grande relevância pela Sudene, que custeou grande parte da sua implantação. Considerado de grande importância para o país, a empresa piloto foi montada em Montes Claros e a partir de 1976 começou a produção. Com a criação, Marcos foi agraciado com a Medalha do Jubileu de Prata, em 1973 pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. E nos anos de 1976 com o Prêmio Marques Lisboa pela Associação Médica de Minas Gerais. Marcos era o coordenador do projeto em parceria com os bioquímicos da UFMG e pesquisadores da Biobrás e da Universidade de Brasília. Em 1979, iniciou-se a operação pioneira de insulina no Brasil a partir de pâncreas animal, até o momento, a insulina comercializada e utilizada por diabéticos era extraída do pâncreas de bois e porcos, o que podia levar a problemas como reações alérgicas bem como não apresentar eficácia para alguns pacientes. Em 1983, a Biobrás iniciou o desenvolvimento de insulinas altamente purificadas, inclusive a formulação da insulina injetável, um medicamento pronto para uso, tornando-se a quarta maior produtora mundial integrada de insulina e a maior produtora de insulina sintética da América Latina. Em 1986, Mares Guia foi um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Ele defendia que o Estado de Minas Gerais deveria programar com urgência investimentos capazes de incorporar tecnologia aos setores industriais. No final da década de 1990, a Biobrás concluiu o desenvolvimento da tecnologia de produção de insulina humana recombinante. Adquirida através da técnica desenvolvida por Mares Guia em que consistia em introduzir, na bactéria Escherichia coli, comum na flora intestinal humana, o gene da pró-insulina humana, para que ela passasse a produzir o hormônio. Esse processo possibilitou fabricar insulina humana in vitro em um terço do tempo necessário para obtê-la pelo método tradicional, que era de 30 dias. Nesse ano, Mares Guia foi condecorado com o Prêmio IBM ao Desenvolvimento Tecnológico, pela Academia Brasileira de Ciências/IBM. Pelo período de 1991 a 1993, Marcos Mares Guia ocupou cargo de presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No ano de 1992, recebeu a Grande Medalha da Inconfidência, pelo Governo do Estado de Minas Gerais. E no mesmo ano foi homenageado com o título de Comendador da Ordem de Rio Branco, pelo Ministério das Relações Exteriores. Em 1995, foi homenageado com o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, pela Presidência da República do Brasil. Em 2000, a Biobrás obteve patente internacional da insulina sintética. Nesse mesmo ano, Mares Guia foi condecorado pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico e foi condecorado como Professor Emérito, pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2002, a empresa Biobrás foi vendida para a dinamarquesa Novo Nordisk. Nesse mesmo ano, no dia 25 de agosto, Marcos Luiz dos Mares Guia faleceu aos 67 anos, em Belo Horizonte, devido a complicações causadas por um câncer no pâncreas. Marcos Luiz dos Mares Guia foi um cientista que contribuiu para a evolução da ciência brasileira, ocupou cargos importantes, dentre os quais a presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), chefiou o Laboratório de Enzimologia e Físico-Química da UFMG (até 2002), foi presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia, presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica, entre outros. Recebeu inúmeras homenagens ainda em vida. E como legado, o Governo do Estado e concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) criou o Prêmio de Pesquisa Básica “Marcos Luiz dos Mares Guia”, este é entregue, em anos pares, a pesquisadores mineiros e, em anos ímpares, a unidades de instituição ou empresa. -
Alberto Luiz Galvão Coimbra
Alberto Luiz Galvão Coimbra nasceu em 30 de agosto de 1923, no Rio de Janeiro. filho de Deodato Galvão Coimbra, um comerciante e Zahra Braga, dona de casa. Aos 17 anos, passou um ano nos Estados Unidos, junto com a família. Em 1947, então com 23 anos, retorna para lá a fim de cursar o mestrado na Universidade Vanderbilt. Depois voltou ao Brasil e se graduou novamente em engenharia química pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). Em 1961, o engenheiro Alberto Coimbra volta aos Estados Unidos novamente, para conhecer melhor a estrutura acadêmica americana e depois implantar, no Brasil, o modelo de pós-graduação baseado em aulas e pesquisas. Ainda na década de 60, criou o primeiro curso de pós-graduação em engenharia química do país e a Coordenação de programas de pós-graduação em Engenharia (Coppe), entidade que reunia cursos de mestrado e doutorado das diversas vertentes da área. Na área acadêmica sempre se preocupou em aliar as áreas de graduação e pós-graduação e adaptá-las à realidade do mercado de trabalho. Outra bandeira defendida por ele foi a criação de condições para que o Brasil produza um saber-fazer próprio. Faleceu em 16 de maio de 2018, no Rio de Janeiro, aos 94 anos. foi condecorado com o Prêmio Anísio Teixeira (1981) e com a Grã-cruz do Mérito científico (1994). -
Aurélio Buarque de Holanda
O Crítico, ensaísta, tradutor, filólogo e lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda é mais conhecido pelo grande público pelo popular dicionário que leva o nome dele. A primeira edição de seu famoso dicionário foi publicada em 1975. Escreveu contos, colaborou em periódicos e fez traduções, supervisões e prefácios para trabalhos sobre a língua portuguesa. Era membro da Academia Brasileira de Filologia, do Pen Clube do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, da Academia Alagoana de Letras, da Hispanic Society of America e da Academia Brasileira de Letras. Nasceu em Passo de Camaragibe, Alagoas, em 2 de maio de 1910, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de fevereiro de 1989. -
Alcides Carvalho
Alcides Carvalho nasceu em 20 de setembro de 1913, na cidade de Piracicaba - SP. A vida acadêmica dele foi inteiramente dedicada ao estudo do café. De 1948 a 1981, tornou-se pesquisador chefe da seção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que deu origem a praticamente todos os tipos de café cultivados atualmente no Brasil e a um dos bancos de variedades e espécies de café mais completos do mundo. Quando Alcides se integrou ao IAC, em 1935, a seção de Genética estava sendo organizada e começava-se a estudar métodos de melhoramento que pudessem ser utilizados no cafeeiro. A base do trabalho era pesquisar a citologia, a genética, a reprodução e a evolução das variedades para possibilitar que o Brasil produzisse linhagens mais competitivas no mercado internacional. Dos 80 anos de sua vida (1913-1993), Alcides dedicou mais de 50 ao trabalho no IAC, uma atividade que ele considerava, acima de tudo, empolgante. O reconhecimento veio em forma de prêmios. Doutor honoris causa pela Esalq- escola superior de agricultura Luís de Queiroz, Alcides também recebeu o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia em 1982 e foi considerado "servidor emérito" pelo governo de São Paulo. Graças à dedicação e competente contribuição científica, os resultados de suas pesquisas foram altamente positivos, constituindo-se fato da maior importância para a economia nacional. Faleceu em 18 de abril de 1993. -
Antônio Houaiss
O filólogo Antônio Houaiss teve no estudo da língua portuguesa e na luta pela unificação ortográfica suas grandes marcas e contribuições. Foi delegado do governo brasileiro no Encontro para a unificação ortográfica da língua portuguesa, em 1986, no Rio de Janeiro. Além disso, também foi diplomata, tradutor, ensaísta e enciclopedista. Em 1985, começou a elaborar o que considerava a obra de sua vida: um dicionário com mais de 228 mil palavras e locuções. Nasceu em 15 de outubro de 1915, no Rio de Janeiro. Morreu em 7 de março de 1999, aos 84 anos, deixando seu trabalho inacabado. A obra foi finalizada por uma equipe de pesquisadores e lançada em 2001. Do currículo do filólogo, também constam a tradução de Ulisses, de James Joyce e a edição de livros e enciclopédias como a Delta e a Mirador. O interesse pela língua portuguesa fez parte de sua vida, desde os tempos de estudante. Aos 21 anos, ele fez concurso para o magistério e passou a dar aulas de português, latim e literatura. Por essa vocação para o ensino, sempre defendeu a educação básica como primordial. Os serviços prestados à língua portuguesa também lhe reservaram a cadeira de n° 17 da Academia Brasileira de Letras, que ele ocupou a partir de 1971. Recebeu o prêmio Ordem do Mérito Cultural, pela relevância de sua obra. -
Celso Monteiro Furtado
Celso Monteiro Furtado, nasceu aos 26 de julho de 1920, em Pombal (Paraíba), filho de Maurício Medeiros Furtado e Maria Alice Monteiro Furtado. Em 1944, formou-se em Direito. Aos sete anos, mudou-se com a família para João Pessoa, onde estudou no Liceu Paraibano. Completou os estudos no Ginásio Pernambucano, em Recife. Cursou Direito (1939-1944) na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Logo após a formatura, foi convocado para integrar a FEB (Força Expedicionária Brasileira), quando em janeiro de 1945, embarcou para a Itália como aspirante a oficial da Força Expedicionária Brasileira (FEB), para lutar na II Guerra Mundial, finda a guerra retornou ao Brasil em agosto do mesmo ano, onde permaneceu até 1946. Em 1947, viajou para a Inglaterra para realizar um período de estudos na London School of Economics. Neste ínterim, iniciou o curso de doutorado em Economia, na Universidade de Sorbonne, em Paris (França), onde defendeu em 1948 a tese "A Economia Brasileira no Período Colonial" e escreveu o primeiro ensaio sobre a economia brasileira contemporânea (1949), os quais foram precursores do livro escrito na Inglaterra, que se tornou mais conhecido, sendo publicado em 1959 com o título “Formação econômica do Brasil”, imaginando explicar o Brasil para os estrangeiros, servindo mais para os brasileiros. “É velho lugar-comum, muitas vezes esquecido, afirmar que a economia existe para o homem, não o homem para a economia”.Sempre pensei como cidadão de meu país e membro da humanidade, logo, como político. Se procurei estudar economia foi na busca de instrumentos que pudessem ajudar a organizar o mundo, e organizar o mundo é construir a justiça.” Nesta estada em Paris, conheceu sua primeira esposa, a química argentina Lúcia Piave Tosi, com quem teve dois filhos, Mario Tosi Furtado (1949) e André Tosi Furtado (1954). Por contingências na política brasileira, como passagem interessante, moraram em Paris, onde ela permaneceu até 1983, atuando como pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) na Universidade Pierre e Marie Curie. Aposentada em 1983, enquanto estava na França, presenciou a explosão do movimento feminista após maio de 1968, juunto com outras mulheres latino-americanas exiladas das ditaduras, criou o Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris, onde abraçou com fervor a luta das mulheres pela construção da igualdade. 0 livro, “Formação econômica do Brasil”, enfoca como novidade a combinação do método histórico com a análise econômica, primeira ocorrência no Brasil. O texto principia com uma análise da ocupação do território brasileiro, equiparando-se às colônias do hemisfério Norte e Antilhas, perpassando pelos ciclos do açúcar, pecuária, ouro, ascensão da economia cafeeira, e, no século XX, a crise da cafeicultura e a industrialização, cuja especificidade Furtado tratou com excepcional clareza. Ele tornou-se um marco na historiografia econômica brasileira, como curiosidade: o manuscrito enviado de Cambridge para a Editora Nacional brasileira extraviou-se. Por sorte, o microfilme feito de última hora num equipamento precário pôde ser projetado, quase trezentas páginas escritas à mão foram datilografadas, dessa vez com cópia. Já casado, retornando ao Brasil, foi trabalhar no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 1949, transferiu-se para Santiago do Chile para trabalhar na recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). Em 1950, foi nomeado diretor da divisão de Desenvolvimento Econômico desta Comissão. Convidado para presidir o Grupo Misto de Estudos [Convênio CEPAL e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)], retornou ao Rio de Janeiro em 1953, voltando à sede da Cepal, em Santiago do Chile, em 1955, para dirigir um estudo sobre a economia mexicana, o que acabou resultando em nova mudança, indo à Cidade do México, em 1956. Foi nomeado em 1958, pelo presidente Juscelino Kubitschek, interventor junto ao Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Em janeiro de 1959, participou no Palácio Rio Negro, em Petrópolis (RJ), numa reunião convocada por Kubitschek para discutir a situação do Nordeste, que atravessava grave crise decorrente da seca. Apresentou ao Presidente os resultados dos estudos que vinha realizando junto ao GTDN, onde recebeu a incumbência de elaborar um plano de política econômica para esta região. "Eu venho de um mundo que me parecia catastrófico. Pombal é das cidades mais ásperas do sertão. Região seca, de homens secos. Muito menino, eu olhava pela fresta da janela a chegada dos cangaceiros.” Em nova reunião ocorrida 30 dias após a primeira no Palácio do Catete (RJ), Furtado propôs a transformação do Conselho de Desenvolvimento do Nordeste (CODENO) numa estrutura mais efetiva, de onde se originou a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), cujo anteprojeto de lei foi enviado ao Congresso Nacional, em fevereiro de 1959, o qual previa a criação da Superintendência, com sede em Recife. Nesta ocasião lançou-se, também, o nome de Celso Furtado para Superintendente do referido órgão. Porém, houve algumas objeções a essa indicação, o que dificultou a tramitação no Congresso. Diante deste fato, Furtado empenhou-se não só pela aprovação do projeto, como também batalhou pela aceitação de sua nomeação por parte da opinião pública. Em 27 de maio de 1959, a Câmara dos Deputados aprovou a criação da Sudene, e em 13 de dezembro seguinte, foi sancionada a Lei nº 3.692 que instituía o novo órgão, vinculado diretamente à presidência da República. Nomeado primeiro superintendente da Sudene, Celso Furtado foi designado pelo BNDE para coordenar em Recife, a instalação da Superintendência, a qual passou a operar com planos plurianuais, planos diretores de desenvolvimento econômico e social no âmbito regional. O 1º destes planos, em maio de 1960, foi encaminhado ao Congresso e gerou intenso debate. Ele propunha quatro diretrizes: a) sistematização dos investimentos em matéria de transportes; b) aumento da capacidade de energia elétrica; c) aproveitamento dos recursos humanos; d) reestruturação da economia rural. Trazia em seu cerne, também outros objetivos, tais como: a industrialização, a colonização do Maranhão, a criação de uma reserva alimentar de emergência e o levantamento dos recursos minerais. Com isso caberia à Sudene, a organização ou a incorporação de sociedades de economia mista, a fim de executar obras tidas como prioritárias para o desenvolvimento regional. Contudo, apesar da tentativa de políticos nordestinos de barrar o andamento do projeto, pois receavam perder posições e privilégios, ele foi aprovado em agosto de 1961. “Porque no centro de minhas reflexões estavam problemas reais, a pesquisa econômica foi sempre para mim um meio de preparar a ação, minha ou de outros. Compreender melhor o mundo para agir sobre ele com mais eficácia. Isso significa que os fins últimos devem estar sempre presentes no espírito.” Em 25 de agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República, desencadeou uma grave crise política. Os ministros militares decidiram vetar a posse do vice-presidente João Goulart. Com isso, Celso Furtado continuou na superintendência da Sudene.Em 1962, ao ser nomeado por Goulart para ocupar o ministério do Planejamento, ficou incumbido de elaborar, em dois meses, um plano governamental de política econômica, que foi divulgado em 30 de dezembro, denominado “Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social”, executado por Celso Furtado e Santiago Dantas. Ao ver fracassada a proposta de estabilização e de crescimento econômico, Goulart decidiu promover mudanças em seu ministério e com isso Celso Furtado deixa o ministério, retorna à Recife para dedicar-se integralmente à SUDENE, até 31 de março de 1964, quando da eclosão do movimento político-militar que depôs Goulart e instaurou novo regime, o que forçou a saída de Furtado do referido órgão. Com a edição do Ato Institucional nº 1 (AI-1), Celso Furtado teve seu nome incluído na primeira lista de cassados. Depois da anistia, Celso Furtado voltou várias vezes ao Brasil. Em 1986, foi nomeado Ministro da Cultura no governo Sarney, criando a primeira legislação de incentivo à cultura. Em 1999, seu livro "O Capitalismo Global" ganhou o Prêmio Jabuti, na Categoria Ensaio. Convidado pelo Instituto Latino-Americano para Estudos de Desenvolvimento (ILDES/CEPAL), em abril de 1964 foi para Santiago (Chile), viajou para New Haven (EUA) como pesquisador graduado do Instituto de Estudos do Desenvolvimento (Yale University), atuando na área de ensino e pesquisa em Harvard e Colúmbia (EUA),Cambridge (Inglaterra). Em 1965, foi para Paris, Sorbonne, assumiu a cátedra de professor efetivo na Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (Universidade de Paris), cargo no qual permaneceu por vinte anos. Morando seis meses por ano em Paris, retomou as atividades literárias e acadêmicas, assim integrou como membro permanente, a Comissão de Desenvolvimento e Cultura da Organização das Nações Unidas (ONU). Na década de 1970, dedicou-se intensamente às atividades docentes, tais como: redação e publicação de livros. Em 1978, casou-se com a segunda esposa, a jornalista Rosa Freire d'Aguiar, com quem conviveu até o final da vida.Participou de seminários e integrou o Conselho Acadêmico da Universidade das Nações Unidas, em Tóquio. Em agosto de 1979, recebeu a anistia do governo brasileiro e em agosto de 1981, com a extinção do bipartidarismo, retoma a militância política e filia-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro, (PMDB), criado em novembro de 1979. Concomitantemente a isso, manteve atividades acadêmicas como diretor de pesquisas da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Participou intensamente da campanha de Tancredo Neves às eleições indiretas para a presidência da República, em 1984. Em janeiro de 1985, foi convidado a integrar a comissão destinada a elaborar o Plano de Ação do Governo. Com o falecimento de Tancredo, foi indicado em março pelo presidente José Sarney, para o cargo de embaixador do Brasil junto à Comunidade Económica Europeia, em Bruxelas - Bélgica, contudo só assumiu o posto em outubro. Em fevereiro de 1986, substituiu o ministro da cultura Aluísio Pimenta, lugar que ocupou até agosto de 1988. Em 2000, em comemoração de seus 80 anos, a Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro realizou a exposição "Celso Furtado: Vocação Brasil". Em 2001 a Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do estado do Rio de Janeiro instituiu o “Prêmio Celso Furtado de desenvolvimento”. O economista Celso Furtado não se considerava “homem de letras”, mas homem de pensamento. Como pensador o reconhece também críticos e estudiosos da economia, como o economista Francisco de Oliveira, ao afirmar que a obra de Celso Furtado vai além de outras interpretações da realidade brasileira, “não porque seja teoricamente superior, senão porque foi escrita in actione. Enquanto as obras anteriores explicaram e “construíram” o país do passado, a de Furtado explica e no Correio das Artes n. 400 (de 31 de outubro de 1997), suplemento mensal de A União, de João Pessoa, Evandro Nóbrega, Coordenador Geral e Editor desta edição comemorativa de sua recepção na ABL, registrou esse depoimento de Celso Furtado: “Quando, finalmente, aos 26 anos de idade, comecei a estudar Economia de maneira sistemática, minha visão do mundo já estava definida. Assim, a Economia não chegaria a ser mais que um instrumental, que me permitia com maior eficácia tratar problemas que vinham da observação da História ou da vida dos homens em Sociedade. Pouca influência teve a Economia, portanto, na conformação do meu espírito. Nunca pude compreender a existência de um problema “estritamente econômico”. Por exemplo, a inflação nunca foi, em meu espírito, outra coisa senão a manifestação de conflitos de certo tipo entre grupos sociais. Da mesma forma, uma empresa nunca foi outra coisa senão a materialização do desejo e Poder de um ou vários agentes sociais, em uma de suas múltiplas formas”. Celso Furtado está entre os grandes economistas do mundo que estudaram, no pós-guerra, e de forma pioneira, os problemas do desenvolvimento econômico relacionando-os com problemas históricos, como Gunnar Myrdal, Raúl Prebisch, Ragnar Nurkse, Hans Singer e outros. Criador de uma obra inovadora com uma leitura contemporânea das contradições do capitalismo, o economista foi o único brasileiro indicado ao Prêmio Nobel de Economia, em 2013. [...] é quando a capacidade criativa do homem volta-se para a descoberta dele mesmo, empenha-se em enriquecer o seu universo de valores, que se pode falar de desenvolvimento. Efetiva-se o desenvolvimento quando a acumulação conduz à criação de valores que se difundem em importantes segmentos da coletividade." (Celso Furtado, em "Cultura e Desenvolvimento em época de crise". Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p.107). Seu pensamento econômico é ainda bastante atual, pois muito de seus conceitos podem ser vistos na contemporânea política econômica brasileira, sendo que o mérito deste é o de aliar pensamento econômico e história, não deixando de lado a conotação social e até mesmo a profunda análise humanitária que este consegue conciliar ante uma área do conhecimento notoriamente conhecida pelo seu excesso de pragmatismo. Este diferencial em seu estudo faz com que Celso Furtado figure entre os maiores estudiosos do campo econômico. Celso Furtado faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de novembro de 2004. -
Amilcar Vianna Martins
Amílcar Vianna Martins, nasceu em 09 de agosto de 1907 e é considerado o maior colecionador de flebótomos (mosquitos hospedeiros intermediários) do continente americano. Quando menino, em Belo Horizonte, já colecionava pequenos animais e, devido ao interesse por Zoologia, acabou se formando em Medicina, na época, o curso mais próximo de sua área de interesse. O olhar de pesquisador o levou a identificar, pela primeira vez, a presença de medusas de água doce no Brasil e também a catalogar o primeiro caso de doença de Chagas da cidade de Bambuí (MG). O estudo dessa doença e da esquistossomose fizeram parte de sua trajetória acadêmica que inclui uma passagem pelo Instituto Ezequiel Dias, dedicado ao estudo e manutenção da saúde pública. Foi professor de parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais, mas aposentado compulsoriamente pelo AI-5 em 1969, passou a dedicar-se ao estudo dos flebótomos que o ocupou até o final da vida. O pesquisador também integrou a FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Segunda Guerra Mundial. Morreu em em 13 de abril de 1990. -
Maria Laura Mouzinho Leite Lopes
Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, cujo nome de solteira era Maria Laura Mouzinho, nasceu em Timbaúba, Pernambuco, em 18 de janeiro de 1919, primogênita de sete mulheres e um homem. Sua mãe, Laura Moura Mouzinho, era professora primária e seu pai, Oscar Mouzinho, era um respeitado comerciante local e autodidata de grande cultura. Em 1927, Maria Laura iniciou sua vida escolar, em Recife, tendo concluído em 1931. Em 1932, ingressou na Escola Normal de Pernambuco, tendo ali permanecido até 1934, onde foi aluna do professor Luiz de Barros Freire. Matemática não era o seu forte quando ingressou na Escola Normal de Pernambuco: “Ele [o professor Luiz de Barros Freire] foi responsável pela minha vocação matemática. Era um professor criativo que [...] contava histórias da matemática na biblioteca.” Em 1935, a família Mouzinho mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro. Maria Laura estava com 16 anos e já havia cursado três anos do curso Normal. Seu pai considerou-a capaz de fazer o exame de Madureza, que encaminhava os alunos para cursar as duas últimas séries do curso ginasial, mas era apenas para maiores de 18 anos. Para que Maria Laura conseguisse ser aceita no Instituto Lafayette, o pai 'providenciou' uma nova certidão de nascimento, datada de 1917, para que ela não ficasse para trás nos estudos. No ano de 1936, concluiu seu curso ginasial como aluna do Colégio Sion, em Petrópolis (RJ). Tentou o vestibular de engenharia, mas foi reprovada em desenho. No ano seguinte, buscou a Universidade do Distrito Federal (UDF), voltada à formação de professores, mas o vestibular já havia acontecido. “Quando eu estava saindo, quem vinha chegando? O Luiz Freire [decano da Escola de Ciências da UDF]. Ele fez muita festa e contei a ele minhas misérias. Ele me perguntou: você passou em matemática e física no vestibular para engenharia? Então, está matriculada!”. Mas 15 dias depois, a UDF foi extinta pelo Decreto Federal nº 1.063/39 e todos os seus alunos foram transferidos para o Curso de Matemática da recém criada Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), no Rio de Janeiro. Em 1941, Maria Laura se formou “Bacharel em Matemática” e um ano depois, concluiu a “Licenciatura em Matemática”. A vinda de professores italianos e posteriormente, do matemático português Antônio Monteiro, tornou a FNFi o primeiro centro de pesquisa em Matemática do Rio. Nos seis anos seguintes, orientada por Monteiro, Maria Laura dedicou-se ao seu trabalho “Espaços Projetivos - Reticulado de seus sub-espaços”, para a obtenção da Livre-Docência de Geometria, na época a única possibilidade de obter o grau de Doutor. Em 1949, Maria Laura tornou-se a primeira doutora em ciências matemáticas do Brasil. Ainda em 1949, com os físicos César Lattes e José Leite Lopes, Maria Laura participa da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Em substituição ao professor Oliveira Júnior, passou a ministrar aulas de Geometria no Curso de Engenharia, no recém criado Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Neste mesmo ano viaja para os Estados Unidos, trabalhando por um ano no Departament of Mathematics da Universidade de Chicago. No ano de 1951, participa da criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Reunida com os matemáticos mais influentes do Rio de Janeiro e junto ao professor Cândido Lima da Silva Dias, então professor da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 1952, funda o mais importante instituto de matemática do Brasil e um dos mais importantes do mundo, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), onde exerce a função de secretária no período de 1952-1956. Em março de 1952, é diplomada na Academia Brasileira de Ciências, sendo a primeira brasileira a entrar para a ABC. Em 1956, casou-se com o renomado físico e professor José Leite Lopes. Entre 1958-60, participou das discussões que resultaram no projeto de criação da Universidade de Brasília — liderado por Darcy Ribeiro. No ano de 1961, foi nomeada professora da Educação Técnico Profissional do Estado da Guanabara. No ano de 1967, Maria Laura assume o cargo de Chefe do Departamento de Matemática da FNFi, até se tornar Instituto de Matemática da UFRJ. No ano de 1969, com o professor Leite Lopes, é exilada, banida do país pelo Ato Institucional nº 5 (A.I.5), partindo primeiro para Pittsburgh, EUA, e em seguida para Estrasburgo, na França, onde participou de um programa de reciclagem de professores do Institut de Recherche sur l'Enseignement des Mathémathique. A partir daí, Maria Laura vai se tornando uma das mais importantes pesquisadoras em Educação Matemática no Brasil e no mundo. Em 1974, ao retornar ao país, passou a atuar ativamente como defensora de causas inovadoras ligadas à formação de professores e ao ensino e à aprendizagem da Matemática em todos os níveis de escolaridade, assumindo papel de liderança na área de Educação Matemática no Brasil, que manteve até os últimos dias da sua vida. Não podendo assumir o seu papel na Universidade, ela promoveu cursos para formação de professores na Escola Israelita Brasileira Eliezer Eistenbarg e no Centro Educacional de Niterói. No ano de 1976, participou da fundação “Grupo de Ensino e Pesquisa em Educação Matemática - GEPEM”, que foi presidido, por ela, durante os oito anos iniciais. Sob o convênio do GEPEM com o MEC/INEP, coordenou a primeira pesquisa em Educação Matemática no Brasil, “Projeto Binômio Professor-Aluno na Iniciação à Educação Matemática - uma pesquisa experimental”. Com a assinatura da Lei da Anistia em 1979, Maria Laura reassume sua cadeira no IM/UFRJ e, em 1981, com um grupo de professores, desenvolve a pesquisa “Avaliação dos Alunos no final da 4ª série Primária das Escolas Públicas” da cidade do Rio de Janeiro. No final do ano de 1982, respondendo a uma chamada do Ministério da Educação para o Programa de Integração da Universidade com o Ensino do 1º Grau, este grupo de professores do IM/UFRJ, sob a coordenação da Maria Laura, apresenta o “Projeto de Formação Para Professores de 1º, 2º e 3º Graus”. Em 1983, juntamente com as equipes da Biologia, Física, Geografia, Matemática e Química, implantam o “Projeto Fundão”, que veio a integrar o Subprograma de Educação para Ciência, quando da criação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Pelo PF/IM-UFRJ elaborou e desenvolveu a pesquisa para o INEP, “Formação dos Formadores de Professores”, cujo objetivo era detectar as razões das deficiências do Curso de Formação de Professores. No ano de 1980, junto à diretoria do GEPEM, Maria Laura estabelece um convênio com a Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, e forma o primeiro “Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com Especialização em Educação Matemática” do Brasil, tornando-se o embrião do primeiro “Curso de Mestrado em Educação Matemática” do Estado do Rio de Janeiro e segundo do Brasil. Com a equipe do PF/IM–UFRJ, no ano de 1993, formam no IM/UFRJ o “Curso de Especialização em Ensino de Matemática” e o“Curso Noturno de Licenciatura em Matemática” e, em 2006, o “Curso de Mestrado em Ensino de Matemática”. No sentido de consolidar a Educação Matemática no Brasil, em 27 de janeiro de 1988, a professora Maria Laura e um grupo de pesquisadores, professores e colaboradores, fundaram a “Sociedade Brasileira de Educação Matemática” (SBEM), e em seguida a regional SBEM/RJ. Após 65 anos de vida acadêmica na UFRJ, a professora Maria Laura é agraciada, em 1º de julho de 1996, com o título de “Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro” e no ano de 2001, é condecorada com o título de “Professora Honorária da SBEM”. Maria Laura considerava que os avanços em ciência e tecnologia dependiam da formação de uma base sólida e criativa de ensino de matemática e ciências, com professores bem preparados. -
Djalma Guimarães
Djalma Guimarães nasceu em Santa Luzia, Minas Gerais, no dia 5 de novembro de 1894, filho de Luiz Caetano da Silva Guimarães e Evangelina Teixeira Guimarães, neto do conselheiro João Caetano da Silva Guimarães (avô paterno) e do senador Manuel Teixeira da Costa (avô materno). Iniciou seus estudos em sua terra natal, transferindo-se para a admissão ao primeiro ano do curso ginasial do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Posteriormente, em 1913,ingressou na Escola de Minas de Ouro Preto em que se graduou como engenheiro de minas e civil no ano de 1919 e obteve como prêmio uma viagem à Europa. Entretanto, abriu mão dessa distinção para iniciar suas atividades como engenheiro civil, na Estrada de Ferro Teresópolis. Djalma casou-se com Rute Teixeira, com quem teve quatro filhos (Luiz Guimarães (14/03/1922), Eva Guimarães (18/08/1923), Luciano Teixeira Guimarães (07/09/1924) e João Pandiá Guimarães (07/08/1926)). Em 1920, Djalma ingressou no Serviço Geológico, dedicando-se inicialmente à química. Mas, a partir de 1923, passou a exercer interinamente o cargo de petrógrafo. A petrologia foi sempre seu trabalho preferido e sua principal ferramenta de trabalho era o microscópio, com o qual descrevia as seções delgadas das rochas e inter-relaciona as fases minerais numa petrografia minuciosa, com as quais subsidiam suas interpretações pretrogenéticas. Por meio dessa técnica, propôs a Teoria da Enstenização, que postulava a mudança de estrutura do piroxênio de monoclínica para ortorrômbica. Em 1924, seu trabalho resultou na descrição de um novo mineral: arrojadita (fosfato de ferro, manganês e cálcio, encontrado na Serra Branca, Pucuí, Paraíba). Nesse mesmo ano, apresentou seu trabalho científico sobre a origem dos depósitos carboníferos no sul do Brasil, no 1o Congresso Brasileiro do Carvão, o que contribuiu para a Petrografia do Brasil. Em 1926, descreveu o mineral escwege (columbato-tantalato-titanato-ferato de ítrio, ébrio, urânio e tório, encontrado em fragmentos detrícos no Alto do Rio Doce). Em 1927, descreveu junto com Luciano Jacques de Morais, o meteorito da Serra de Magé em Pernambuco. Em 1929, iniciou o estudo das rochas graníticas, coroando-o com uma nova concepção da gênese delas. O resumo dessas ideias foi publicado em 1938, na Alemanha, sob o título “O Problema da Granitização”. Essa publicação, por ter sido lançada ao mesmo tempo em que outras com ideias divergentes, reabriu a polêmica sobre a gênese das rochas, o que o fez conhecido como um dos pais da Teoria da Granitização. A geoquímica foi outro campo em que Djalma Guimarães se destacou como pioneiro no Brasil. Em 1932, ele organizou o Serviço Geológico do Estado de Minas Gerais (denominado posteriormente Serviço da Produção Mineral). No ano seguinte, foi nomeado assistente chefe do Instituto Geológico e Mineralógico do Brasil. Na direção do Instituto de Tecnologia Industrial de Minas Gerais criou um laboratório de análises espectroquímicas. Publicou trabalhos sobre metalogênese com base na geoquímica. O primeiro foi divulgado apenas no exterior, sob o título Mineral deposits of magmatic origin, cujo resumo foi publicado na revista Economic Geology. Sua teoria, de acordo com o conceito de província metalogenética, foi aceita e incluída na disciplina Geologia Econômica de vários cursos de geologia dos Estados Unidos. Em 1935, foi convidado a lecionar pela Fundação da Escola de Ciências das Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro (atual UFRJ) e a organizar o setor de geologia. Em 1938, Djalma Guimarães afastou-se voluntariamente do Departamento Nacional da Produção Mineral e regressou para Belo Horizonte, ocasião em que foi nomeado diretor da Companhia de Mineração Juca Vieira – Mina de ouro, em Caeté (MG), atuou como engenheiro de minas e geólogo, consultor e diretor técnico até 1945. No ano de 1938, publicou Metalogênese e a Teoria Migratória dos Elementos e Das Problem Granitbildung na revista Chermie der Erde. Como cientista, Djalma Guimarães atuou em quase todas as áreas das geociências, participando da criação do Instituto de Pesquisas Radioativas e dirigindo os mais importantes órgãos nacionais e estaduais na área das Geociências. Em 1941, foi homenageado por companheiros de pesquisa, Caio Pandiá Guimarães e Octávio Barbosa, que deram o nome de “djalmita” a um novo mineral encontrado em Brejaúba (MG). Nesse ano, foi paraninfo da turma de formandos em Engenharia Civil da Escola de Minas - Ouro Preto. Em 1944, juntamente com Francisco Magalhães Gomes, Eduardo S. M. Castro e Domício Figueiredo Murta, Djalma Guimarães foi designado, pelo governador Juscelino Kubitschek, para criação do Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), hoje Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Com a criação do ITI, Djalma assumiu a direção do setor de geologia e geoquímica. Posteriormente, foi designado chefe do setor de geologia e minas do ITI. Em 1945, tornou-se sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG). No ano seguinte, foi eleito presidente, sendo o primeiro do SBG. Em 1946, Djalma publicou na revista norte-americana Economic Geology,o artigo Mineral Depositis of Magmatic Origin (síntese de suas concepções metalogênicas). Em 1948, ele descreveu dois novos minerais: Giannettita (cloro-silicato-zirconato de cálcio, sódio e manganês) e Pennaíta (zircono-titanífero), ambos encontrados em Poços de Caldas. Em 1950, Djalma fez a descoberta da mina de urânio em Volta Grande, nas proximidades de São João Del Rei (MG), uma das maiores minas do mundo. No mesmo ano, desvinculou-se do departamento de geologia da UDF e participou do editorial do livro Geochimica et Cosmochimica ACTA. O nome de Djalma Guimarães consta da primeira ata do CNPq, em 1951 foi nomeado Conselheiro da Academia Brasileira de Ciências, onde ficou até 1954. Nesse mesmo ano, assumiu o cargo de diretor de pesquisa geológica da Divisão Técnico - Científica do CNPq. Também foi designado pelo governador do Estado de MG, membro da comissão técnica responsável pela criação do centro atômico do Estado. Vários outros temas da geologia foram abordados por Djalma Guimarães, mas os que lhe conferiram grande importância, com projeção nacional e internacional, foram as suas descobertas das jazidas de apatita (fosfato) e de pirocloro (nióbio) em Araxá (MG), que fizeram do Brasil o maior produtor de nióbio do mundo. Em 1955, recebeu o prêmio concedido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais em agradecimento e reconhecimento pelos seus trabalhos e a doação da patente de um novo processo de produção de fertilizante a partir da apatita da mina de Araxá. Em 1958, Djalma descreveu o meteorito que foi recolhido no córrego do Areado, Patos de Minas. Em 1963, Djalma Guimarães aposentou-se após 30 anos de serviço público. Em 1967, pediu exoneração do cargo de professor da UFMG para assumir o cargo de Consultor Científico do Departamento Nacional da Produção Mineral. Em 1971, foi nomeado pelo Ministério das Minas e Energia integrante da comissão responsável por relacionar trabalhos, relatórios técnicos e mapas. Recebeu todos os prêmios conferidos a seus pares em sua época: Prêmio José Giorgi da USP (1958-1959); medalhas de ouro Orvile Derby e José Bonifácio Andrada e Silva e Medalha da Inconfidência. Foi distinguido como Professor Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e pela Universidade de Lisboa. Recebeu de Madame Curie o título de Príncipe dos Geólogos. No dia 10 de outubro de 1973, Djama Guimarães faleceu. No ano seguinte, foi homenageado com a criação do Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, da Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte, atualmente localizado no Edifício Rainha da Sucata, na Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Em 2006, 33 anos após o seu falecimento, foi homenageado com a “guimarãesita”, uma nova espécie mineral. Djalma Guimarães foi considerado o pioneiro em diversos campos das geociências no Brasil e um dos mais importantes engenheiros e geocientistas do Brasil sendo considerado o pioneiro em diversos campos das geociências no Brasil. Ele influenciou o ensino da geologia em Minas Gerais e no país. Atuou como professor em três universidades brasileiras e participou da Campanha Nacional de Cursos de Geologia (CAGE), criada pelo Ministério da Educação para estabelecer os primeiros cursos autônomos dessa disciplina no Brasil. De 1948 a 1967, lecionou na UFMG e na Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em quatro dos cursos oferecidos pela Universidade, além disso, é autor de mais de 240 publicações nos diferentes campos da geologia. -
Louis Ferdinand Cruls
Louis Ferdinand Cruls nasceu em Diest, na Bélgica, em 21 de janeiro de 1848, filho do engenheiro-civil Philippe Augustin Guillaume Cruls e Anne Elizabeth Jordens. De 1863 a 1868, frequentou a Escola de Engenharia Civil da Universidade de Gent e, em 1872, foi admitido como aspirante à engenharia militar. Após 2 anos de serviços prestados ao exército de seu país, Cruls pediu demissão e decidiu visitar o Brasil, apenas por curiosidade, mas influenciado pelos brasileiros que, na época, estudavam na Bélgica. Na viagem ao Brasil, fez amizade com Joaquim Nabuco, que iniciava sua carreira diplomática e regressava de uma viagem pela Europa. A permanência de Luiz Cruls no país deveu-se às amizades que fez durante a viagem e ao chegar ao Brasil com o próprio Joaquim Nabuco e com o imperador D. Pedro II. Em conversa com Nabuco, Cruls explicou-lhe que se dirigia ao Brasil por influência de um dos seus compatriotas, o engenheiro Caetano Furquim de Almeida, o qual conhecera em Gand, no tempo em que ambos frequentavam a Escola de Engenharia Civil. Nabuco ofereceu-se para colaborar, afirmando que tudo faria pela permanência de Cruls no Brasil, pois existia um vasto campo aberto à iniciativa de todas as espécies, principalmente as voltadas à geodésia e astronomia, algumas das ciências preferidas do Imperador. Contudo, devido a um desencontro de datas, Luiz Cruls não conseguiu se encontrar com Furquim, que estava no Rio Grande do Sul, ocupando-se como engenheiro da construção de uma estrada de ferro. Foi um contratempo com o qual não contava. Devido à intervenção e ajuda de Joaquim Nabuco, Luiz Cruls foi acolhido por várias famílias cariocas e recebido pelo próprio imperador D. Pedro II, com a tão natural amabilidade que era oferecida aos convidados das recepções no Paço de São Cristóvão. Mais tarde, Joaquim Nabuco apresentou Cruls ao engenheiro Buarque de Macedo, detentor do cargo de Diretor-Geral no Ministério dos Trabalhos Públicos. Em 1874, Buarque de Macedo nomeou o engenheiro civil Luiz Cruls membro da Comissão da Carta Geral do Império e Levantamento do Município Neutro. Desta forma, teve início a carreira de Cruls no Brasil. Em abril de 1875, uma pesquisa com fins astronômicos e geodésicos, publicada em Gand, deu a Cruls os títulos necessários para que se tornasse membro do então Imperial Observatório do Rio de Janeiro, no morro do Castelo. Em fevereiro de 1876, Cruls foi admitido como astrônomo adjunto. Em 1878, ocasião do trânsito de Mercúrio pelo disco solar, Cruls apresentou à Academia de Ciências de Paris um artigo sobre os diâmetros do Sol e de Mercúrio. Publicou também uma memória sobre as manchas e a duração do movimento de rotação de Marte, trabalho que o imortalizou, o qual permitiu que uma das crateras da Lua e outra de Marte fossem batizadas com o nome dele . Cruls dedicava-se a estudar sobre cometas, eclipses, asteroides e estrelas duplas. Em 1881, com o afastamento de Emmanuel Liais da direção do Observatório, Luiz Cruls foi nomeado interinamente para substituí-lo. Em fevereiro do mesmo ano, foi naturalizado brasileiro e teve seu nome aportuguesado para Luiz Cruls. Em março, foi nomeado primeiro astrônomo do Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Em 1884, o Governo Imperial efetivou Cruls como diretor e quatro anos depois, ele foi nomeado lente catedrático de astronomia e geodésia da Escola Militar. Cruls residiu durante anos no velho prédio do observatório no Morro do Castelo. Era comum o explorador ser interrompido durante as suas pesquisas por uma visita inesperada, mas sempre muito bem-recebida: a do Imperador, que subia até a cúpula e muito humildemente batia à porta, identificando-se: “É o Pedro”. Não era na realidade, o Imperador, mas o astrônomo amador que procurava o explorador, como o fez em diversas ocasiões, ora para observar um cometa, um eclipse lunar ou até para discutir alguma nova descoberta. À frente do Observatório, Cruls realizou inúmeras tarefas, entre elas: a determinação e o fornecimento da hora certa para toda a cidade; a participação em comissões de limites (Argentina e Bolívia); a participação na comissão Exploradora do Planalto Central; a determinação de posições geográficas das cidades por onde passavam os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II; a análise da qualidade do ar da cidade do Rio de Janeiro; a obtenção e publicação de dados meteorológicos; a criação de uma rede de estações meteorológicas pelo país; a coleta e análise de dados magnéticos; a guarda e manutenção de instrumentos geodésicos. O ano de 1882, foi de grande importância para a astronomia no Brasil, assim como para a ciência básica no século XIX. Nesta data, assistiu-se ao primeiro grande debate, no Parlamento brasileiro, sobre a importância da institucionalização da ciência como um dos objetivos políticos de um governo. Ao mesmo tempo, no Imperial Observatório do Rio de Janeiro, Cruls efetuava a segunda descoberta realizada no Brasil, de um cometa. No dia 25 de setembro, às 4 horas da manhã – relata Cruls à Academia de Ciências de Paris –, o céu no horizonte se mostrava límpido e foi possível assistir a um espetáculo de uma beleza para além de toda a expressão. A aparição da cauda do cometa acima do horizonte lembrava uma coluna de fogo refletida nas águas da baía de Guanabara. Essas observações tiveram grande repercussão internacional e o cometa foi denominado ‘cometa Cruls’. Em consequência disso, o Prêmio Valz, da Academia de Ciências de Paris, referente ao ano de 1883, foi dividido entre Cruls e o astrônomo inglês William Huggins. Os anos se passaram e Luiz Cruls viu o império se tornar República e a Constituição de 1891 ser promulgada. Naquela época, o Rio de Janeiro era a capital do país, mas já circulava a ideia de retirar o centro do poder do litoral. José Bonifácio, tutor de D. Pedro II e conhecido como “Patriarca da Independência”, era um dos defensores dessa tese. O governo queria ocupar o centro do país, cuja população era de 0,2 habitante por quilômetro quadrado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, foi apenas no governo de Floriano Peixoto, em 1892, que o Estado brasileiro se movimentou para dar início a essa mudança, designando Luiz Cruls para explorar o Planalto Central do Brasil e escolher o local exato onde seria erguida a nova capital do país. Cruls chefiou uma equipe de 21 cientistas os quais estudaram a geomorfologia, as condições climáticas e higiênicas, a natureza do terreno, a qualidade e quantidade de água etc. da área A viagem ficou conhecida como “Missão Cruls”. Foram nove meses de viagem, 5.132 quilômetros percorridos e 9.640 toneladas de bagagem. Em 1901, Cruls foi novamente designado para chefiar uma missão: a da Comissão de Limites entre o Brasil e Bolívia, encarregada de explorar as nascentes do rio Javari, que fica situado entre o Brasil, o Peru e a Bolívia. Contudo, a expedição foi tão trágica porque diversos membros da equipe faleceram na região amazônica. O próprio Luiz Cruls por pouco não morreu durante o exercício da missão que lhe havia sido atribuída. Apesar de seu estado de fraqueza e dos protestos de seus companheiros, que insistiam para que ele regressasse ao Rio de Janeiro, ele respondia que, vivo ou morto, chegaria aonde já se encontrava a comissão peruana, pois queria que o nome do Brasil fosse honrado pela comissão, da qual ele era o chefe e, por isso, ele permaneceria nela até o fim. Devido a esse espírito de patriotismo e abnegação, ao chegar ao fim da jornada, Luiz Cruls teve que ser carregado em maca em consequência do agravamento da condição de saúde Apesar disso, ele apenas iniciou o retorno após ter concluído a tarefa a que se propunha , que era a de determinar onde se encontrava a nascente do rio. As doenças contraídas durante os meses em que permaneceu naquela região levaram-no, sete anos depois, à morte. Após o seu retorno, Cruls esteve sempre muito doente. Pouco se conhece dos anos finais de sua vida. As únicas informações que há são aquelas transmitidas por Henrique Morize, seu sucessor na direção do Observatório Astronômico, e publicadas em seu livro sobre os cem anos daquela instituição. Morize relata que, entre 1902, quando Cruls reassumiu a direção do Observatório, em 1908, o explorador teve que solicitar muitas licenças de saúde. No entanto, não houve resultados. A partir de 1902, Cruls não mais pôde desempenhar plenamente as suas atividades de pesquisa e administração. Em uma última tentativa para curar-se, Cruls tirou um ano de licença para tratar da saúde e, em companhia da família, seguiu para Paris à procura de um tratamento milagroso para a malária. Como autêntico divulgador científico, além de escrever artigos para a imprensa, criou a Revista do Observatório em 1886, primeiro periódico exclusivamente dedicado às ciências editado no Brasil. Nela Cruls publicou os mapas celestes mensais que seriam reunidos no primeiro Atlas Celeste (1896). Luiz Cruls foi pesquisador e explorador completo. Além das pesquisas, sempre se dedicou à divulgação científica dentro do espírito de que devemos, sempre, justificar o que fazemos, em respeito à pátria que nos financia. Cruls recebeu as principais comendas imperiais e foi membro correspondente da Academia de Ciência de Paris, do Instituto de França e do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Cruls foi um pesquisador produtivo com mais de 50 artigos, livros e monografias publicados. No domínio da astronomia, ele foi autor de mais de 35 trabalhos, que na grande maioria, trazia como objeto as descrições das órbitas de cometas e meteoros. O amor de Cruls pelo Brasil era tão grande que aqui viveu, casou-se e teve seis filhos e quando do seu retorno , à Europa, na busca da cura de suas doenças, permanecia no convés do navio a observar o céu todas as noites. Na noite em que contemplou o Cruzeiro do Sul desaparecer no horizonte oceânico, ao voltar para a cabine, disse para sua esposa: “Tudo acabou!” Era a premonição de que não mais voltaria ao Brasil. De fato, em 21 de junho de 1908, Luiz Cruls faleceu em sua residência em Paris, de onde veio embalsamado para ser sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. -
Adolpho Lutz
Gustav Lutz (comerciante) e sua esposa Mathilde Oberteuffer, oriundos de famílias tradicionais de Berna (Suíça) - desde o século XVI vinculadas à corporação de ofício dos carpinteiros, com direito de votar e portar armas; seu pai Friedrich Bernard Jacob Lutz (1785-1861), avô de Lutz, destacou-se na medicina suíça, tendo chefiado o serviço médico do exército da Confederação Helvética durante cerca de 20 anos - a família Lutz emigrou para o Brasil em 1849. Fixaram-se no bairro de Botafogo (Rio de Janeiro), onde Mathilde fundou o Colégio Suíço-Brasileiro (sem ligação com a atual Escola Suíço-Brasileira). Seus filhos foram Adolfo Lutz, Willian Robert Lutz; Helena Lutz, Luce e Maria Elisabeth Lutz Warnstorff. Em 1857, decidiram retornar a Berna, talvez motivados pela insalubridade do Rio de Janeiro, em consequência dos surtos de febre amarela e epidemia de cólera (1855). O carioca Adolpho tinha dois anos quando foi conhecer a terra onde nasceram seus pais. Adolfo estudou medicina na Universidade de Berna (Suíça), graduando-se em 1879. Na sequência, estudou técnicas de medicina experimental em vários centros médicos de Londres [contemporâneo de Joseph Lister]; Lípsia; Viena; Praga e Paris, cidade onde estudou com Louis Pasteur. Por opção, retornou ao Brasil aos 26 anos em 1881 quando completou os estudos, para atuar em saúde pública, instalando-se em Limeira - SP, por seis anos. Como clínico atendia à população carente, numa época de grande infestação de febres amarela e tifóide, além de cólera, malária e tuberculose. Casou-se com a inglesa Amy Marie Gertrude Fowler, gerando os filhos: Bertha Lutz (brasileira), Guálter Adolfo Lutz (brasileiro) e Laura Bertha Lutz (suiça). Viajava frequentemente à Europa para acompanhar as novidades dos centros científicos, trazendo-as para o Brasil Imperial. Pesquisou em Hamburgo (Alemanha), as causas da lepra, com o professor Paul Gerson Unna, especializando-se em doenças infecciosas e em medicina tropical. Como boa parte da população do Havaí fora dizimada em 1889, por essa enfermidade, Lutz instalou-se em Honolulu entre 1889/90 e 1892/93 até a erradicação da doença. Nessa época, assumiu a direção do Hospital Khalili, na ilha de Molokai. Depois disso, trabalhou na Califórnia- (Estados Unidos), antes de retornar ao Brasil em 1892, a convite do governador de São Paulo para dirigir nos anos de 1893 a 1908, o recém criado Instituto de Bacteriologia, seguindo o modelo de laboratório de saúde pública. do Instituto Pasteur de Paris, Lutz atuava nas atividades laboratoriais e nas “missões científicas”, com trabalhos de campo para a elucidação da epidemiologia de doenças emergentes ou crônicas, como: febre amarela, cólera, peste e das “febres paulistas''. Ocorreu em Santos - SP uma severa epidemia de peste bubônica, onde Adolfo juntou-se a outros dois jovens médicos, Emílio Ribas e Vital Brazil na tentativa de estudar e erradicar a doença. Com o sanitarista Ribas, desenvolveu experimentos pioneiros, tornando-se o primeiro cientista latino-americano a estudar e confirmar os mecanismos de transmissão vetorial da febre amarela pelo mosquito Aedes aegypti. Sendo amigo de Vital Brazil, apoiou as pesquisas pioneiras sobre antídotos para picadas de cobra, cujo marco foi a criação do Instituto Butantan, em São Paulo. Protagonizou, também, medidas de saúde pública relativas ao controle dos surtos de febre amarela em São Paulo, com o uso de produtos químicos: pó de enxofre e fumaça de pó de piretro e para combater as larvas, usava querosene e essência de terebintina, nas águas paradas. Adolfo foi o responsável pela observação e identificação, pela primeira vez no Brasil em 1908, da Blastomicose Sul-Americana, também conhecida como Paracoccidioidomicose, Blastomicose brasileira ou moléstia de Lutz, que acomete o pulmão, originando manifestações clínicas de lesões da mucosa oral, faringe e laringe, principalmente na língua as quais podem simular carcinoma. Dedicava-se com afinco à saúde pública desenvolvendo pesquisas sobre várias epidemias como a cólera, peste bubônica, febre tifóide, malária, ancilostomíase, esquistossomose e leishmaniose, em diversas regiões brasileiras, fez expedições pela região do rio São Francisco e ao Nordeste, e pelas florestas serranas do estado de São Paulo. Reconhecido pela forma de contextualizar seus escritos com dados históricos “Dou em seguida uma relação das observações e dos estudos que tive ocasião de fazer no estado do Pará… Principiarei o meu estudo com alguns dados históricos e geográficos … em Marajó, que é hoje considerada como foco principal da peste das cadeiras, essa epizootia não tem reinado sempre. Sabe-se que antes de 1828, os cavalos em toda a ilha existiam em número enorme, o que claramente indica não ter existido a peste naquela ocasião…” Impressionava o estilo de narrativa do texto, próximo ao literário, conforme registro da viagem ao vale do rio São Francisco: “Quando se iniciou nossa viagem (este percurso ele fez com o colega Astrogildo Machado), a estação da seca já estava bem estabelecida. Não houve chuvas durante todo o tempo da excursão, apenas uma ou duas exceções. Em conseqüência disso as margens do rio tornaram-se cada vez mais áridas, até que, chegados a Juazeiro, encontramos os arrabaldes com aspecto que lembrava o deserto, por estar toda a vegetação queimada pelo sol e muitas árvores sem folhas.” Detalhou a fauna local assim “…Na mesma proporção diminuiu a vida dos insetos e outros pequenos animais. Disso ressentiram-se as coleções, porque as zonas percorridas, em estação mais favorável, sem dúvida, teriam sido mais ricas, posto que se trate de região relativamente pobre.” Em decorrência de uma polêmica na cidade de São Paulo, Adolfo Lutz afirmava que a tuberculose bovina, através do leite da vaca, poderia ser transmitida aos humanos, sendo ridicularizado por médicos que apoiavam os interesses comerciais dos pecuaristas. Tinha tanta razão que a pasteurização do leite é requisito ao consumo humano - este fato ocasionou a aposentadoria em 1908 , aos(53 anos e mudança para o Rio de janeiro, a convite de Oswaldo Cruz, para assumir um setorial do Instituto Soroterápico Federal de Manguinhos, posteriormente denominado Instituto Oswaldo Cruz, onde permaneceu pesquisando sobre entomologia médica, helmintologia e zoologia aplicadas à medicina tropical, por 32 anos até sua morte, ocorrida em 06/11/1940, em decorrência de uma pneumonia. Neste mesmo ano, em reconhecimento a ele, renomearam o Instituto Bacteriológico de São Paulo, para Instituto Adolpho Lutz. Ainda, foi pioneiro na Entomologia Médica e nas propriedades terapêuticas de plantas brasileiras. Como zoologista descreveu várias novas espécies de anfíbios e insetos, como o mosquito Anopheles lutzii. Adolfo Lutz deixou registros de diversos trabalhos sobre entomologia médica, protozoologia e micologia, sendo muitos publicizados post mortem. Ele era de uma compaixão inesgotável diante do sofrimento humano. Sua morte influenciou profundamente Bertha Lutz (1894-1976), zoóloga e pioneira na luta pelo direito de voto das brasileiras. “Somente a natureza e os interesses que tínhamos em comum faziam-me viver”, escreveu ela, que se dedicou a divulgar o notável legado científico do pai. -
Álvaro Alberto
O Almirante Álvaro Alberto da Motta Silva foi pioneiro nas pesquisas brasileiras sobre energia nuclear e um dos autores do projeto de criação do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Físico e engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, incluiu o estudo da física nuclear no currículo da Escola Naval. Álvaro Alberto foi o representante do Brasil na Comissão de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas e lutou contra as pressões americanas para alcançar o controle de propriedade das reservas mundiais de tório e urânio. Em meados de 1946, Álvaro Alberto e os representantes russos se opuseram às propostas no Plano Baruch. O almirante qualificou a política dos EUA de "tentativa de desapropriação". Nasceu em 22 de abril de 1889, no Rio de Janeiro. Foi membro da Academia Brasileira de Ciências e do CNPq, ao lado de César Lattes, Euvaldo Lodi e Marcelo Damy. Quando presidiu o CNPq, participou ativamente da criação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, do Instituto de Pesquisas da Amazônia, do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação e da Comissão Nacional de Energia Atômica.Nasceu em 22 de abril de 1889 e faleceu em 31/01/1976. -
Anísio Teixeira
Anísio Spínola Teixeira foi um dos maiores educadores brasileiros, graças ao pioneirismo na implantação de modelos educacionais como a Escola Parque, saiu em defesa da escola pública e implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Na década de 60, participou, juntamente com Darcy Ribeiro, da criação da Universidade de Brasília, vindo a ser seu segundo reitor. Escreveu vários livros, nos quais defendeu a renovação do sistema educacional brasileiro em bases democráticas, atendendo à formação das classes menos favorecidas. Acreditava que a educação é a base de uma sociedade e que só por ela é possível chegar à justiça social e à igualdade de direitos. Nasceu em Caetité, sertão da Bahia, em 12 de julho de 1900. Estudou Direito no Rio de Janeiro e no Teachers College da Universidade de Columbia. Foi Inspetor Geral de Ensino da Bahia, Diretor-Geral da Instrução Pública e Secretário de Educação e Cultura do Distrito Federal, criando a Universidade do Distrito Federal (UDF); foi consultor geral da UNESCO e Secretário de Educação e Saúde da Bahia. Assumiu a Secretaria Geral da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a direção do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), quando criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). Faleceu no Rio de Janeiro, em 11 de março de 1971. -
Antônio Cândido
Educador por excelência, Antônio Cândido, no decorrer da vida universitária, pautou-se pela busca da superação das divisões acadêmicas e pela defesa da interdisciplinaridade. Sua carreira começou como professor assistente de sociologia da Universidade de São Paulo. Sua tese de doutorado "Os Parceiros do Rio Bonito, ainda hoje é leitura obrigatória. O tema do estudo é o universo cultural do "caipira" brasileiro, sob as perspectivas antropológica e sociológica. Simultaneamente à atuação como professor e pesquisador da área de sociologia, Antônio Cândido de Mello e Souza também se dedicava a sua vocação literária. Desde a década de 40, escrevia crítica literária para jornais e revistas Mas, a migração da sociologia para a literatura dar-se-á de forma definitiva nas primeiras experiências como professor de literatura. Na década de 60, foi convidado a ensinar teoria geral da literatura na Faculdade de Assis e, em 1961, inaugura, na USP, uma disciplina chamada teoria literária e literatura comparada. De sua paixão pela área, surge outro livro clássico "Formação da Literatura Brasileira". Nasceu em 24 de julho de 1918, no Rio de Janeiro, hoje sua reputação é de um pesquisador de base humanista. Faleceu em 12 de maio de 2017, em São Paulo.